Divulgação – “Freddie Mercury (Rami Malek) lidera o Queen no Live Aid em u2018Bohemian Rhapsodyu2019: considerado o maior show da histu00f3ria”

Brian May é um guitarrista excepcional, dono de um estilo único, ótimo compositor, canta bem e seria o grande astro de 99% das bandas de rock da história. Roger Taylor é um baterista virtuoso e capaz de fazer uma voz bem aguda. Teria capacidade para ser o líder em 95% das bandas. John Deacon é um baixista competente, com bons momentos como compositor. Todos têm brilho próprio. Mas aconteceu de os três virarem coadjuvantes do mais peculiar cantor de rock da história: Freddie Mercury. Dono de uma voz inigualável (a ciência confirma) e de uma presença de palco magnética, ele ainda escreveu músicas que quebraram paradigmas no rock. Com isso, levou a banda inglesa Queen ao estrelato máximo. Por isso, ‘Bohemian Rhapsody’, filme que estreia nesta quinta-feira (1), é focado em Mercury, tendo os seus colegas de Queen como coadjuvantes. 

Filmes de astros da música normalmente seguem uma fórmula. Apresenta-se o personagem, traz-se sua origem, mostra-se como ele tinha algo que o fazia diferenciado, discorre-se sobre a ascensão, percebem-se elementos que levam a uma queda até que se chega ao ápice, à redenção. Exemplos disso que deram certo são ‘Ray’, sobre Ray Charles, e ‘Johnny e June’, sobre Johnny Cash. Como a fórmula é meio igual, os filmes dependem de se achar o ator certo para o papel. Jamie Foxx venceu o Oscar como Ray Charles. Joaquin Phoenix passou perto como Johnny Cash. Não podia ser diferente com Mercury em ‘Bohemian Rhapsody’.

E até por isso o filme demorou para sair do papel. Para interpretar Freddie Mercury, precisava-se do ator certo. O primeiro nome cotado foi Johnny Depp. Depois, Sasha Baron Conen, que deixou o projeto, voltou, saiu, voltou e saiu de vez. Falou-se em Ben Whishaw. E quem entrou em cena foi Rami Malek, norte-americano de origem egípcia e pouco conhecido – fez o faraó Akmenrath dos três ‘Uma noite no Museu’ e a série de TV ‘Mr Robot’. Foi grande a aposta em cima dele. E ele correspondeu. No filme, esquece-se que há um ator ali. Malek gesticula como Freddie Mercury, anda como Freddie Mercury, rebola como Freddie Mercury, fala como Freddie Mercury e parece até cantar de verdade como Freddie Mercury (se a voz de Mercury não fosse inigualável…)

‘Bohemian Rhapsody’ traz Mercury desde os tempos em que ele era um carregador de malas no aeroporto de Heathrow (Londres). Passa pelo ambiente familiar – os pais eram parsis zoroastrianos e moravam em Zanzibar (hoje, Tanzânia) quando o cantor nasceu. Apresenta Mercury como um jovem diferenciado na cena jovem londrina e como ele se encontra com Mary Austin (Lucy Boynton, muito semelhante com a Mary Austin original). Pincela como ele conheceu seus futuros colegas de banda, Brian May (Gwilym Lee, incrivelmente parecido), Roger Taylor (Ben Hardy, correto) e John Deacon (Joseph Mazzello, uma boa surpresa). E viaja pelos bons e maus momentos da história da banda até o ápice, em que o Queen toca no Live Aid, em 1985 – a apresentação ao vivo é considerada a melhor da história do rock. Além disso, há pontos altos no processo criativo das músicas. Em destaque, a icônica ‘Bohemian Rhapsody’ que batiza o filme, uma canção ópera-rock de três atos e seis minutos, duração impensável para os anos 1970. Mas também abre-se espaço para os bastidores das composições de ‘We Will Rock You’, de Brian May, ‘Another One Bites the Dust’, de Deacon, e o divertido clipe de ‘I Want to Break Free’, também de Deacon. 

Em cima: Freddie Mercury, Brian May, John Deacon e Roger Taylor; embaixo: Rami Malek, Gwilym Lee, Joseph Mazzello e Ben Hardy, os atores que interpretaram os roqueiros do Queen

Logicamente o filme aborda também a sexualidade de Mercury, desde quando ele se descobriu bissexual e o quanto isso pesou em seu comportamento pessoal. Nesse ponto, o diretor Bryan Singer (dos primeiros filmes de X-Men) consegue escapar de polêmicas e de armadilhas fáceis, sem exageros, ao mostrar que por trás da figura extravagante havia um ser humano com seus medos, que queria ser amado, que sonhava em fazer a diferença. 

O único pecado de ‘Bohemian Rhapsody’ recai sobre erros cronológicos, tanto no lançamento de  algumas músicas quanto (principalmente) no momento em que Mercury se descobre irreversivelmente doente e conta aos colegas. Contudo, essa liberdade criativa funciona melhor para a narrativa que a ordem correta dos fatos. É algo que será detectado apenas pelos fãs xiitas do Queen. E é algo que será esquecido durante a performance no Live Aid.