SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Tal como a dor, que serve como uma espécie de alarme que nos adverte sobre ameaças ao nosso corpo e a nossa saúde, o medo faz com que fiquemos atentos a situações de perigo. Por outro lado, assim como a dor, que em excesso significa desconforto, o medo demais nos deixa paralisados -a ponto, inclusive, de contribuir para que perdemos oportunidades importantes ao longo da vida, por exemplo. 


Essa é a premissa de “Tito e os Pássaros” animação brasileira que estreia nos cinemas do país nesta quinta-feira (14): um medo que paralisa e contagia em meio à avalanche de notícias alarmantes que alimentam famílias apavoradas.


Exibido em mais de 80 festivais pelo mundo, o filme foi indicado ao prêmio Annie de melhor animação independente, o principal do segmento nos EUA. Também foi um dos 25 filmes pré-indicados ao Oscar de melhor animação.


“As razões do medo são diferentes, mas existe a clara percepção de que esse medo é uma coisa que está cada vez mais exacerbada, que existe uma conexão com a mídia e que essa cultura do medo está tendo resultados políticos, econômicos e sociais muito claros”, diz Gustavo Steinberg, um dos diretores do longa que também contou com o trabalho de Gabriel Bitar e André Catoto. 


O filme conta a história de Tito, um menino de dez anos que, com seu pai, um estudioso de pássaros, se empenha em encontrar a cura para uma estranha epidemia de medo que faz as pessoas paralisarem e virarem pedras. A aventura de Tito é acompanhada pelos seus amigos Sarah e Buiu.


Numa espécie de “Ensaio Sobre a Cegueira” (2008), o mundo vai ficando fantasma e somente uma pessoa, no caso do filme infantil, o pequeno Tito, não se contamina -no drama de Fernando Meirelles adaptado do livro homônimo de José Saramago, uma única mulher no mundo não perde a visão na onda de uma misteriosa epidemia que deixa a população completamente cega.


Tito mora com apenas com a mãe, Rosa, desde que um acidente com um experimento do pai, o Dr. Rufus, o levou ao hospital, aos sete anos. Superprotetora, a mãe culpou o pai, que acabou expulso de casa. Anos depois, surge a tal epidemia que transforma as pessoas em pedra, contagiando um a um -para ser contaminado, basta se assustar ao ver alguém infectado pela doença. 


Ninguém sabe a origem ou como conter a enfermidade. A única pista vem de Tito, que, inspirado nos estudos de seu pai, observa uma relação do surto com pombos.


“Nós, adultos, criamos esse caos todo ai, então talvez as crianças tenham uma resposta melhor que a gente para isso que está acontecendo”, afirmou Steinberg. “Eu acho que se existe alguma saída para o nosso mundo, ela está em discutir com as novas gerações, e não simplesmente ficar falando que elas são X, Y ou Z e que consomem de tal forma. Vamos discutir o que é o nosso mundo se a gente quiser que ele continue existindo.” 


Embora não fique explicitamente claro, como observado em uma crítica do jornal americano The New York Times, o desenrolar do filme sugere que a disseminação da doença seja estimulada pelo alarmismo da mídia. Por trás dos panos da imprensa estariam os interesses de um empreendedor imobiliários, Alaor Souza -que também faz o papel de prefeito da cidade e vilão da história.