SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A sugestão de recriar um imposto aos moldes da CPMF, feita pelo guru econômico de Jair Bolsonaro (PSL), levou aliados do presidenciável a expor divergências em relação ao poder do economista Paulo Guedes em um futuro governo e a iniciar uma operação para descartar a possibilidade de aumento da carga tributária.

Revelada pela Folha de S.Paulo, a ideia de Guedes exposta em reunião com empresários na terça-feira (18) surpreendeu auxiliares do candidato. Embora sem citar a proposta, Bolsonaro recorreu logo pela manhã às redes sociais para falar em diminuição do número de impostos.

A um grupo restrito de nomes do mercado, Guedes disse que pretende recriar um imposto nos moldes da CPMF, que incide sobre movimentação financeira. Ele falou que quer ainda criar uma alíquota única do IR (Imposto de Renda) de 20% para pessoas físicas e jurídicas. Esse mesmo percentual seria aplicado para tributar lucros e dividendos.

As propostas vão na contramão do que vem defendendo adversários do candidato do PSL, que falam em simplificação tributária e em elevar a alíquota do IR para aqueles que recebem salários maiores.

O desentendimento no círculo de coordenação da campanha de Bolsonaro deriva, em grande parte, da descentralização do grupo, que não tem uma figura que organize e dê uma coerência geral às propostas. Os choques de concepções entre os aliados do candidato, especialmente o vice, o general Hamilton Mourão (PRTB), os filhos de Bolsonaro e Guedes, têm sido cada vez mais frequentes.

De saída, como reação à proposta da CPMF remodelada, os líderes da campanha começaram a diminuir a importância de Guedes na definição do que seria feito em um eventual mandato, ressaltando que a decisão final sobre qualquer tema sempre seria do próprio presidente.

"Quem decide é o Bolsonaro, né? O Paulo apresenta suas linhas de ação e o Bolsonaro avalia se as vê como pertinentes. Como ministro da Fazenda, ele dá as ideias, mas o presidente é o Bolsonaro, a decisão final é dele", afirmou Mourão à reportagem.

"O presidente é quem sempre decidirá o que é mais oportuno. O papel dele [Guedes] é de indicar alternativas", afirmou o deputado Major Olímpio (PSL), coordenador da campanha em São Paulo.

"Eu sou contrário à reedição [de uma CPMF] e o Bolsonaro já disse que também é. Não teremos aumento de tributação", completou.

As declarações vão no sentido contrário ao que vinha sendo propalado por Bolsonaro antes de ser atacado com uma facada em Juiz de Fora (MG) durante um ato de campanha no início deste mês.

Segundo ele, Guedes seria o seu "posto Ipiranga", ao qual ele recorreria diante de qualquer dúvida sobre economia. Mais do que mentor, o economista seria o fiador do candidato junto ao mercado.

Ao desenhar esse cenário, o próprio Bolsonaro dizia pouco saber de economia, delegando a responsabilidade pelos conhecimentos sobre o tema a Paulo Guedes.

Horas após a publicação da reportagem pela Folha de S.Paulo, Bolsonaro foi às redes sociais e disse: "Nossa equipe econômica trabalha para redução de carga tributária, desburocratização e desregulamentações. Chega de impostos é o nosso lema! Somos e faremos diferente. Esse é o Brasil que queremos!", escreveu.

Seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro, também publicou mensagem dizendo que seu pai "não estuda a volta da CPMF".

Causou estranheza o fato de Guedes não ter nem mencionado a ideia em reunião entre todos os principais membros da campanha feita em São Paulo na terça-feira (18).

"Deve haver algum desacerto, ele não falou nada disso", afirmou o presidente da União Democrática Ruralista, Luiz Nabhan Garcia, empresário e principal conselheiro de Bolsonaro na área dos agronegócios.

Nabhan participou de um jantar com cerca de 100 empresários interessados em ouvir as ideias da campanha na terça (18). No encontro, Nabhan apresentou os lemas da redução de impostos e desburocratização, e acordou espantado com a proposta de Guedes que desconhecia.

"Bolsonaro é um homem de palavra, conheço-o há quase 30 anos e todas as conversas que tive com ele foram no sentido de desburocratizar e reduzir impostos. Sou empresário e sabemos que a recuperação do país passa pela redução dessa carga tributária", disse.

Empresários que têm se aproximado da campanha telefonaram para aliados do presidenciável e manifestaram preocupação diante do teor da proposta de Guedes. A reportagem procurou o economista nesta quarta-feira (19), mas ele não retornou os contatos.

Aos jornais O Globo e O Estado de São Paulo, ele disse que não defende a volta da CPMF, mas que propõe a criação de um imposto único sobre transações financeiras.

Segundo ele, a ideia não seria a de criar nova tributação, mas substituir impostos federais considerados regressivos, como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), por um imposto único.