Curitiba deverá ganhar um trabalho de remanejo e readequação da arborização da cidade. A ideia, segundo o professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Flávio Zanette, é identificar espécies e locais inadequados e melhorar as técnicas de poda. De acordo com o professor da Pós-Graduação de Produção Vegetal da UFPR, a universidade deverá firmar um convênio com a prefeitura para iniciar o trabalho a partir do ano que vem.
Zanette esteve ontem com o prefeito Rafael Greca durante o plantio de 324 mudas de araucária, 300 delas na Linha Verde Sul, na Regional Pinheirinho, e 24 no bairro Rebouças. A ação faz parte das comemorações pelo Dia da Árvore, hoje, e marca o início da Primavera (que começa amanhã).
Hoje serão plantadas araucárias de cinco espécies na nova coleção vegetal do Jardim Botânico e serão criadas oficialmente quatro novas Reservas Particulares do Patrimônio Natural no Município (unidades de conservação privada). São duas propriedades na Barreirinha, uma no Abranches e uma em Santa Felicidade. Atualmente, há 16 áreas como essa em Curitiba, com 147 mil metros quadrados. Com as novas propriedades, a área vai chegar a 260 mil metros quadrados.
Zanette avalia que, apesar de Curitiba ter uma boa cobertura vegetal (64,5 metros quadrados por pessoa, segundo levantamento de 2012), a cidade tem problemas de poda, espécies inadequadas e locais onde não deveria haver vegetação. Tem muitas árvores adequadas com manejo errado e muitas que não são espécies urbanas, diz. Ele cita como exemplos de árvores inadequadas as tipuanas e os monjoleiros. A cada temporal, bairros como Água Verde e Bacacheri têm várias quedas de tipuanas. Nos monjoleiros, os ramos secam e caem sobre as pessoas.
Além de substituir espécies e orientar as equipes de poda, a ideia é readequar os espaços urbanos. Curitiba está cheia de árvores plantadas no meio da calçada. Antes de surgir o automóvel, as ruas eram feitas para pedestres. Fizeram as calçadas, mas enfiaram as árvores no meio, afirma Zanette. É possível haver um recuo e plantar perto do meio-fio.
Para o professor, o poder público deve se precaver em relação à expansão imobilária. A área mais verde da cidade está para fora. À medida em que a construção avança, o verde diminui. Curitiba precisa de um planejamento para a vegetação conviver com as habitações, avalia. A pressão imobiliária é muito forte nesse sentido. Mas tem condomínios que ensinam como fazer, deixam metade da área intocada e na outra só plantas baixas, como rosas ou cravos.

Legislação que proíbe corte de araucárias é um crime ambiental

O professor Flávio Zanette, do curso de Pós-Graduação em Produção Vegetal da Universidade Federal do Paraná (UFPR), considera um crime ambiental a legislação federal que proíbe o corte das araucárias. A intenção da lei é proteger a árvore símbolo do Paraná, que hoje tem apenas 0,8% de sua cobertura original. Mas, para Zanette, ela acaba tendo um efeito contrário: faz com que as pessoas deixem de plantar o tradicional pinheiro.
Por lei, a árvore só pode ser cortada com autorização do órgão ambiental responsável. Em 2016, por exemplo, uma portaria do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), órgão ligado à Secretaria de Estado do Meio Ambiente, proibiu todos os cortes até o ano passado. A atual legislação brasileira sobre a araucária é um crime ambiental inconsciente. Como é proibido derrubar, ninguém planta, sentencia o professor. Ninguém planta e um dia as já plantadas vão morrer. Uma floresta de araucária não se regenera no meio da floresta, ela precisa de luz para se desenvolver.
Zanette integra a Comissão Deliberativa das Araucárias, criada neste ano pelo prefeito Rafael Greca para avaliar os pedidos de corte na cidade. O prefeito percebeu que estavam derrubando árvores sem explicação. Se eu vejo uma árvore que não está sadia, em um ponto muito alto ou exposta ao vento, autorizo o corte. Não quero expor a vida das pessoas.
Para o especialista, mais importante que proibir o corte é incentivar o plantio. Ele estima que já distribuiu 100 mil mudas de araucáia. Meu foco é plantar, não proibir o corte. Esse ato em que a prefeitura plantou 324 mudas foi a maior ação ambiental que eu vi nesses 32 anos que luto pela araucáia. Porque foi ali se demonstra como deve ser plantado, o tipo de muda e o local adequado.

Curitiba é a sétima mais verde

Curitiba é a sétima capital brasileira com o maior número de árvores ou áreas verdes próximas de residências, indica o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o levantamento, 76,4% das edificações da cidade têm uma ávore próxima. Campo Grande (MS) é a cidade mais verde do país: o índice é de 96,4%. Em seguida, aparecem Goiânia (GO), com 89,5%; Porto Alegre (RS), com 82,9%; Belo Horizonte (MG), com 83%; Palmas (TO), com 80,1%; e João Pessoa (PB); com 78,6%.
Um dado que chama a atenção é que capitais que ficam na região amazônica têm a menor cobertura vegetal. Manaus (AM) tem apenas 25,1% de suas edificações perto da vegetação; Belém (PA) tem 22,4%, e Rio Branco (AC), apenas 13,9%.
O Paraná tem dez cidades entre as mais arborizadas do país (em que 100% das residências, segundo o Censo 2010, têm ávores por perto): Arapuã, Diamante do Norte, Guaporema, Indianópolis, Lobato, Miraselva, Nova Aliança do Ivaí, Porto Rico, Santa Inês e São Pedro do Paraná.
Entre as cidades de grande porte do Estado, a mais arborizada é Maringá (97,5%), seguida por Londrina (96,5%), Foz do Iguaçu (87,2%) e Cascavel (83,2%). Ponta Grossa tem apenas 57,2% das edificações perto de áeas verdes.
De acordo com um levantamento concluído em dezembro de 2011 pela prefeitura de Curitiba, a cidade tem 64,5 metros quadrados de áea verde por habitante (o índice anterior, de 2000, era de 51,5 metros quadrados).
A Organização das Nações Unidas (ONU) recomenda que as cidades tenham, no mínimo, 18 metros quadrados de áea verde por habitante. Em dez anos, entre 2001 e 2011, as áeas de cobertura vegetal da cidade passaram de 18% para 26%.