SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Campeonato Brasileiro masculino de futebol vem sofrendo críticas pela diminuição do número de gols marcados. No último ano, a média foi de 2,18 gol por jogo, a menor desde 1990 (1,89).


Já no feminino, a situação é oposta. Após cinco rodadas, foram 116 gols no torneio deste ano, uma média de 2,9 por partida. Nesse caso, é o número elevado que preocupa dirigentes e técnicos.


Para Marco Aurélio Cunha, coordenador da seleção feminina de futebol, o número maior de gols não é resultado de mais equipes qualificadas ou de melhora do nível técnico dos times, mas do desequilíbrio entre as equipes.


Os clubes com maior poder financeiro se sobressaem em relação aos menos estruturados, resultando em goleadas.


“Na fase classificatória, a média de gols tende a ser alta porque existe um desnível financeiro entre as equipes. Situação semelhante ocorria na Copa do Brasil [masculina]quando nas primeiras fases existiam jogos de ida e volta. Mesmo com a mudança de regulamento, ainda acontecem goleadas. Neste ano, o Santos goleou o Altos-PI”, disse o dirigente, lembrando da vitória santista por 7 a 1 em fevereiro.


Um dos exemplos dessa disparidade está nas folhas salariais do São Francisco, time da cidade de São Francisco do Conde (BA), a cerca de 42 quilômetros de Salvador, que estima gastar cerca de R$ 30 mil por mês, e do Corinthians, que tem investimento mensal de aproximado de R$ 170 mil.


A equipe baiana sofreu duas das quatro maiores goleadas até agora do Brasileiro. Na segunda rodada, perdeu do Internacional por 7 a 0. Na terceira, sofreu 8 a 0 do Santos. A vitória mais elástica até o momento foi aplicada pelo Flamengo, que ganhou do Vitória de Santo Antão por 10 a 0.


“Essa disparidade vai durar ainda um bom tempo. Atualmente, o Corinthians e o Santos são as melhores equipes do Brasil. O Flamengo tem um time certinho e tem conjunto. Acredito que essas equipes ainda vão reinar por um tempo. Para existir um equilíbrio será necessário que os times de camisa que estão começando na modalidade resgatem as jogadoras que estão fora do país”, afirmou Vadão, técnico da seleção feminina.


Arthur Elias, 37, treinador do Corinthians, acredita que a média de gols elevada é resultado da falta de planejamento de alguns clubes, que formaram seus times pouco antes da competição. Além do São Francisco e do Vitória de Santo Antão, o Sport foi um dos que só terminaram de montar o elenco a poucos dias da estreia.


Os técnicos René Simões e Jorge Barcellos, que já dirigiram a seleção brasileira, citam outros motivos para a alta média de gols no torneio.


“Um dos motivos é o nível das goleiras. Elas são menores que os homens e jogam com o mesmo tamanho da baliza. Não vamos conseguir 40 goleiras do futebol feminino em bom nível, enquanto no masculino você encontra”, disse Simões, 66, vice-campeão olímpico pela seleção feminina em Atenas-2004 e que hoje trabalha como coaching de treinadores.


Já para Barcellos, medalhista de prata no Mundial de 2007 e na Olimpíada de Pequim-2008, os gols saem com mais frequência porque os times têm poucas informações sobre os adversários, já que apenas um jogo a cada rodada tem transmissão, pelo Twitter.


“No futebol feminino criam-se muitas oportunidades por não saber como os times jogam. Já no masculino, as equipes estão muito iguais porque o estudo tático é grande e isso ajuda igualar o nível”, diz Barcellos, que também vê evolução no nível das atacantes.


“As equipes competitivas estão aumentando o nível dos times, o que propicia aumentar a qualidade no momento de definição. A qualidade aumentando, melhora a média de gols”, afirma o treinador.