“Beto Richa: impasse juru00eddico”

A coligação da governadora e candidata à reeleição, Cida Borghetti (PP), aprovou nesta segunda-feira (17) o “afastamento” do ex-governador Beto Richa (PSDB), da candidatura ao Senado, em uma tentativa de evitar o desgaste pela prisão do tucano na operação Rádio Patrulha, que investiga fraude em licitações para obras em estradas rurais. A decisão foi tomada depois que Richa resolveu ignorar o pedido de Cida para renunciar à disputa. O ex-governador diz que vai retomar a campanha.

Uma reunião com representantes dos oito partidos que compõem a coligação (PP/PSDB/PSB/PTB/DEM/PROS/PMN e PMB) foi realizada nesta segunda-feira (17) à noite e os integrantes concluíram que a melhor saída para o impasse seria isolar Richa. “A coligação Paraná Decide analisou e aprovou por maioria o pedido da governadora Cida Borghetti (PP) para o afastamento do candidato ao Senado, Beto Richa(PSDB) , da chapa. A determinação foi repassada ao departamento jurídico para que formalize o pedido ao TRE”, afirmou a coligação em nota.

Os efeitos da decisão, porém, são controversos, já que a legislação prevê mudança na chapa apenas em caso de morte, renúncia ou expulsão do partido. “Nenhuma das hipóteses é real, tanto que o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) restabeleceu nesta segunda-feira, dia 17, a participação de Beto Richa na propaganda eleitoral gratuita”, diz uma nota oficial de Richa, divulgada nesta segunda-feira (17) à noite. “Não há amparo legal para o afastamento (…) conforme suscita o pedido feito pela governadora Cida Borghetti”. 

Enquanto Richa ainda estava na prisão no Regimento da Polícia Montada, no bairro Tarumã, em Curitiba, a coligação já havia ocupado o espaço do tucano na propaganda eleitoral com programa do outro candidato ao Senado na chapa, deputado federal Alex Canziani (PTB). “Hoje já não passou de novo e não vai ter à noite. A situação dele é muito difícil. Acho que não (tem como expulsar ele da chapa), acho que ele tem que decidir”, disse Canziani. 

A assessoria de Richa informou que ele passou o dia de ontem gravando o programa eleitoral. À noite, o ex-governador apareceu no horário eleitoral e comentou a prisão. “Fomos presos sem nem sermos ouvidos. Fui vítima do estado policial que alguns querem implantar no Paraná”, queixou-se.

Impasse
A decisão da chapa pode gerar impasse jurídico, de acordo com a advogada Carla Karpstein, presidente da Comissão de Direito Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Paraná (OAB-PR). “Quando os partidos coligam, eles passam a agir como um só, é o que diz a lei. Se a maioria decidiu expulsar ele (Richa) da coligação, deve haver uma discussão jurídica no tribunal. Não existe previsão clara na lei. Entendo que é difícil cassar (a candidatura de Richa)”, avalia a advogada que atua na campanha de Cida.

 “Estou solicitando aos partidos da coligação a retirada da indicação de Beto Richa ao Senado para que ele possa se dedicar à sua defesa (…). Já estou solicitando à coligação e partidos aliados que ele possa refletir e retirar sua candidatura”, disse Cida nesta segunda-feira (17). 

O prazo para que a Justiça Eleitoral confirmasse ou barrasse as candidaturas de todo o País terminou nesta segunda-feira (17). Também foi o último dia para que os partidos substituissem nomes dentro das chapas. O rompimento remonta a crise na chapa ocorrida no fim de julho, quando o principal articulador da campanha de Cida, deputado Ricardo Barros (PP), marido da governadora, sugeriu que Richa lançaria candidatura avulsa, em “apoio branco” ao candidato ao governo Ratinho Junior (PSD), o que foi negado por Richa e Ratinho Jr.

Ex-governador tenta mostrar força
O ex-governador e candidato ao Senado, Beto Richa (PSDB) convocou “os prefeitos” para reunião hoje em Curitiba para reforçar seu posicionamento, o que foi visto por alguns aliados como uma clara menção de que pretende enfraquecer a chapa da governadora. “Houve um rompimento muito grande. Nunca vi isso acontecer, de um candidato ao Senado ir contra à candidata ao governo e vice-versa”, disse uma fonte chapa. 

Diversas lideranças do PSDB como o presidente da Assembleia Legislativa, deputado estadual Ademar Traiano, vice-presidente do PSDB, e o ex-chefe da Casa Civil, deputado federal Valdir Rossoni estão apoiando abertamente o candidato Ratinho Junior. Alex Canziani (PTB), por outro lado, acredita que a reunião convocada por Richa é apenas um apelo do candidato por apoio a si mesmo e não para retirar o apoio a Cida Borhetti. “Acho que não. Acho que é pra pedir apoio para ele mesmo”, afirma Canziani.

Richa convocou prefeitos e deputados de sua base para a reunião hoje em seu comitê de campanha, em Curitiba. No convite, a assessoria do tucano afirma que será “uma grande reunião de apoio” ao ex-governador. Foram convidados, além de prefeitos de todo o Estado, deputados e os suplentes ao Senado na chapa, Nelson Padovani e Maria Iraclésia. O encontro será no “comitê central da campanha Beto Richa senador”, próximo ao Shopping Mueller. O convite reforça que a presença dos convidados é “muito importante para o sucesso da campanha eleitoral”. A assessoria do candidato ao Senado afirmou que o evento não será aberto à imprensa. 

Preso entre os dias 11 e 15 de setembro, Beto Richa é investigado na Operação Rádio Patrulha, que apura esquema de desvio de dinheiro de obras em estadas rurais. Junto com familiares e aliados, o tucano é alvo de inquérito do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Estadual. Na sexta-feira, dia 14, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), revogou a prisão dos 14 investigados no esquema. Quando saiu da prisão, no sábado (15), Richa foi questionado sobre diversos assuntos relacionados à investigação, mas só respondeu que não abrirá mão da campanha. “Vou retomar minha campanha”, disse.