SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil de São Paulo prendeu 13 pessoas ligadas à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) suspeitas de fornecerem armamento a traficantes da favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro. As prisões fazem parte da Operação Salazar, deflagrada na madrugada desta quinta-feira (19) para combater o crime organizado em cidades do Estado de São Paulo. A operação foi coordenada pela Dise (Delegacia de Investigação sobre Entorpecentes), de São Bernardo do Campo. Os alvos são pessoas envolvidas com lavagem de dinheiro, associação criminosa, tráfico de drogas e armas. Até a tarde desta quinta, os policiais haviam apreendido cinco armas, computadores, mais de 30 telefones, 5 kg de drogas, rádios de comunicação e R$ 25 mil em dinheiro. Além de cidades da Grande São Paulo, a operação ocorre também no litoral sul. De acordo com a polícia, a suspeita do envolvimento do PCC com traficantes da Rocinha aconteceu durante a investigação dos criminosos da capital paulista e da região metropolitana. Ligações telefônicas entre traficantes do Rio e o chefe de um grupo paulista, Fabiano Robson dos Santos, o Negão, foram interceptadas pela polícia. Foi descoberto que a organização fornecia fuzis e outras armas para os membros da ADA (Amigos dos Amigos), facção que domina a favela. A atuação do PCC no Rio se dá no fornecimento de drogas e armas à facção carioca aliada. Como a Folha revelou em abril, no final do ano passado, a facção criminosa paulista selou aliança com a ADA, dona do tráfico na Rocinha, segunda maior facção criminosa do Rio e inimiga histórica do CV (Comando Vermelho). Ali, a quadrilha paulista se aliou, na prática, aos inimigos de seus inimigos. ALIANÇA A aproximação entre PCC e ADA vinha sendo desenhada desde 2015, quando a guerra com o CV -até então parceiro- estava se tornando inevitável. No meio do ano passado, a Polícia Civil do Rio notou problemas na relação entre CV e PCC quando a quadrilha chefiada por Marcos Camacho, o Marcola, iniciou uma campanha de cooptação de integrantes da facção inimiga em cidades do interior, em especial naquelas próximas à divisa de Rio e SP. Já a recente guerra na Rocinha ocorreu porque Rogério 157, integrante da ADA, se recusou a devolver o controle das bocas de fumo da favela a um homem enviado pelo antigo chefe do tráfico local, Antônio Bonfim Lopes, o Nem, preso em Rondônia. Rogério matou o emissário de Nem e expulsou aliados do então colega e agora rival. A ação motivou uma tentativa de invasão em 12 de setembro. Bandidos de outras favelas do ADA tentaram, sem sucesso, retomar o controle das bocas de fumo, tidas como entre as mais rentáveis do Rio. A polícia interveio e, após cinco dias de intensos confrontos, as Forças Armadas, que já estavam no Rio para reforço na segurança pública, foram acionadas. O Rio enfrenta grave crise financeira, com cortes de serviços e atrasos de salários de servidores, e está perto de um colapso na segurança pública. Um outro efeito dessa crise tem sido o aumento dos índices de criminalidade e a redução do número de policiais em favelas ocupadas por facções criminosas. As UPPs, base policiais em comunidades controladas pelo tráfico perderam parte de seu efetivo. Nos últimos meses, têm sido rotina mortos e feridos por bala perdida, além de motoristas obrigados a descer de seus carros para se proteger dos tiros. Outro braço dessa crise é a morte de policiais. Só neste ano já foram mais de cem assassinados no Estado. A situação de insegurança também levou o presidente Michel Temer a autorizar o uso das Forças Armadas para fazer a segurança pública do Rio até o final do ano que vem. Pesquisa Datafolha mostra que, se pudessem, 72% dos moradores dizem que iriam embora do Rio por causa da violência. O desejo de deixar a cidade é majoritária em todas as regiões e faixas socioeconômicas -foram ouvidas 812 pessoas, e a margem de erro do levantamento é de quatro pontos percentuais, para mais ou para menos. Nas últimas semanas, segundo o Datafolha, um terço dos moradores mudou sua rotina e presenciou algum disparo de arma de fogo. O levantamento revela que 67% das pessoas ouviram algum tiro recentemente.