O curitibano consome remédios por conta própria acima da média nacional, o que representa riscos de desenvolver doenças ou mesmo de intoxicação. Segundo um estudo do Instituto de Pesquisa e Pós–Graduação do Mercado Farmacêutico (ICTQ), publicado no ano passado, 73% dos curitibanos admitem que consomem medicamentos sem prescrição médica ou sem a orientação de um farmacêutico. A média da capital paranaense é superior à nacional, de 72%. 

O risco dessa prática fica clara quando se analisam os números do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sintox), do Instituto Fiocruz: entre 2008 e 2012, a automedicação ou o uso indevido de medicamentos intoxicou um total de 138.376 pessoas em todo o Brasil, média de 27 mil por ano. No mesmo período, foram registradas 365 mortes causadas por medicamentos, o que resulta em uma média de 73 por ano.

A base do medicamento é a qualidade de vida. Quando leva a uma intoxicação ou a uma dor de estômago, por exemplo, há uma redução na qualidade de vida, diz João Coelho Ribas, coordenador dos cursos de Pós-Graduação, MBA em Auditoria em Saúde e Gestão Hospitalar do Centro Universitário Uninter. Ribas coordena um evento que discute o tema hoje em Curitiba.

Segundo Ribas, os tipos de medicamentos que são mais consumidos sem receita ou sem orientação são analgésicos, antiinflamatórios, antialérgicos, remédios para o estômago e antibióticos. O número de antibióticos consumidos por conta própria vem caindo desde 2011, quando uma portaria do Ministério da Saúde passou a exigir a retenção da receita na farmácia. Há vendas sem a retenção da receita, mas as sobras contam mais do que isso. Se alguém tem 20 comprimidos, toma dez e depois toma as sobras, ou empresta do vizinho, já conta como automedicação, diz João Ribas.

Para o coordenador, a falta de tempo para ir ao médico ou a falta de dinheiro contribuem para a situação. O que entra muito nessa estatística é a falta de disponibilidade para ir ao médico. Ou a pessoa não tem condições de pagar um médico particular, sei vai a uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) tem que esperar bastante. Acaba tomando o que está disponível, avalia.

Os maiores riscos dessa prática são tomar remédios em doses erradas ou misturá-los com outros medicamentos. O maior risco é não saber quando tomar, como tomar e quando pode misturar com outro medicamento, diz João Coelho Ribas. Pode acontecer de a pessoa tomar uma dose maior que a indicada. Nesse caso, mesmo fármacos seguros podem levar a problemas. Isso pode levar a uma intoxicação. Às vezes a pessoa mistura algum medicamento com um remédio para a dor de cabeça, por exemplo, e isso pode gerar uma intoxicação.

A recomendação é para as pessoas só consumirem medicamentos prescritos por um médico ou com orientação de farmacêutico, em casos mais simples. A situação levou o Conselho Regional de Farmácia do Paraná a lançar, em maio deste ano, uma campanha contra o uso de medicamentos sem orientação. A entidade fez ações de conscientização com o tema Quem entende de medicamento é o Farmacêutico no dia 5 de maio, o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos.

Evento
O Uninter promove nesta quinta-feira (24) em Curitiba o 1º Simpósio Brasileiro de Medicamentos e Qualidade de Vida, no Campus Garcez (Rua Luiz Savier, 103 – Centro). A ideia é debater meios de conscientizar a população sobre os riscos da automedicação e a necessidade de contar com uma prescrição médica ou a orientação de um farmacêutico.

Homens, jovens e pessoas com curso superior consomem mais
O perfil médio do brasileiro que consome medicamentos por conta própria é formado por homens, jovens e pessoas com curso superior. Segundo o Instituto de Pesquisa e Pós–Graduação do Mercado Farmacêutico (ICTQ), 76,7% dos homens ouvidos em um estudo feito em 2014 admitem a prática (o índice é de 75,1% entre as mulheres). A incidência também é maior entre jovens de 16 a 24 anos (90,1%) e cai à medida em que a idade aumenta: a partir de 56 anos, o índice é de 51,8%.
Já entre as pessoas com ensino superior, 84,8% admitem que tomam remédios por contra própria ou por indicação de amigos e familiares. Entre as pessoas com ensimo médio, o índice é de 76,3%; já entre as que possem apenas o ensino fundamental, a porcentarem é de 50,9%. O ICTQ ouviu homens e mulheres, com 16 anos ou mais, que consomem medicamentos. Foram entrevistadas 1.480 pessoas, em doze capitais brasileiras, entre março e abril de 2014.