DIOGO BERCITO
MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – Após quase uma semana de manifestações contrárias ao governo, milhares de iranianos foram às ruas nesta quarta-feira (3) demonstrar apoio ao líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei. Seus simpatizantes empunhavam bandeiras nacionais, nas imagens transmitidas pela TV oficial.
Os protestos anti-regime, por sua vez, arrefeceram depois de ao menos 450 pessoas terem sido detidas somente na capital, Teerã. Desde seu início, na quinta-feira passada (28), 22 pessoas foram mortas, incluindo um policial e uma criança de 11 anos.
A onda de protestos começou em um reduto conservador no nordeste do país, inicialmente motivada pelas agruras econômicas -o desemprego entre jovens ultrapassa os 40% em algumas regiões do país, segundo estimativas não oficiais. Mas, nas ruas, os manifestantes mais tarde incorporaram slogans políticos e passaram a pedir uma mudança de regime.
As manifestações rapidamente atraíram a atenção no país e fora dele por evocar a massa de milhões que foram às ruas em 2009 protestar contra a reeleição do então presidente Mahmoud Ahmadinejad. Mas há uma diferença fundamental, alertam os analistas: se em 2009 era um movimento de classe média, agora a mobilização é da classe trabalhadora.
O líder supremo Khamenei fez sua primeira declaração pública na terça-feira (2), culpando “inimigos” da República Islâmica pela crise. Ele não deu nome aos desafetos, mas a sua mensagem parecia destinada a países como os EUA, o Reino Unido e a Arábia Saudita.
Nas manifestações pró-governo desta quarta-feira, eram ouvidos gritos de “líder, nós estamos prontos” e de “oferecemos o sangue em nossas veias ao nosso líder”, segundo a agência de notícias AFP. Devido às restrições impostas pelo governo, que dificulta o trabalho da imprensa no país, há escassa informação confiável vinda de suas cidades. Redes como Instagram e Telegram foram bloqueadas.
Já há anos existe insatisfação quanto à economia, em uma população com baixo poder de compra e crescente percepção de corrupção. Mas havia alguma expectativa de melhora com o acordo nuclear de 2015, que levantaria sanções e traria investidores ao país.
O acordo, no entanto, é contestado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que pode decidir neste mês manter as sanções.
O presidente do Irã, Hassan Rowhani, tem tido dificuldade de apaziguar as reivindicações populares.
Isso explica, em parte, por que desta vez -em comparação com 2009- os protestos se espalharam por áreas mais pobres do país, em vez de se concentrar na capital, Teerã. Regiões rurais foram especialmente afetadas nos últimos anos pela seca e pela falta de investimentos.