NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – As apreensões de famílias imigrantes na fronteira dos Estados Unidos com o México cresceram 175,8% em agosto em relação ao mesmo mês de 2017 e atingiram um patamar recorde para o mês, informou o serviço de Alfândega e Proteção das Fronteiras dos Estados Unidos (DHS, na sigla em inglês) nesta quarta-feira (12).

Foram 12.774 famílias apreendidas enquanto tentavam entrar ilegalmente no país pela fronteira sul. Em agosto de 2017, o total foi de 4.631. 

Especialistas consideram o ano passado atípico no que diz respeito a essas estatísticas: houve queda nas tentativas de entrada ilegal nos EUA no primeiro semestre em decorrência da cautela com o governo recém-eleito de Donald Trump.

O movimento voltou a acelerar na segunda metade do ano, quando consideraram que não haveria -pelo menos até então- uma mudança brusca em relação às políticas adotadas pelo democrata Barack Obama.

Além de recorde para agosto, as 12.774 famílias apreendidas representam ainda um aumento mensal depois de três meses de queda: o crescimento foi de 38,1%.

O governo americano atribuía a diminuição observada em maio, junho e julho aos efeitos da política de tolerância zero adotada em abril e que incluía medidas como a separação de famílias flagradas tentando entrar ilegalmente nos EUA.

O aumento de agosto, segundo Tyler Houlton, porta-voz do DHS, é um “claro indicador” de que os fluxos migratórios estão respondendo a “brechas” no arcabouço regulatório americano.

“Enquanto os números gerais são consistentes com um esperado aumento sazonal, o número de unidades familiares ao longo da fronteira sul aumentou 38% -3.500 a mais que em julho e recorde para agosto”, afirmou, no comunicado.

“Contrabandistas e traficantes conhecem nossas frágeis leis de imigração melhor que a maioria e sabem que se uma unidade familiar entrar ilegalmente nos EUA, ela deve ser liberada para o interior [do país]”, disse Houlton. O DHS deve liberar famílias que entram ilegalmente no país dentro de 20 dias após a apreensão.

O porta-voz ressaltou que a maioria das famílias liberadas, apesar de não ter direito a permanecer no país com status legal, não deixa os EUA e também não é removida.

No terceiro trimestre do ano fiscal de 2018, apenas 1,4% das unidades familiares foi repatriada a seus países de origem –entre os exemplos citados por Houlton estão El Salvador, Guatemala e Honduras.

O ano fiscal considerado pelo DHS começou em outubro de 2017 e termina neste mês.

Em agosto, as autoridades apreenderam um total de 37.544 indivíduos tentando entrar no país pelo México, um aumento de 68,4% em relação a um ano antes e de 19,95% na base mensal. No ano fiscal de 2018, o total de apreendidos na fronteira sul chega a 355.106 –foram 281.379 no mesmo intervalo do ano passado.

Além disso, 9.016 pessoas foram consideradas inadmissíveis, alta de 8,9% ante agosto de 2017 e de 4,2% contra julho.

A política de tolerância zero foi responsável por separar cerca de 3.000 crianças de seus pais. Os menores foram enviados a abrigos espalhados pelos EUA.

Segundo a ACLU, organização de defesa dos direitos civis, 416 menores ainda estavam separados dos pais em 4 de setembro, sendo 14 com menos de cinco anos. Um juiz federal de San Diego havia determinado que todas as famílias fossem reunidas até 26 de julho.

A forte reação negativa tanto doméstica quanto internacional forçou o presidente Donald Trump a assinar, em 20 de junho, um decreto para proibir a prática.

A Administração republicana esperava que a separação tivesse o impacto de inibir outras famílias de fazerem a travessia em direção aos EUA. Especialistas, porém, alertavam que era preciso avaliar o movimento de outros meses para saber se a tolerância zero teve o efeito desejado ou não.

Isso porque muitos fatores podem influenciar o fluxo de imigrantes, principalmente no Verão [hemisfério Norte]. O calor intenso é um deles, já que a jornada é extensa e inclui áreas descobertas sob o forte sol e muita chuva.

Apesar de revogar a separação de famílias, o governo continua apertando o cerco contra a imigração ilegal. Uma das práticas usadas tem sido a combinação de esforços de órgãos oficiais para deportar aqueles que buscam a cidadania americana depois de se casarem com um cidadão do país.