Um coração humano em repouso costuma bater entre 60 e 100 vezes por minuto. É comum, no entanto, sentirmos que nossos batimentos cardíacos estão mais rápidos do que o normal. Isso ocorre quando praticamos exercícios, vivemos experiências estimulantes ou sentimos medo, por exemplo. Nessas situações, o organismo precisa que o coração bata mais rápido para que o sangue bombeado por ele transporte mais oxigênio para o restante do corpo. Esse processo acontece para potencializar a queima dos açúcares e nutrientes que nos dão energia. 

Porém, quando o ritmo dos batimentos está acelerado sem uma necessidade específica, ou batendo fora de ritmo, diz-se que a pessoa apresenta uma arritmia cardíaca. Arritmias são relativamente comuns, podendo se manifestar de várias maneiras, com causas e consequências diferentes, e dentre os tipos menos conhecidos de arritmia está a fibrilação atrial (FA).

Trata-se de uma doença que provoca desorganização na atividade elétrica dos átrios do coração, fazendo com que eles fibrilem, ou seja, se contraiam de uma forma desordenada, o que pode prejudicar o bombeamento de sangue para o restante do corpo e provocar consequências como a formação de coágulos. Estes coágulos podem se deslocar do coração até os rins, pernas ou intestino e, nos casos mais graves, causar um acidente vascular cerebral (AVC) de tipo isquêmico, popularmente conhecido como derrame cerebral.

No paciente com Fibrilação atrial, o sangue, que é bombeado de forma irregular, tem seu fluxo alterado ao sair do coração, o que aumenta o risco de formação de pequenos coágulos nos átrios chamados trombos. Esses trombos podem migrar para as artérias carótidas, responsáveis por levar sangue ao cérebro, e uma vez obstruindo os vasos cerebrais, bloqueiam a circulação de sangue para o órgão, levando ao Acidente Vascular Cerebral do tipo mais comum, que representa cerca de 85% dos casos.

A relação entre as duas doenças é, portanto, estreita e representa um problema de saúde pública de importância crescente, já que portadores de Fibrilação atrial têm cinco vezes mais chance de terem um Acidente Vascular Cerebral em relação a pessoas com batimentos cardíacos regulares.


Sintomas nem sempre são comuns

As causas da fibrilação atrial são, principalmente, doenças cardiovasculares pré-existentes no paciente, sendo a hipertensão arterial a mais comumi, caracterizada por um alto nível de pressão nas artérias, o que leva o coração a fazer um esforço maior do que o necessário para fazer o sangue circular no corpo.

Para algumas pessoas, a fibrilação atrial não apresenta sintomas, mas nas demais, os principais são palpitações, uma sensação de que o coração está disparando e um forte mal-estar, além de tonturas e cansaço. Esses sintomas costumam se manifestar em sua forma aguda, o que faz com que seu diagnóstico seja feito em emergência. José Francisco Kerr Saraiva, Pesquisador e Professor Titular de Cardiologia da PUC Campinas, afirma que Pacientes de fibrilação atrial costumam chegar aos hospitais e postos de saúde assustados, com batimentos cardíacos rápidos e uma sensação de que o coração vai sair pela boca. Geralmente é nessa situação que fazemos o diagnóstico, através de exames de pulso e eletrocardiogramas.

Por ter como principais causas outras doenças cardiovasculares, prevalentes entre a população de maior idade, a fibrilação atrial é mais comum entre idosos, especialmente os que têm mais de 70 anos, e uma série de hábitos representam fatores de risco para o seu surgimento.

De acordo com o Saraiva, Pessoas que já tiveram infarto, fumantes, pessoas que consomem álcool e café em excesso e que têm doenças da tireoide são mais propensas a desenvolver fibrilação atrial, sobretudo quando são idosas. Enquanto estima-se que apenas 2% da população adulta apresente a doença, entre idosos este índice sobe para 8%. Outros hábitos, no entanto, representam fatores de prevenção para a doença. Praticar exercícios regulares, por exemplo, leva a perda de peso e redução da pressão arterial, o que ajuda a prevenir doenças cardiovasculares, que podem levar à fibrilação atrial.


Medicamentos controlam aritmia

Para os que já têm a doença, o tratamento é feito de duas maneiras: de um lado, o controle dos batimentos ou do ritmo cardíaco, e, do outro, a prevenção da formação de coágulos. Essa prevenção é feita a partir de medicamentos anticoagulantes, que impedem a formação de trombos e diminuem as chances de ocorrência de AVCs, cujo risco associado à FA aumenta conforme outras doenças se somam ao quadro do paciente. De acordo com Saraiva, se um paciente de fibrilação atrial em idade avançada também apresentar doenças como diabetes, hipertensão arterial ou coração dilatado, o risco de formar coágulos que levem a um AVC aumenta. É importante ressaltar que a fibrilação atrial é uma arritmia e que, com hábitos saudáveis, controle adequado da pressão arterial, combate ao tabagismo e prática de atividade física regular é possível mantê-la sob controle e diminuir muito as chances de se ter qualquer consequência mais grave.