As mudanças promovidas pelo recém-nomeado secretário de Cultura, Roberto Alvim, em cargos ligados a sua área podem causar problemas em futuras votações no Congresso, destaca o jornal O Estado de S. Paulo. Deputados governistas procuraram o Palácio do Planalto para reclamar que indicados políticos tinham sido demitidos. Na lista de dispensa, estão nomes ligados ao MDB, Republicanos (antigo PRB) e PP.

As queixas de deputados em relação às demissões promovidas por Alvim chegaram principalmente à Secretaria de Governo, comandada pelo ministro Luiz Eduardo Ramos, responsável pela articulação política do governo.

A avaliação no Palácio do Planalto é a de que as demissões não são pontuais, mas “lineares”, atingindo os principais cargos. Segundo um interlocutor do presidente, o clima é de “terra arrasada”. O assessor se disse apreensivo com o nível de reclamação de aliados e com o tipo de impacto que as insatisfações poderão ter em votações que estão em andamento no Congresso.

As dispensas de Alvim não tem poupado nem mesmo indicados por vice-líderes do governo na Câmara. Também procurado para ouvir as reclamações, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, a quem a Secretaria de Cultura passou a ser subordinada, disse a parlamentares que não tem como intervir nas demissões.

Segundo auxiliares, Bolsonaro está disposto a “desaparelhar” a área da cultura. Quando nomeou Alvim, ao ser questionado sobre as mudanças que seriam feitas na pasta, o presidente afirmou que daria “porteira fechada para ele”, em referência à autonomia dada ao novo secretário para nomear sua equipe.

Desde que assumiu, no início do mês, Alvim já trocou o comando de oito órgãos, incluindo as principais secretarias subordinadas à Cultura, como a de Audiovisual, Fomento e Incentivo ao setor, além da Fundação Palmares. A expectativa é a de que mais demissões de apadrinhados políticos ocorram nos próximos dias.

O Estado apurou que no governo é dada como certa a demissão da presidente do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Kátia Bogéa, que ocupa o posto desde 2016 e é ligada ao ex-presidente José Sarney, cacique do MDB. Procurada pela reportagem, ela disse que não havia sido informada sobre uma eventual saída do cargo até a noite de quinta-feira, 28. “Sou uma técnica”, afirmou ao jornal, negando ser uma indicada de Sarney.

Em carta encaminhada nesta quinta ao presidente Jair Bolsonaro, o deputado Hildo Rocha (MDB-MA) defendeu a permanência de Bogéa no cargo e enalteceu o trabalho da aliada à frente do Iphan. A carta foi enviada em nome da Frente Parlamentar em Defesa do Patrimônio Histórico e Nacional, presidida por Rocha.

O deputado disse que articulou o documento a favor de Bogéa para mostrar ao presidente que ela faz uma boa gestão, mesmo com recursos escassos. “Em time que está ganhando não se mexe”, disse Rocha.

Além do MDB, o DEM e o PSL também têm cargos no Iphan. Como mostrou o Estado no fim de setembro, após derrotas no Congresso e com receio de novos reveses, o Palácio do Planalto decidiu abandonar o discurso que pregava o fim do loteamento de cargos para obter apoio a projetos no Legislativo.

Outro nome ligado ao MDB demitido por Alvim foi Vanderlei Lourenço, que presidia a Fundação Palmares. O escolhido para assumir o posto foi Sérgio Nascimento de Camargo, que passou ser alvo de críticas por já ter afirmado, em suas redes sociais, que o Brasil tem um “racismo nutella” e defendeu a extinção do Dia da Consciência Negra.

Os cortes também atingiram a área militar. Oficial da reserva da aeronáutica, Paulo Edy Nakamura deixou a secretaria de Difusão e Infraestrutura Cultural, mas a tendência é que ele seja nomeado para outro cargo do governo.

Questionado na quinta sobre as críticas à indicação do novo presidente da Fundação Palmares, Bolsonaro desviou do assunto. “Tem de perguntar ao Alvim”, afirmou. O secretário não quis comentar as demissões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.