LUCAS VETTORAZZO RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A população que se declara preta no país cresceu 14,9% de 2012 a 2016, mostrou a Pnad Contínua, pesquisa domiciliar de abrangência nacional do IBGE, divulgada nesta sexta-feira (24). O levantamento é feito por meio de autodeclaração, e o IBGE utiliza o termo preta para se referir à raça negra. Os negros tiveram aumento maior no período do que pardos, que cresceram 6,6% mas mantiveram a condição de maioria na sociedade brasileira. Brancos seguem em trajetória de queda, tendo reduzido seu tamanho em 1,8%.

Apesar de serem majoritários no país, os pardos diminuíram nas regiões mais pobres –e cresceram nas áreas mais ricas do Brasil em 2016. A soma entre os que se declaram pardos e pretos é maior do que brancos desde 2012. Pardos individualmente como um grupo, contudo, superaram os brancos em 2015. A tendência se manteve em 2016, último dado disponível. Do total da população, 46,7% se declararam pardos, alta de 0,6 ponto percentual em relação ao ano anterior. Os autodeclarados pretos corresponderam a 8,2% da população, alta de 0,5 ponto percentual. Na outra ponta, brancos somaram 44,2% em 2016, queda de 1,3 ponto percentual em relação a 2015.

REGIÕES

Na abertura pelas grandes regiões do país, verifica-se a redução constante de pardos no Norte e no Nordeste, ainda que mantenham a maioria em termos absolutos, e aumento no Sul e Sudeste, embora sejam minoria. Brancos caem em todas as regiões do país, enquanto negros registram alta em todos os locais.

Segundo a gerente da Pnad Continua, Maria Lúcia Vieira, a queda dos pardos no Nordeste e Norte pode estar ligada aos movimento de reafirmação racial no país. Mais negros estariam se declarando como tal, reduzindo, então, a quantidade de pardos. As pesquisas raciais no Brasil sempre esbarraram na questão da subnotificação de negros por questões relacionadas à discriminação. Muitas pessoas ainda não se sentem à vontade para se autodeclararem negras. É por isso que, nas pesquisas, os negros não correspondam a nem 10% da população, ainda que nas ruas a impressão seja outra.

A cor da pele e a miscigenação acabam favorecendo a autodeclaração dos pardos, explica a técnica do IBGE. Pode ocorrer de uma pessoa de pele negra se autodeclarar parda por ter um dos pais com pele branca, por exemplo. O IBGE trabalha com autodeclaração e não faz questionamentos quanto às respostas ao questionário da pesquisa pela população. A trajetória de queda dos brancos e de crescimento dos pardos em bases absolutas no país é também resultado da miscigenação da população, numa tendência sem volta, de acordo com Vieira. “O crescimento de pardos é uma tendência que não se reverte mais. As pessoas não deixam de ficar miscigenadas, pelo contrário, a mistura é cada vez mais frequente”, diz. “Há ainda aumento das pessoas que não se declaravam como negras no passado e agora o fazem. Isso está ligado à forma como a pessoa se enxerga na sociedade. Ainda assim, é difícil determinar a raça da pessoa somente pelo tom de pele”, afirma.

DADOS

Os pardos no Norte representavam 72,3% da população em 2016, queda de 0,6 ponto percentual em relação a 2015. A região é a que concentra maior população parda do país. Já os que se declaram negros cresceram 0,6 ponto de 2015 para 2016 –de 6,4% para 7%. Houve queda da população que se declara branca, de 0,5 ponto percentual –eram 20% em 2015 e passaram para 19,5% em 2016. Nas regiões ricas do país, pardos avançam de forma mais significativa.

O Sul foi onde houve maior aumento do pardos, de 1,6 ponto percentual, de 2015 para 2016. Negros subiram de 3,6% para 3,8% da população do Sul em 2016. Já os brancos, maioria absoluta na região, recuaram de 78,8% em 2015 para 76,8% em 2016. No Centro-Oeste, os pardos cresceram de 54,3% em 2015 para 55,3% em 2016. Negros cresceram 0,5 ponto percentual e atingiram 6,9%. Na região Sudeste, a mais rica do país, pardos cresceram 0,6 ponto percentual e atingiram 37,6% em 2016. Pretos tiveram incremento de 0,4 ponto percentual, com 9% da população que se declarava como tal em 2016. Os brancos tiveram queda de 1,5 ponto percentual –eram 53,7% em 2015 e passaram a 52,2% no ano seguinte.