Encapsulado para enxergar a realidade, parcela do eleitorado brasileiro alimenta a esperança no surgimento de figuras públicas providenciais. As marquetolagens dos profissionais da mentira, nas últimas eleições, venderam com êxito a fantasia das soluções mágicas para os grandes problemas brasileiros. Ao invés de soluções para a edificação de uma sociedade menos desigual, resultou em governança inviável com crises recorrentes, gerando administrações públicas, em todos os níveis, negadoras das reformas modernizantes.

A res pública foi transformada em cosa nostra, onde a corrupção sistêmica tornou-se política de Estado. As recentes investigações da Operação Lava Jato, vem comprovando com indiscutível competência, aliança política e empresarial na captura do dinheiro público pela corrupção. Infelizmente o seu raio de ação é limitado, não podendo avançar em amplas investigações em diferentes regiões. O que seria fundamental, em razão de a corrupção sistêmica brasileira ser ampla, geral e irrestrita. Começando nos municípios, alargando-se pelos Estados e se sublimando no governo federal.

O que leva o Brasil a ser classificado no ranking internacional como um dos países mais corruptos do mundo. A poderosa aliança de políticos, agentes públicos e grupos empresariais, é o grande responsável. Ante esse cenário desolador o que fazer? Os candidatos que disputarão as eleições de 2018, nos diferentes níveis, estariam conscientes dessa realidade? Ou estariam comprometidos unicamente com a vitória eleitoral? Alimentariam o caminho fácil e irresponsável do populismo negados da realidade?

Acrescente-se nesse cenário adulterador da verdade, o surgimento das chamadas redes sociais alimentadoras de gravíssima deformação política. As fake news tem forte presença alimentando a violência virtual. O editor-chefe da revista Época, Diego Escosteguy, sintetizou: Abrir as redes sociais tornou-se um ato de fé e de coragem; a cada esquina digital, esbarra-se na ignorância orgulhosa, na incivilidade boçal, na intolerância odiosa.

O debate público democrático fica anestesiado e reduzido a realidade binária. O populismo demagógico ganha corpo e se multiplica entre os mal informados e desinformados. Enxergar o futuro e propor soluções para a crise estrutural deve ser a saída de quem, com responsabilidade, pretende chegar ao governo. Sem reformas profundas que tenha a população brasileira como objetivo, a governabilidade torna-se inviável. Nas eleições de 2018, a população precisa superar o desalento de ter vivido a maior recessão econômica da história. O Brasil precisa de um governo sério e competente para enfrentar a corrupção, a violência dos centros urbanos, a criminalidade institucionalizada, a falência da saúde pública, a péssima qualidade da educação e o corporativismo enquistado nos três poderes da República.

Candidato que ignore essa realidade e mistifica a verdade com promessas mirabolantes deve ser descartado. O grande objetivo da política e do Estado é a busca do bem comum. Infelizmente a fase atual da política brasileira é desprovida de responsabilidade pública, garantidora de interesses particulares. Disso decorre a sua perda de prestígio e importância. Ocorre que sem a ação política reformista torna-se impossível planejar o futuro.

O grande desafio para o ganhador das eleições presidenciais será nos primeiros meses adotar uma agenda reformista, enfrentando o rombo das contas públicas, nem sempre populares, mas fundamentais para recolocar o País na rota segura de desenvolvimento com justiça social em uma sociedade democrática.

 

Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira