RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O apoio dos moradores da cidade do Rio de Janeiro à presença do Exército vem caindo nos últimos dez meses, apesar de ainda ser majoritário. O índice dos que são a favor da convocação dos militares diminuiu de 76%, em março, para os atuais 66%, enquanto aqueles que são contrários passaram de 20% para 27%.

Desde outubro de 2017, quando o Datafolha fez essa pergunta pela primeira vez, a aprovação às Forças Armadas na capital fluminense já perdeu 17 pontos -naquele mês, eram 83% favoráveis ao emprego de militares para combater a violência no Rio.

O Exército está nas ruas da cidade desde julho de 2017, quando o presidente Michel Temer (MDB), diante de uma grave crise financeira e de segurança pública, decretou a chamada operação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem).

A medida deu poder de polícia às Forças Armadas no estado até o fim deste ano, mas pode ser renovada.

A queda do apoio na pesquisa coincide com a intervenção federal, determinada por Temer de forma inédita na segurança pública no estado em fevereiro, e com a falta de informações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), em março.

A aprovação ao Exército é menor entre as mulheres, os pretos e os que têm de 16 a 24 anos. Também é inferior entre os mais escolarizados e com renda familiar mensal de mais de dez salários mínimos.

A pesquisa do Datafolha, numa parceria da Folha de S.Paulo e da TV Globo, foi realizada nesta segunda (20) e terça-feira (21), com margem de erro de até quatro pontos percentuais, para mais ou para menos. Foram entrevistados 542 moradores da cidade do Rio de Janeiro com 16 anos ou mais.

O levantamento também mostra que a maioria continua achando que a presença dos militares não fez diferença na violência até agora (59%). Os que acreditam que a ação do Exército piorou a situação vêm crescendo: de 2% para 12% nos últimos dez meses.

Na segunda-feira, a cidade do Rio teve um dia sangrento, com confrontos, ônibus queimado e transporte paralisado por causa da violência. Só nesse dia foram 11 suspeitos mortos pela polícia e dois militares do Exército mortos em operação em favelas da zona norte –um terceiro soldado baleado na ocasião acabou morrendo nesta quarta (22).

Esses foram os três primeiros integrantes do Exército mortos em confronto com criminosos desde o início da intervenção federal na segurança do Rio, que completou seis meses no último dia 16.

A medida ainda não conseguiu reduzir os homicídios, acumula o maior índice de mortes por policiais desde 2008 e tem retirado menos armas das ruas.

Com a intervenção, na prática, as polícias, os bombeiros e o sistema penitenciário estão sob o comando federal, que nomeou interventor o general Walter Souza Braga Netto, do Exército. Ela ocorre paralelamente à operação de Garantia da Lei e da Ordem.

A intervenção vale até 31 de dezembro. Em entrevista à Folha publicada no sábado (18), o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou que ela deve acabar no prazo previsto, pois os responsáveis pela medida demonstraram não querer a sua renovação.

Em junho, Jungmann chegou a defender que a intervenção fosse renovada para, pelo menos, dezembro de 2019. Mas, vencido na discussão interna, o ministro optou pelo "meio-termo", que seria a continuidade "da reestruturação das forças de segurança" no Rio e a manutenção da operação de GLO no ano que vem.