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RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Os dois acusados pelo assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, que completa um ano nesta quinta (14), foram mantidos presos pela Justiça fluminense após audiências de custódia que trataram sobre armas ilegais encontradas com eles quando foram presos, na última terça (12).

Ao policial militar reformado Ronnie Lessa, 48, são atribuídos 117 fuzis incompletos achados na casa de seu amigo Alexandre Motta, no Méier, na zona norte do Rio. Já o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz, 46, teve duas pistolas não legalizadas apreendidas em sua residência em Engenho de Dentro, também na zona norte.

Os três tiveram a prisão em flagrante convertida em preventiva, sem prazo para soltura. As audiências não trataram das mortes em si, e sim da posse de armas de uso restrito das forças de segurança -portanto apenas Motta poderia ser solto, já que os outros dois também respondem pelos homicídios.

Os três estão detidos na Delegacia de Homicídios (DH) desde terça e já prestaram depoimentos à polícia sobre as armas. Nesta quinta, por volta do meio-dia, eles foram levados ao IML (Instituto Médico-Legal), para fazer exame de corpo de delito, e ao presídio de Benfica (zona norte), para as audiências de custódia.

De volta à delegacia, Lessa e Queiroz serão ouvidos sobre a suspeita de terem assassinado Marielle e Anderson -o primeiro é acusado de ter atirado e o segundo, de ter dirigido o carro do crime. Ambos negam participação. 

Queiroz deve ser transferido em breve ao Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na zona oeste carioca. Já a defesa de Lessa pediu que o PM reformado seja encarcerado na Cadeia Pública José Frederico Marques, onde ficam policiais detidos. 

As peças de fuzis atribuídas a Lessa, achadas dentro de caixas de papelão na casa de Motta, são avaliadas em R$ 3,5 milhões e são consideradas pela polícia uma das maiores apreensões já feitas no Rio. Em 2017, foram encontradas 60 unidades no aeroporto do Galeão, mas neste caso as armas já estavam montadas.

A polícia não sabe ainda por que os canos das armas não foram encontrados -se ainda não haviam sido comprados ou se estão escondidos. Nesta quarta, a DH achou o local onde era a feita a montagem. Quem está investigando a origem e o destino do arsenal é outra delegacia, a Desarme (especializada em armas, munições e explosivos).

O advogado de Motta, Leonardo da Luz, sustenta que ele desconhecia o conteúdo das caixas, que estavam lacradas em sua casa desde dezembro. Na quarta, o advogado de Lessa negou à reportagem que os fuzis fossem dele; nesta quinta, porém, ele afirmou à imprensa ainda esperar a perícia, que pode indicar que as armas eram de brinquedo ou de airsoft.

Já o advogado de Queiroz disse que a Justiça e a polícia “estão contaminados pela pressão sobre o caso Marielle” e que as duas pistolas de seu cliente foram adquiridas quando ele ainda era militar e estavam sem munição.

OPERAÇÃO LUME

Além das três prisões, a Operação Lume (uma referência ao nome do local onde Marielle prestava contas sobre seu mandato à população e mantinha um projeto feminista) cumpriu desde terça-feira 32 mandados de busca e apreensão e ouviu ao menos outras cinco pessoas, entre elas três PMs e um bombeiro.

Um ano depois, a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio ainda não esclareceram se houve ou não um mandante nos assassinatos de Marielle e Anderson. Uma nova fase das investigações agora tentará descobrir como o crime foi articulado e qual foi o seu motivo.

Na denúncia apresentada pela Promotoria nesta semana, a razão da morte da vereadora seria o ódio de Lessa por personalidades da esquerda, como a parlamentar e o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL), sobre quem ele pesquisou na internet antes de cometer os assassinatos. 

O delegado responsável pelo caso será agora substituído. Giniton Lages, que desde o início liderava do inquérito, foi convidado pelo governador do Rio, Wilson Witzel, para fazer um intercâmbio com a polícia italiana por quatro meses para estudar máfia e movimentos criminosos. 

Witzel negou nesta quarta que seja estranho tirá-lo do caso a essa altura, porque outros delegados continuarão na investigação. Em 2018, Lages foi acusado pelo miliciano Orlando da Curicica, atualmente preso, de tentar pressioná-lo para confessar a autoria do crime e acobertar os reais autores, o que foi negado pela polícia à época.