Motoristas dos aplicativos Uber, Cabify e 99 POP realizaram no final da tarde de segunda-feira (22), em Curitiba, um protesto pedindo mais segurança para a categoria. O buzinaço, que reuniu 80 porcento dos grupos de motoristas da cidade, ocorreu em frente ao Teatro Positivo e a escolha foi estratégica: no local acontecia a UberFest, evento promovido pela multinacional estadunidense para celebrar junto aos parceiros e usuários melhor qualificados durante 2017.

A escolha do local do protesto, inclusive, foi estratégica. Das três maiores empresas, apenas o Cabify não aceita pagamento em dinheiro. No caso da 99 POP, o motorista tem a opção de escolher se irá ou não pegar corridas em espécie. Com o Uber, porém, o motorista só fica sabendo da forma de pagamento após aceitar a corrida.

Eles trabalham com dinheiro e por isso são alvos. Os relatos de violência são diários, afirma Guilherme Machado, motorista do Uber que participou do ato, apontando ainda que 80% dos grupos de motoristas de Curitiba participaram da ação, que reuniu mais de 3 mil pessoas. O protesto foi pacífico. Não invadimos o evento nem fomos conversar com ninguém, até porque já conversamos e não foi feito nada. Só fizemos um buzinaço, complementa.

Segundo levantamento feito pelo Bem Paraná, nos últimos seis meses pelo menos cinco parceiros dos aplicativos foram encontrados mortos na Região Metropolitana de Curitiba. Um dos casos foi confirmado como suicídio, dói como latrocínio e os dois mais recentes, registrados na última sexta e sábado, ainda estão sendo investigados.

Estamos pedindo mais segurança, mais rigorosidade na hora de efetivar um cliente. Um app semelhante ao Uber é o Cabify e nunca vimos incidentes porque eles são mais rigorosos, diz Guilherme.

Durante a segunda-feira, inclusive, motoristas parceiros se reuniram com representantes da empresa Uber em Curitiba. Em 2016 pedimos que fosse solicitado o CPF do usuário que fosse pagar pela corrida em dinheiro e eles atenderam, só que os bandidos agora estão roubando o celular na balada e usam o app pela conta da vitima. Então a ideia é pedir uma senha toda vez que abre o app.

União faz a força e salva vidas
Uma das principais dicas de segurança aos motoristas parceiros de aplicativos, segundo Guilherme Machado, é que sempre estejam em grupo. Não é só grupo de WhatsApp, é grupo de rádio, de rastreamento. Daí, quando precisar de alguma ajuda, tem o pessoal do teu grupo que já te conhece, conhece teu carro, sabe onde mora, quais locais costuma frequentar e etc, aponta.

Em Curitiba, o maior desses grupos é o Driver Elite Club (DEC), que conta com cerca de 3,1 mil cadastrados. Não é cobrado nenhum tipo de taxa dos motoristas que se cadastram, sendo exigido apenas que eles se dirijam até a sede do clube, na Rua Domingas Scroccaro Marochi, 403, no bairro Umbará. Depois de cadastrados, os parceiros terão o veículo rastreado 24 horas e ainda ganharão acesso a um botão do pânico em caso de emergência.

Os aplicativos não nos oferecem nada de segurança e também não adianta a gente exigir da Segurança Pública, que é falha. Então ele (botão do pânico) surgiu por conta da necessidade de proteção maior, principalmente a noite, explica Marielen Salvaia, diretora disciplinar do D.E.C. Toda a nossa turma tem o sistema e são monitorados. Cuidamos uns dos outros, desde uma pane no carro até um passageiro incomodando, explica.Desde a criação do sistema de segurança, as ocorrências envolvendo motoristas do grupo que chegam às delegacias foram reduzidadas a praticamente zero, afirma Wanderson José, conhecido como Catra, fundador do DEC. A bandidagem, inclusive, já está ligada. Quando os caras vão para a maldade, já ficam de olho se o carro tem nosso adesivo, perguntam se é caveira.

Aplicativos garantem que são seguros
Procuradas, as empresas Uber e 99 POP, principais alvos das reclamações dos motoristas, encaminharam ao Bem Paraná uma nota se posicionando sobre o protesto e esclarecendo como funciona a parte de segurança dos aplicativos. A Uber, por exemplo, afirmou ter camadas de tecnologia que agregam segurança antes, durante e depois de cada viagem, comentando ainda que nenhuma corrida na plataforma é anônima e todas são registradas por GPS. Além disso, os parceiros contam com um número de telefone 0800 para registrar casos de emergência e solicitar apoio da Uber depois que estiverem em segurança e tiverem contatado as autoridades. Já a 99 POP informou que faz o mapeamento das áreas de risco e que as informações levantadas são avaliadas por uma equipe de segurança, que envia alertas aos motoristas sobre as zonas de maior perigo. Além disso, a empresa apontou ter diminuído em 80% o número de ocorrências desde a criação da área de segurança, em julho, mesmo com o aumento na quantidade de corridas.

Confira na íntegra a nota da Uber sobre o assunto

A Uber respeita o direito democrático à livre manifestação e está sempre à disposição dos motoristas parceiros para dialogar e ouvir sugestões. Hoje mesmo, durante o dia, um grupo de motoristas já foi recebido pelos representantes da empresa em Curitiba.

Todavia, cabe esclarecer que os dois casos relatados pela mídia citando o aplicativo desde a última sexta não ocorreram durante o uso da plataforma – e são, portanto, casos típicos da violência urbana que infelizmente permeia nossa sociedade.

Motoristas vítimas
19/07/2017
Rodrigo de Angêlo Lopes, de 37 anos, foi encontrado morto a Estrada da Ratada, no Jardim Esmeralda, em Campo Largo. De acordo com a delegacia do município, o motorista foi enforcado com um cadarço e tinha vários hematomas e cortes no rosto, provocados por socos. No final das contas, quatro pessoas foram presas e autuadas pelo crime de latrocínio.
13/08/2017
O motorista do Uber Felipe da Rosa Yassumoto, 30 anos, foi encontrado dentro da represa do Passaúna, próximo ao local onde seu carro havia sido localizado dois dias antes com todos os documentos. Segundo a Polícia Civil, a Delegacia de Proteção a Pessoa, concluiu que ele se suicidou, pois não havia nenhuma lesão no corpo da vítima e nas filmagens não foram encontrados nenhum suspeito.
27/09/2017
Desaparecido desde o dia 26, o motorista do aplicativo Uber, Alex Srour Ribeiro, 28 anos, foi encontrado morto em Piraquara. O corpo estava em um matagal na Avenida Ferroviários, no Jardim Santa Mônica, próximo a Colônia Penal Agrícola. As investigações foram concluídas com a prisão de cinco pessoas que participaram da ação, todo autuados pelo crime de latrocínio.
19/01/2018
O carro do motorista Marcos Mathozo Cordeiro, de 25 anos, foi localizado no começo da manhã dentro do lago do Parque Tingui. Horas depois, seu corpo foi encontrado na Rua Frei Jacinto Gavaski, em Almirante Tamandaré. O caso, que ainda está em andamento, é investigado como latrocínio.
20/01/2018
O motorista do aplicativo 99 Pop Agnaldo Felipe Milki, 34 anos, foi assassinado na noite de sábado em Colombo, na RMC. O carro dirigido por ele, um Renault Logan, foi encontrado em um terreno no bairro Atuba, também em Colombo. Ele foi morto a golpe de facas e teve pertences levados. O inquérito está em aberto e as são duas as linhas de investigação: homicídio e latrocínio.