GUILHERME MAGALHÃES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ano de 2017 foi o mais seguro da história da aviação comercial, segundo a organização independente Aviation Safety Network, que monitora acidentes aéreos desde 1996. O banco de dados da entidade, baseada na Holanda, remonta ao ano de 1919.
Foram dez acidentes -cinco com aviões de passageiros e cinco com cargueiros- e 44 mortes de ocupantes no ano passado. O número de vítimas caiu 85% em relação ao registrado em 2016: 303 mortes em 16 acidentes.
Mesmo incluindo-se as ocorrências da aviação militar, as 230 vítimas em 24 acidentes são os números mais baixos da série histórica.
Para o especialista em aviação Gianfranco Beting, a notícia não foi uma surpresa. “Novos sistemas, novas aeronaves, novos padrões de treinamento vão se somando para criar um novo patamar de segurança que é inédito. O normal vai ser não ter acidentes”, afirmou ele à reportagem.
Beting lembra que os grandes acidentes dos últimos anos já não haviam sido provocados por falhas técnicas, e sim por interferência humana. O Airbus A320 da alemã Germanwings que se chocou contra os Alpes franceses em março de 2015, com 150 pessoas a bordo, foi derrubado pelo copiloto, que decidiu cometer suicídio.
Em julho de 2014, um míssil derrubou um Boeing 777 da Malaysia Airlines, causando 298 mortes. Quatro meses antes, outro 777 da mesma companhia desapareceu no oceano Índico com 239 pessoas a bordo. A investigação aponta que o avião foi desviado da rota original depois de seu transponder ter sido deliberadamente desligado.
O governo malaio anunciou nesta quarta (3) que retomou as buscas pela aeronave, interrompidas há um ano.
O ano passado registrou ainda outros dois recordes positivos. Em 31 de dezembro, a aviação chegou ao 398º dia sem acidente de um jato comercial de companhia aérea -o último foi o ocorrido com o avião da LaMia em novembro de 2016, que caiu na Colômbia e deixou 71 mortos, entre eles grande parte do time da Chapecoense.
Além desse, chegou-se ao recorde de 792 dias sem acidentes com mais de cem vítimas envolvendo aviões civis.
TRUMP
Ao reproduzir em uma rede social a divulgação dos dados da organização holandesa, o presidente americano, Donald Trump, tentou levar o crédito pelo resultado.
“Desde que assumi o cargo tenho sido bastante rigoroso com a aviação comercial. Boas notícias – acaba de ser anunciado que houve zero mortes em 2017, o melhor e mais seguro ano na história”, afirmou Trump, cometendo um erro ao citar que não houve vítimas.
A declaração do presidente dos EUA, para o especialista, “é demagógica”. “Ele não tomou nenhuma decisão que favorecesse ou prejudicasse a aviação”, disse Beting.