Vivemos hoje em tempos de crise que resulta em absoluta contenção de gastos por parte de empresas que querem – precisam – sobreviver num país caótico, desgovernado, imerso em denúncias de corrupção, que aliás mais parecem revelações que denúncias, um impasse na definição de prioridades em nossas instituições. Na organização dos gastos, investimentos, manutenções, necessidades tangíveis e intangíveis em particular das instituições educativas, a alta cultura, em suas mais variadas manifestações, é sempre tema de grande debate.
A cultura pode ser popular, em muitas manifestações: musica, pintura, dança, formas de vestir, gastronomias típicas de cada região, gírias locais. Porém, aquilo que denominamos alta cultura é importante? A ponto de ser essencial? Evidentemente as respostas variam bastante, mas inconteste é que a maior atribuição de valor a ela, virá exatamente das pessoas que mais a possuem, ou seja, aqueles que são absolutamente carentes dela não verão em momento algum a sua necessidade.
Já na década de 70 do século passado, Pierre Félix Bourdieu, sociólogo francês, realizou pesquisa sobre a visão da arte e da cultura por parte de operários franceses, descrevendo a total falta de discernimento, pois, quando levados a visitar um museu como o Louvre, por exemplo, declaravam: “as obras são todas iguais”… “não consigo ver a tal beleza de que falam”…”não entendi o que fazia lá e me aborreci”… 
Quem já realizou uma visita guiada dentro de um museu, mesmo tendo referências anteriores das obras lá expostas, pode perceber com clareza a diferença de ter ou não conhecimento profundo sobre uma produção artística em sua própria capacidade de admirá-la. Sabedoria, palavra originada do latim sapere, significa conhecimento extenso sobre algo, e tem no conceito um componente da cultura e tradição de um povo ou comunidade, e por isso culturas diferentes geram distintos modos de sabedoria.
Porém, o quanto a cultura clássica interfere no processo educativo é a questão, num tempo em que ser culto não é o desejo da maioria dos jovens, em algumas comunidades inclusive poderá vir a ser fator de discriminação, de desprezo. A visão de estudantes como clientes de uma unidade escolar também colabora, cada vez menos desejamos contrariar alunos ou ferir suas autoestimas, estamos todos sensíveis a críticas, mesmo que estas sejam feitas com realismo e sem agressões. A dura realidade é que sem poder mostrar aos educandos as suas falhas e carências, não poderemos também mostrar aquilo que as preencheria; sem nos conscientizarmos do “só sei que nada sei”, não poderemos aprender nada. Instruir-se não é rápido, nem tão fácil: necessita resiliência, persistência e fundamentalmente vontade. Nada substitui a determinação de aprender, nenhum professor pode ensinar a quem se recusa a saber algo novo, por melhor e mais didático que seja.
Se falamos (muito) em criatividade, empreendedorismo, inovação, não podemos ignorar que grande parte das empresas valoriza o cumpridor de ordens, o que obedece sem questionar. Que tipo de educação devemos fornecer é um enigma premente nos dias atuais. Além de uma certa banalização da vida diária, é verdadeiro que cada vez mais nos afastamos das atividades culturais. A facilidade de acesso aos filmes de ação, às séries televisivas nem todas de boa qualidade, mas profundamente chamativas, a contínua exposição aos algoritmos computacionais capazes de sugerir programas, viagens, lazer, nos torna um pouco mais vulneráveis e com pouca iniciativa.
Assim, se este resumo do conhecimento humano trazido pela herança greco-romana, pela literatura considerada de mais alta qualidade – porém não tão acessível diretamente quanto livros de autoajuda, pelo teatro, pela música erudita, são mesmo fundamentais na formação de jovens e adultos, é difícil determinar.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.