Meu amigo perdeu um pedaço da alma ontem, mas sei que vai segurar esse tranco. Meu amigo, que não vejo há muito tempo, mas com quem trabalhei durante quatro períodos em redação de jornal, é o mais alegre e divertido de todas as pessoas com quem já convivi em mais de quarenta anos de profissão.
Meu amigo, sim, era e é o dono de tudo, como ele sempre gostou de dizer. O mais corintiano dos corintianos – se é que isso seja possível. Nunca pisou no Parque São Jorge, como eu tentava atormentá-lo, mas amor e paixão não precisam de detalhes como este. Jamais entrou no vestiário do Timão, depois dos jogos, como fiz profissionalmente lá em São Paulo, ou aqui, para trocar um lero com o Dr. Sócrates, por exemplo. Mas isso não é nada. A tragédia levou a filha do meu amigo no trânsito maluco – e a notícia caiu no meu peito logo depois de ver um filme sobre isso mesmo – o pai que, de repente, vê um pedaço seu voar nas asas do destino e bem antes do que seria o tempo normal.
Imaginar o Junior triste, o Junior do Jornal do Estado, hoje Bem Paraná, o faz tudo, o que sempre mostrou que a vida não é tormento, lamento, nhenhenhém, o que era o verdadeiro editor, sem escrever uma letra de título, o repórter, sem sair em busca da notícia, o dono, sem ter sala, secretária e conta de milionário, o Junior era e é vida em estado puro. O negro mais negro que conheci, porque sempre bateu no peito dizendo eu sou negão, vai encarar? – e eu, branquelo, fazia o mesmo, imitando-o, afirmando também sou. Ele ria. Eu ria. Ríamos todos e a vida pulsava como deve. Sei que um dia ele chorou feito menino porque seu time foi rebaixado. Choro de amor. Agora imagino-o chorando pela dor mais aguda que um ser humano pode sofrer- e algo que não se deseja nem pra inimigo e do qual tenho medo até de pensar, apesar de falar sobre o assunto em palestras sobre prevenção de recaída para dependentes.
Ah, Junior, você que sempre tirou uma dos meus textos mais… vamos dizer… poéticos, saiba que este aqui veio aqui do fundo do coração de um grande admirador seu, de um aprendiz na arte de viver, de um foca, enfim. Só para te dar um abraço e esperar que você guarde logo essa dor (temos espaço pra isso), que jamais passará, mas que não pode empanar sua alegria de viver. Sua menina se foi, mas deixou muita coisa. E ela é você, nunca esqueça — e saiba que todos nós que o conhecemos, precisamos da sua energia contagiante. Para suportar também outras dores, outros dramas, enfim, a vida.

Roberto José da Silva é jornalista