O Brasil tem possibilidade de alterar os rumos de sua política ambiental para traçar um caminho ao encontro do cumprimento das metas para mitigar as mudanças climáticas. A questão primordial para isto é a adoção de uma governança ambiental que aponte para este sentido. Essa foi uma das conclusões do painel “Brasil: Metas Climáticas”, realizado nesta terça, 13, durante a Brazil Conference, evento organizado por estudantes brasileiros em Boston (EUA) em parceria com o Estadão.

O painel teve participação da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, fundadora do partido Rede Sustentabilidade; da professora da Universidade de Brasília (UnB) Mercedes Bustamante e do fundador da FAMA Investimentos, Fabio Alperowitch. A conversa foi mediada pelo coordenador executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças do Clima, Oswaldo Lucon.

Marina destacou que o governo federal tem condições de reorganizar as relações entre Ibama e Polícia Federal para combater as ações de desmate ilegal na Amazônia. “Em 10 anos, conseguimos reduzir em 80% o desmatamento”, disse a ex-ministra, ressaltando que as ações de fiscalização que chegaram a esse resultado foram financiadas com recursos do Fundo Amazônia e do Fundo Clima.

“É preciso um governo que queira fazer”, disse, sem citar diretamente o presidente Jair Bolsonaro “Às vezes, é preciso fazer coisas que são impopulares. Chegamos a prender mais de 700 pessoas, empresários, e 125 funcionários (públicos ligados aos desmatadores ilegais)”. Marina citou o atual ministro, Ricardo Salles, ao lembrar que todos os seus antecessores, tiveram preocupações em manter essas políticas.

A professora Mercedes destacou que as principais emissões de carbono do Brasil são resultantes desmatamento e da agropecuária, e pontuou que, mesmo que o País cumpra as metas de redução que estabeleceu em 2015, seguindo o Acordo de Paris, já não devem ser suficientes para alterar a trajetória de aumento de 1,5º C da temperatura da Terra. Mercedes também apontou que ações que indiquem uma governança voltada para o cumprimento das metas é o primeiro passo para que tais objetivos sejam alcançados.

Alperowitch lembrou que, embora a imagem do Brasil, em especial no exterior, esteja ligada às ações do governo, “o País não é um monobloco” e as empresas também têm papel ativo na construção de ações para redução do desmatamento e cumprimento das metas para enfrentar as mudanças climáticas. “Você se diz liberal, defensor de um Estado pequeno, mas quando surge um problema geral, o empurra para o Estado.”

Agro

Mais cedo, outro debate na conferência discutiu o setor agropecuário. Com a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, o ex-diretor do Embrapa Décio Gazzoni, o diretor de Sustentabilidade da Bunge Michel Santos, o professor de Agronegócio do Insper Marcos Jank, o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio Marcello Britto, as discussões, mediadas pelo cofundador do Imazon Beto Veríssimo, abordaram casos de sucesso do setor agrícola brasileiro em aumentar a produtividade e reduzir o desmatamento, e as vantagens de uma agenda verde para o setor exportador.

Na parte da manhã, o evento teve ainda participação do ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, que tratou das estratégias energéticas do País. Segundo Albuquerque, “o sucesso da transição energética global dependerá em grande medida da utilização de todas as tecnologias e fontes viáveis, com o objetivo de fazer frente à necessidade de reduzir de forma abrangente as emissões de dióxido de carbono”.

Albuquerque citou ações do governo para modernizar o setor elétrico e destacou o potencial para o desenvolvimento de fontes alternativas de geração de energia. “É o caso do hidrogênio que estamos fazendo progressos muito interessantes”. O ministro também comentou que o Renovabio tem se provado eficiente e que o primeiro ano do mercado de créditos de descarbonização gerou resultados positivos, mesmo no contexto da pandemia. “Devemos dar novos passos em breve com o lançamento do combustível do futuro”, afirmou.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.