SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Geraldo Alckmin já gastou mais da metade da principal vantagem que tem na eleição. A quinta-feira (20) marcou a chegada do nono dia de um total de 15 de exibição do bloco de horário eleitoral das candidaturas à Presidência.

Com 44% do tempo na propaganda na televisão e no rádio, ele não cresceu nas pesquisas de intenção de voto desde o início do horário eleitoral.

O candidato do PSDB caminha para ser uma exceção na história das eleições presidenciais. Desde 1989, em 90% dos casos os três candidatos com mais tempo de televisão conseguiram fazer crescer o total de intenções de voto com o horário eleitoral.

O levantamento é do cientista político Antônio Lavareda e analisa as sete eleições presidenciais desde a redemocratização –1989, 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014. Apenas dois candidatos, ambos do então PMDB, Ulysses Guimarães, em 1989, e Orestes Quércia, em 1994, não conseguiram converter a vantagem no espaço em crescimento durante a campanha.

“Ainda precisamos esperar a eleição para concluir uma análise do cenário atual, mas não acredito que o horário eleitoral tenha perdido importância”, diz Lavareda. “Seria possível Haddad crescer 11 pontos sem a propaganda da TV? Com certeza não”, completa.

O candidato do PT foi oficializado como cabeça na chapa no dia 11, após o TSE barrar Lula, preso em Curitiba, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro. Desde então, Haddad subiu de 9% para 13% na pesquisa Datafolha de sexta (14). No levantamento divulgado nesta quinta (20), o petista está com 16%.

Haddad é o segundo candidato com mais tempo de TV, com 19,16% do total no bloco do horário eleitoral e 189 inserções de 30 segundos cada até o fim do primeiro turno.

Terceiro com mais espaço na propaganda, Henrique Meirelles (PMDB) também não conseguiu crescer nas intenções de voto desde o início do horário eleitoral.

Alckmin tem 9% das intenções, segundo a última pesquisa Datafolha. Desde que as propagandas começaram, no dia 31 de agosto, variou dentro da margem de erro.

O candidato do PSDB corre o risco de ser o primeiro presidenciável a ter o maior espaço na propaganda e não chegar ao segundo turno depois da eleição de 1989. Desde 1994, quem teve mais tempo, seja no bloco do horário eleitoral ou nas inserções ao longo da programação da televisão, no mínimo, esteve entre os dois mais bem votados ao final do pleito.

“O Alckmin parece cachorro em noite de Réveillon. Explode os fogos e ele não sabe para onde ir. Primeiro, atacou o Bolsonaro, depois foi para o Temer. É uma estratégia um pouco difícil de colar. O PSDB apoiou o impeachment, teve ministros”, analisa Felipe Borba, cientista político e professor da Unirio.

Borba e Argelina Figueiredo, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, fizeram um levantamento para analisar o perfil das inserções de 30 segundos cada, que são veiculadas ao longo da programação na televisão e no rádio. Fora do bloco fixo do horário eleitoral, que entra às 13h e às 20h30, esses comerciais atingem um público que não necessariamente está disposto a assistir ao programa político.

Até o dia 16 de setembro, Alckmin teve 242 inserções na televisão. Segundo Borba, o tucano teve quatro perfis de propagandas. Em 50% delas, fez ataques a Michel Temer e ao PT. Os restante ficou dividido em ataques a Bolsonaro (10%), apresentação de propostas (29%) e críticas ao clima do país e ao que chamou de “ódio na política” (11%).

Nesta quinta, o tucano subiu o tom de agressividade no horário eleitoral. “Os brasileiros estão escolhendo com raiva e indignação, mas muita gente não parou para pensar que corremos o risco de virar uma Venezuela”, diz.

Alckmin tenta traçar uma relação entre os primeiros colocados nas pesquisas, Bolsonaro e Haddad, com a crise no país vizinho. No vídeo, usa declarações de Lula e do candidato do PSL elogiando Hugo Chávez

“Temos uma campanha diferente de tudo o que já vimos no período democrático. Esse comportamento errático do Alckmin está refletindo o momento errático que vivemos”, afirma José Alvaro Moises, cientista político da USP.