Cido Marques/divulgação – Francisco Estevam de Araújo busca livros – preferencialmente de versos – na Casa da Leitura Walmor Marcelino

Não é apenas para ler que o aposentado Francisco Estevam de Araújo busca livros – preferencialmente de versos – na Casa da Leitura Walmor Marcelino, no Sítio Cercado. “Isso aqui me inspira. É a base sólida e fundamental, a peça-chave dos meus poemas”, diz o leitor, que mal sabia distinguir as letras até os 14 anos e se descobriu poeta há 30 anos. Foi nesta épóca que ele chegou a Curitiba de Bom Conselho, em Pernambuco, vindo com a família em busca de uma vida melhor.

Aos 62 anos, Francisco é o mais antigo e frequente leitor desde que a unidade abriu, há quase dez anos. Agora, para facilitar o contato com autores de sua preferência – como o modernista português Fernando Pessoa, o repentista cearense Patativa do Assaré e o barroco Gregório de Matos – mora na mesma rua da Casa da Leitura.

“Leio bastante mas não para fazer igual. Leio para ver a beleza da poesia e achar o meu jeito de fazer versos”, diz ele, que faz poemas sobre paz, Natal e Curitiba, a quem homenageou com Curitiba, Linda Cidade. “É um agradecimento à cidade que me acolheu”, justifica Francisco.

Trajetória rumo à poesia – Ex-agricultor que conseguiu terminar o curso de Magistério, Francisco foi professor de Ensino Fundamental na sua cidade natal e sonhou ser jornalista. A poesia nasceu “pra valer” somente quando chegou em Curitiba, em 1989.

“Chegar aqui me destampou a beleza dos versos. Aí que eu comecei a escrever as ideias que vinham na minha cabeça”, lembra ele, que trabalhou em áreas completamente diferentes: foi cobrador e auxiliar administrativo de uma empresa de ônibus.

As áreas de atividade profissional não eram a sonhada. Mas a proximidade com a leitura e, mais que isso, com o ato de escrever jamais abandonaram Francisco. Que o digam os bolsos das camisas pesados de tantas canetas. “Carrego as canetas para escrever quando a poesia vem, quando o verso começa a incomodar até que eu consigo por no papel. E se não tiver papel, vai na palma da mão mesmo”, explica.

Até a inauguração da Casa da Leitura, o leitor-poeta visitava a biblioteca situada na Rua da Cidadania do Bairro Novo também para participar de oficinas de texto, que o ajudaram a compor os poemas que carrega numa pasta de mão. A solução para transportar seus trabalhos veio depois de muita insistência do agente de leitura Leandro Aristeu, de tanto ver Francisco entrar e sair com uma sacola simples e cada vez mais recheada de papéis.

“A ideia inicial era que ele mantivesse tudo organizado em pastas do tipo fichário, mas ele acabou adaptando o jeito de guardar o material”, diz Leandro.

Em busca de uma editora – A meta de Francisco é publicar em vida suas poesias, que em parte estão guardadas com ele. Uma quantidade razoável dos textos está com a equipe da Casa da Leitura. Enquanto o projeto do livro não se concretiza, a também agente de leitura Kely Medeiros ajudou Francisco a criar um blogue. “É para facilitar o acesso do público aos textos e ao mesmo tempo reduzir custos”, conta Kely.

Francisco gostou da ideia e começou a alimentar com os versos nascidos em situações tão diferentes quanto os momentos em que caminha ou perto da hora de dormir. No entanto, não esconde a preferência pelo velho livro impresso. “Não é vaidade não”, justifica. “É um sonho, para não ver os versos mortos, perdidos por falta de quem leia. Acho que vão ler mais no livro que na internet”, explica, referindo-se aos cerca de 200 inéditos que estima ter guardados.

Mesmo sem ter livro publicado, ele já é conhecido por seus versos e já é chamado de poeta por moradores da região que também frequentam a Casa da Leitura. Nas duas reuniões anuais do Intercâmbio Poético – uma espécie de sarau artístico em que os moradores da região mostram o que sabem fazer no campo das artes – há quem vá para vê-lo recitar seus poemas.