Franklin de Freitas

Por dia, em média, 2 mil pessoas que passam pelo acampamento pró-Lula, no bairro Santa Cândida, em Curitiba. Até então, a região era considerada tranquila, pacata, com maioria dos moradores formada por aposentados ou famílias que herdaram terrenos e casas de imigrantes poloneses, silesianos e prussianos, bem como, algumas famílias de imigrantes suíços e franceses. O bairro colônia, fundado em 1875, agora está diferente, movimentado e virou palco de um choque de realidades políticas e sociais. Tudo começou desde a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na sede da Polícia Federal, no dia 7 de abril. 
A região elevada, de ruas sinuosas, com casas de classe média, batizada em menção à Cândida de Oliveira, esposa do então presidente da província, Adolpho Lamenha Lins, se transformou no ‘centro de resistência’ de partidos e movimentos de esquerda. A presença, no entanto, gera, além de curioso choque de realidades, transtornos a moradores tradicionais, em especial aos ideologicamente convictos. Todos os insatisfeitos ouvidos pela reportagem já adotavam posicionamento político contrário à causa dos novos inquilinos do bairro.
“Não preciso nem dizer, né? (Sou) totalmente direita. Passou da hora de mudar o sistema do País. Tenho uma vida inteira de militarismo”, diz o morador de uma das esquinas que agora é uma das mais movimentadas do bairro. Ele pediu para não ser identificado. “Se eu me identificar eles vão saber quem eu sou e aí a coisa pode ficar feia. Saiba que aonde vocês (repórteres) forem ‘eles’ vão seguir. Desde que você chegou, ‘eles’ estão ali”, disse o desconfiado militar da ativa, apontando para um trio a alguns metros dali.
Para o morador, que compara o MST à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), um conflito mais grave pode acontecer a qualquer momento no bairro. “Eles são organizados ao ponto de só ficar a ronda de segurança deles, com colete de ‘disciplina’, como ‘disciplina’ do PCC”.“Isso aqui é um barril de pólvora. A hora que um morador perder a razão vai ser ruim pra todo mundo. A partir das 10 horas tem cantoria, com violão. Incomoda”, reclama.
A preocupação do militar, que a organização da vigília garante ser infundada, abrange também as crianças. “Tem que sair com as crianças escoltadas. A criança não se sente segura. Ninguém se sente seguro. As pessoas normais se sentem seguras por si só. Não é uma aparência, pela pobreza e pelo jeito que eles são. É muita gente num lugar só. Transmite insegurança. Não é local pra ter pessoas aglomeradas. Quando esquenta sobe o cheiro. Dentro de casa chega o cheiro”, gesticula.
Em uma das esquinas, onde estão instalados nove banheiros químicos, na última quinta-feira (12), o caminhão que faz a remoção de resíduos derrubou parte dos dejetos no meio da rua. Apesar do esforço do responsável para lavar a rua com um produto químico, o cheiro forte se espalhou pela rua.

 Embora haja exageros em observações da vizinhança, mesmo os moradores mais ponderados, como o aposentado Edson Balzer, 58 anos, confirmam sofrer com a permanência dos manifestantes.
“No primeiro dia foi mais complicado. Mas, sim, já foi dito que eles recolhem lixo, varrem a rua, não têm deixado sujeira. É verdade. Mas o problema é da bagunça. Eles passam pra lá e pra cá. Eles passam 24 horas atentos. Chega o batuque deles. Acorda por causa do cachorro. O vizinho (ao lado, que ajuda os manifestantes) abriu para eles recarregarem celular. Daí eles vêm carregar o celular. A gente acorda por causa da conversa deles. De madrugada”, reclama.

Os acampados
Quem forma a massa do acampamento    
Sindicalistas de São Paulo 
Metalúrgicos do ABC, Porto Alegre, Pelotas (RS) e Canoas (SC), Concórdia (SC) e Chapecó (SC)
Movimentos de Minas Gerais 
MST do Interior do Paraná 
Integrantes da União Nacional por Moradia Popular (UNMP)
Frente Brasil Popular (FBP)