Chamou e muita atenção o ocorrido do último sábado (13), quando três amigos foram parar no hospital após ingerir o que achavam ser uma tequila, mas na verdade era produto de limpeza. Episódios assim, contudo, estão longe de ser uma exceção. Prova disso é que o Paraná registra, em média, três casos a cada dois dias de intoxicação por produtos químicos.

Segundo dados do Ministério da Saúde, entre 2012 e 2017 foram notificados 3.165 casos desse tipo no Paraná, o que coloca os produtos químicos como o quinto agente tóxico mais presente nos casos de intoxicação no estado. Apenas em 2017 foram 411 registros, o menor índice para os seis anos analisados – como os dados ainda não estão consolidados, porém, esse número ainda deve subir.

As vítimas, a exemplo do que ocorreu no Bar do Mauro, são em maioria jovens com idade entre 20 e 39 anos (44,8%), embora também chame a atenção o fato de 26,16% das vítimas serem crianças com até 14 anos de idade.

Quanto ao episódio do último final de semana, que está sendo investigado pela Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o dono do bar, Mauro Jardim de Almeida, afirmou ter servido a bebida aos produtos sem saber que se tratava de soda cáustica. A garrafa teria sido colocada embaixo do balcão após ser utilizada para dissolver o produto, que ficou com a mesma coloração da tequila.

Felizmente, os três clientes beberam uma pequena quantidade do produto e logo estranharam a situação. A primeira vítima relatou à polícia ter vomitado logo depois de ingerir a bebida, enquanto outra contou ter queimado os lábios logo ao encostá-los no corpo.

Depois de passarem mal, as três pessoas procuraram a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Boa Vista, sendo transferidos logo em seguida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ao Hospital Cajuru, devido à gravidade dos ferimentos. Dois dos pacientes foram liberados no mesmo dia, enquanto o outro permanece internado, mas em quadro estável.


A cada 55 minutos, uma notificação

Considerando-se todos os agentes tóxicos, temos um total de 57.325 casos de intoxicação em cinco anos, o que dá uma média de aproximadamente uma notificação a cada 55 minutos. Além disso, desde 2014 o número de registros tem crescido consecutivamente, sendo que apenas em 2017 foram 10.829, alta de 9,27% na comparação com o ano anterior, quando haviam sido notificados 9.910 casos.Entre os agentes tóxicos, aqueles que mais aparecem nas notificações de intoxicação são os medicamentos, com 29.580 casos, o equivalente a 51,6% do total de registros. Em seguida aparecem as notificações de intoxicação por drogas de abuso (5.416), produtos de uso domiciliar (4.012) agrotóxicos agrícolas (3.543) e raticida (3.094).


Intoxicação é a quinta maior causa de internação de crianças

De acordo com informações da ONG Criança Segura, a intoxicação ou envenenamento é a quinta maior causa de internação por motivos acidentais entre crianças com idade de zero a 14 anos. No Paraná, foram 12.495 casos desde 2012, o equivalente a 22% do total de ocorrências dessa natureza.

Esse tipo de situação é comum justamente pelo fato de a exploração do espaço ser uma atividade importante para o desenvolvimento infantil. Naturalmente curiosas, as crianças podem então acabar colocando objetos na boca ou tentar pegar frascos com líquidos coloridos, comportamentos característicos dessa fase, mas que podem colocar os pequenos em grande risco.

Quando exposta ao veneno, a criança sofre consequências mais sérias do que um adulto, pois possui uma estrutura corporal menor, seu metabolismo é mais rápido e seus órgãos internos são mais vulneráveis a danos quando atacados por toxinas.

Felizmente, porém, a maioria das intoxicações em crianças pode ser tratada, se for dado atendimento imediato. Se achar que seu filho ingeriu algo tóxico, fique atento aos seguintes sinais e sintomas: manchas estranhas na roupa da criança, queimaduras nos lábios ou na boca, salivação excessiva ou hálito com odor forte, náuseas ou vômitos de início súbito e sem explicação, dor abdominal sem febre, dificuldade para respirar, alterações súbitas de comportamento (sono, irritabilidade ou excitação). Em casos mais sérios, pode haver até convulsões e perda de consciência.


Como podemos proteger as crianças de intoxicação?

Crianças devem ser sempre supervisionadas por adultos;
Os produtos de limpeza e venenos devem ser guardados longe do alcance das crianças, preferencialmente em armários trancados;
Nunca diga às crianças que medicamento é doce, faz crescer ou deixa forte;
Os medicamentos devem ficar trancados e fora do alcance das crianças;
Orientar as crianças para não colocar plantas ou parte delas na boca;
Medicamentos devem ser tomados somente com orientação médica;
Não compre e não utilize produtos de origem clandestina ou desconhecida;
Verifique no rótulo dos produtos se constam o número de registro do Ministério da Saúde ou Agricultura, validade, identificação do fabricante, do princípio ativo e informações sobre o tratamento em caso de intoxicação;
Guarde os alimentos separados dos produtos de limpeza e venenos (inseticidas, raticidas, etc.);
Inseticidas e raticidas devem ser usados com muito cuidado. Leia atentamente o rótulo e siga as instruções;
Não compre inseticidas, raticidas ou produtos de limpeza de vendedores ambulantes ou feirantes;
Se você não é um especialista, contrate um profissional para fazer a desinsetização e a desratização de sua casa;
Após o uso de produtos perigosos, lave bem as mãos com bastante água e sabão. Troque a roupa, se necessário;
Nunca reutilize as embalagens para armazenar outros produtos, principalmente alimentos;
Só compre produtos se estiverem lacrados, rotulados e em embalagem original.


OCORRÊNCIAS DE INTOXICAÇÃO NO PARANÁ

Agente tóxico

2012

2013

2014

2015

2016

2017

TOTAL

Ign/Branco

443

478

327

317

437

818

2.820

Medicamento

4.472

4.579

4.587

4.758

5.278

5.906

29.580

Agrotóxico agrícola

537

632

700

617

574

483

3.543

Agrotóxico doméstico

205

222

213

204

206

175

1.225

Agrotóxico saúde pública

19

11

23

47

14

9

123

Raticida

587

521

532

537

469

448

3.094

Prod. veterinário

118

105

128

131

144

121

747

Prod. uso domiciliar

599

687

626

681

723

696

4.012

Cosmético

79

90

64

69

71

73

446

Produto químico

441

574

616

535

588

411

3.165

Metal

20

27

12

15

17

18

109

Drogas de abuso

975

896

767

931

923

924

5.416

Planta tóxica

82

58

91

84

122

144

581

Alimento e bebida

188

213

134

79

216

359

1.189

Outro

146

332

293

132

128

244

1.275

Total

8.911

9.425

9.113

9.137

9.910

10.829

57.325