Não tem escapatória. Um dia todo mundo vai ter algum tipo de relacionamento afetivo no chamado quartinho do refém, um conceito elaborado da minha observação e vivência com a participação de um, digamos, amigo, que fez alguns ajustes nessa composição. Mas, o quê seria essa síndrome? Classifico síndrome, por se tratar de um conjunto de comportamentos em sequência e por alusão à Síndrome de Estocolmo, uma vez que existe uma relação parecida.

Vamos imaginar que duas pessoas começam um relacionamento não muito definido os papéis, mas claramente que existe um interesse, um clima, mas tudo meio etéreo, um jogo. Em muitos casos, a relação evolui para encontros sexuais, passeios, conversas maravilhosas e tudo aquilo que em tese vai formar o vínculo. Entretanto, nem toda ligação se faz de forma saudável, natural e harmônica.

Uma das partes começa a ficar à deriva, porque a outra controla a disponibilidade de sua atenção ou afeto. Aí os perfis começam a se delinear. O refém automaticamente se põe na posição da espera, de reagir conforme a ação do raptor. Se o outro liga, manda mensagem, faz um convite, o refém apenas interage; dependendo do grau e do tempo de cativeiro, até começa a estabelecer uma comunicação a fim de chamar a atenção. E isso toma uma proporção, ganha um terreno perigoso, pois o refém começa a perder sua identidade e age de acordo com as normas, os gostos e a vontade daquele que o colocou ali no quartinho.

O refém passa a se alimentar das gotas de atenção do seu raptor, esse por sua vez, se mantém o mais confortável possível, pois é só acessar o quartinho e está ali aquele ser disposto full time em stand by para suprir suas necessidades. Contudo, há nuances a serem observadas nessa síndrome: recorrência, atitude automática e reconhecimento das posições.

Na Síndrome do Quartinho do Refém, nem sempre assumimos os mesmos papéis. Todos facilmente se reconhecem como o refém, porque supostamente ser a vitima é menos penoso para seu senso ético. Todavia, há um sobressalto ao nos depararmos que em algumas situações agimos como os raptores, mas não há percepção disso. Pois uma vez percebendo esse papel, se cria a imagem de vilania, enquanto o outro sofre no quartinho. Mas a verdade nua e crua, de acordo com minha recente visão, é que esse panorama não é algo vítima e algoz. Por muitas vezes, as funções se ajustam no modo automático.

Creio ser necessário observar se existe repetição de padrões nesse tipo de relacionamento. E se a resposta for afirmativa, perceber o gatilho, aquilo que te leva direto ao caminho do cativeiro ou de ter a chave do quartinho.

Como saber se você está na espiral da Síndrome do Quartinho do Refém? Relacionamentos que não ultrapassam a comunicação virtual, a pessoa que não assume o caso contigo, amores platônicos e a conhecida friendzone.

E como reconhecer o ambiente do quartinho? É aquela zona de acesso restrito, também conhecida como intimidade. Não envolve apenas aspectos físicos, esses às vezes ficam à margem, mas o delicado disso tudo é exatamente os lado inconsciente das personagens. Vou além, se há certo looping nesse tipo de relação, geralmente há troca de posições. Ou seja, se você era o refém no relacionamento anterior, provavelmente será do raptor na próxima e vice-versa.

O fato é que não dá para manter essa relação. É algo unilateral, que retroage com o ego o tempo todo. Pegue a chave e vá embora do quarto ou em posição contrária, abra a porta e deixe o outro sair. Ninguém sai ileso.