Vinícius Mazzon

Cerca de 2 mil alunos do ensino fundamental (1ª ao 5ª ano), de cerca de 10 escolas municipais de Curitiba, foram beneficiados, de fevereiro a julho deste ano, com 60 oficinas de cerâmica indígena. O projeto chama-se Tauá – A Arte Indígena da Cerâmica e chega agora também aos professores. Na próxima segunda-feira, dia 13 de agosto, serão ministradas duas oficinas de capacitação para professores que desejam aprender a metodologia e utilizá-la com seus alunos.

Eles receberão conhecimentos históricos e culturais da utilização da cerâmica pelas culturas indígenas e mundial e realizarão atividades práticas de manipulação da argila utilizando a técnica do acordelado, comum à quase totalidade das comunidades indígenas, a fim de multiplicar as ações propostas pelo projeto.

Tauá significa argila em Tupi Guarani e a iniciativa, além de promover o exercício e a valorização do trabalho artesanal, visa destacar a importância, a beleza e a riqueza da cultura indígena brasileira, em especial a cultura da cerâmica. O entusiasta desta ideia e criador do projeto é o artesão, arte educador e músico Fabio Mazzon, que desde 2004 produz peças de cerâmica a partir de pesquisas de técnicas ancestrais de modelagem e decoração utilizadas por povos originais e indígenas brasileiros. Além de Mazzon, outro ministrante da oficina é o artesão e pedagogo Pietro Rosa que há anos desenvolve trabalhos com crianças, inclusive com necessidades especiais.

“A argila, como material, é um elemento natural que oferece muitas possibilidades: alimenta a fantasia, exercita a paciência, a concentração, estimula a imaginação, o espírito criador, a sensibilidade e ainda desenvolve o conhecimento cognitivo e a psicomotricidade”, destaca Mazzon. “Tendo como referência a cultura e a sabedoria dos nossos povos nativos ancestrais, decifrando mistérios, dominando técnicas e colocando as mãos na massa, as crianças terão a oportunidade de reconhecer sua capacidade de criar, reproduzir e produzir, tendo a argila como elemento para sua expressão individual”, complementa.

O formato da oficina será o mesmo proposto aos alunos, eles serão recepcionados ao som de músicas indígenas tradicionais de diferentes etnias, tendo como ambientação um cenário composto por imagens que retratam a técnica do acordelado, técnica utilizada na oficina, e também peças originais de adornos e artefatos (cocar, colares, cintos, instrumentos musicais, zarabatana, cerâmicas…) confeccionados por diferentes povos indígenas (Guarani, Kaingang, Fulni-ô, Yanomami, Tikuna, Baniwa etc.) de diferentes regiões do país. Os professores serão introduzidos ao tema a partir de histórias e mitos sobre a argila e conversa sobre a diversidade dos povos indígenas brasileiros, sua riqueza, importância e sabedoria. Cada um confeccionará uma peça que poderá ser levada para casa. A duração da oficina é de 1 hora e 40 minutos.

 “A possibilidade de confeccionar algo com as próprias mãos é extremamente saudável e fundamental para o desenvolvimento humano. Esse tipo de atividade não só estimula a valorização das artes manuais, mas também a criatividade e a socialização”, declara Rosa.

A cerâmica no Brasil
Existem hoje registradas no Brasil mais de 250 sociedades indígenas, cada qual com sua cultura, seus costumes, suas crenças, sua arte.
A cerâmica é muito presente nestas sociedades, faz parte da cultura material destes povos nativos e carrega significados a serviço da manutenção da tradição de cada povo e da continuidade de sua identidade. Utilizando como ferramentas gravetos, cipós, penas, pedras, sementes e principalmente as mãos, criam panelas, vasilhas, vasos, cachimbos, apitos, brinquedos, urnas funerárias, instrumentos musicais, peças que posteriormente são decoradas com pigmentos naturais como o urucum e o jenipapo.

No Brasil, a cerâmica tem seus primórdios registrados na Ilha de Marajó, no Pará. A cerâmica marajoara tem sua origem na avançada cultura indígena que floresceu na Ilha. Estudos arqueológicos, contudo, indicam a presença de uma cerâmica mais simples, que ocorreu ainda na região amazônica por volta de 5.000 anos atrás.

A confecção de artefatos em argila é um aspecto presente na maioria das comunidades indígenas brasileiras. Em algumas comunidades a cerâmica é lisa, exclusivamente utilitária, em outras, além de utilitárias, encontram-se peças decorativas nas quais sobressaltam a beleza e variedade das formas, grafismos e pinturas, como é o caso das cerâmicas Marajoara, Tapajônica, Kadiwéu e Asurini. Onde for, a cerâmica mostra-se imbuída de cultura e extremo valor, acompanhando a história e o desenvolvimento da raça humana.

Este projeto foi viabilizado por meio da LEI MUNICIPAL DE INCENTIVO À CULTURA e FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA e conta com o incentivo do Shopping Muller.