BELA MEGALE E LETÍCIA CASADO BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Quatro dias depois de tomar posse, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, sofreu sua primeira baixa na equipe. O procurador Sidney Pessoa Madruga deixou a coordenação de um grupo que cuida da área eleitoral da PGR (Procuradoria-Geral da República) depois de a Folha de S.Paulo revelar o teor de uma conversa dele sobre a delação da empresa JBS em um restaurante em Brasília.

A interlocutora era a advogada Fernanda Tórtima, que atua para a empresa. Ela foi personagem da crise que levou às prisões e ao cancelamento do acordo de colaboração de Joesley Batista e Ricardo Saud, executivos do grupo. Madruga havia sido nomeado na terça (19) por Dodge para o cargo de coordenador do Genafe (Grupo Executivo Nacional da Função Eleitoral), que estabelece as diretrizes e metas de atuação eleitoral do Ministério Público Federal.

Seu nome entrou na lista de divulgação da PGR da equipe de confiança da procuradora-geral. Na edição de sexta (22), a Folha de S.Paulo publicou o que Madruga dissera a uma mulher em um almoço no dia anterior, no Lago Sul, região nobre da capital federal. A reportagem estava à mesa ao lado e ouviu a conversa. Na manhã de sexta o jornal identificou que a interlocutora era Tórtima. Após ser questionada sobre a conversa dela com o procurador, a assessoria da PGR anunciou a exoneração dele. A advogada é citada na investigação que apura a atuação do ex-procurador Marcello Miller no acordo de delação da empresa com a PGR na gestão de Rodrigo Janot, antecessor e adversário de Raquel Dodge. Segundo os delatores, foi Tórtima quem apresentou Miller à JBS. Ele é suspeito de ajudar a elaborar o acordo quando ainda estava vinculado ao MPF.

DELAÇÃO O nome de Tórtima aparece na gravação entre Joesley e Saud em que ambos discutem o assunto. Em razão desse áudio, Janot pediu a rescisão da colaboração de ambos, e o ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), decretou a prisão deles. Um relatório da Polícia Federal transcreve mensagens em que Tórtima trata das negociações com os executivos do grupo. Em um dos diálogos, ela diz que os procuradores Eduardo Pelella e Sérgio Bruno, que fazia parte do grupo de trabalho da Lava Jato, sabiam de uma viagem de Miller aos Estados Unidos. É sobre Pelella que a advogada e o procurador Sidney Madruga conversaram no almoço de quinta-feira. Madruga afirmou à Tórtima que a “tendência” da PGR é investigar Pelella, ex-chefe de gabinete de Janot. Procurador da República, Pelella teve reunião com um delator da JBS, o advogado Francisco Assis e Silva, dias antes do encontro, em 7 de março, em que Joesley Batista gravou o presidente Michel Temer no Palácio Jaburu. Janot e seu ex-assessor negam qualquer irregularidade na condução do processo. “Não é para punir, é pra esclarecer”, disse Madruga durante o encontro com a advogada presenciado pela Folha de S.Paulo.

O procurador afirmou que é preciso entender “qual é o papel do Pelella nessa história toda, porque está todo mundo perguntando”. Na conversa, Madruga questionou o papel do colega, que, na função de chefe de gabinete, teria trabalhado intensamente nas investigações e acordos da Lava Jato. A Folha de S.Paulo ouviu ainda Madruga dizer à advogada que a nova gestão da PGR, sob Raquel Dodge, precisa construir outra relação com a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, com mais interlocução e controle do que a anterior. Ele chegou a criticar Janot por, em sua avaliação, deixar a força-tarefa muito solta.