SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A atuação social das companhias influencia o consumo de seus produtos e elas são responsáveis, junto com o governo, pelo combate ao uso de mão de obra infantil. 

As conclusões são baseadas em pesquisa encomendada pela Abrinq, organização que defende direitos e exercício da cidadania de crianças e adolescentes. Foram entrevistadas 1.068 pessoas em todas as regiões do país, homens e mulheres com idade entre 25 e 70 anos, em dezembro de 2017. Os resultados foram apresentados a líderes empresariais em São Paulo.

O levantamento buscou avaliar também que iniciativas estimulam a formação de uma imagem positiva das empresas junto aos consumidores.

Entre as mais votadas, estão: manter programas de aprendizagem para jovens  (34%), colaborar com escolas, postos de saúde e entidades sociais (32%), não colocar em campanhas grupos sociais em situações constrangedoras, preconceituosas ou abusivas (28%), adotar práticas de combate à poluição (24%) e atacar a violência contra crianças e adolescentes (24%).

Segundo a pesquisa, o consumidor valoriza empresas que atuem na promoção da educação, do meio ambiente, da saúde e do combate ao trabalho infantil. Ganham valor aos olhos dos consumidores as empresas que colaboram com a limpeza do meio ambiente (48%), melhoram cuidados com a saúde da população (44%), melhoram a educação (41%), trabalham para prevenir aumento da criminalidade (38%) e ajudam a oferecer uma educação infantil de qualidade (37%).

Desde 1995, a Abrinq tem uma iniciativa específica para engajar o setor empresarial na prevenção e combate à exploração da mão de obra infantil e estimular o investimento social privado, o Programa Empresa Amiga da Criança (PEAC). 

Podem participar da iniciativa empresas que têm como compromissos não explorar o trabalho infantil e não permitir esse tipo de atividade em sua cadeia produtiva; realizar ações sociais em benefício de crianças e adolescentes e promover a formação profissional e o acesso ao emprego protegido para adolescentes. 

Além disso, estão vetadas empresas produtoras, beneficiárias e comerciantes de fumo, armas de fogo e bebidas alcoólicas. 

As empresas ganham um selo que as identifica como signatárias do programa. Em 2017, o PEAC reuniu 842 companhias – 819 empresas e por 23 cooperativas-, de 23 Estados. As empresas  apresentam anualmente os números relativos à sua atuação social, descrevendo os programas e projetos, valores investidos e número de beneficiados. No ano passado, foram investidos R$ 411,1 milhões, somando investimento direto (R$ 316,2 milhões),  leis de incentivo (R$ 67,4 milhões) e fundos (R$ 27,4 milhões).

PRESSÃO SOBRE FORNECEDORES 

Uma das maneiras de combate ao trabalho infantil é ampliar o veto a toda a cadeia de fornecedores. É nesse aspecto que a atuação de grandes empresas pode encontrar maior repercussão. 

Para colocar isso em prática, as empresas são aconselhadas a inserir uma cláusula em contrato que encerra negócios com o fornecedor caso ocorra trabalho infantil. A ideia tem encontrado respaldo:  62% das participantes declaram que inserem a cláusula nos seus contratos. 

A pesquisa realizada com consumidores aponta que  80% deixariam de comprar produtos e ou serviços de empresas que utilizassem mão-de-obra infantil, 13% não deixariam e 7% não sabem.

O programa recomenda também ações educativas e de esclarecimento junto a clientes, funcionários e comunidade para o combate do trabalho infantil e a contratação de aprendizes.

A Abrinq estimula a prática da aprendizagem como forma de combate à contratação ilegal dos jovens. Entre as empresas participantes, 64% dizem ter obrigação legal de contratação de jovens aprendizes.

CONSUMIDORES AVALIAM 

Para avaliar os resultados obtidos ao longo dos 23 anos de iniciativa, a Abrinq fez um mapeamento interno de suas associadas e um levantamento com consumidores. 

“O que nos chamou a atenção foi que o consumidor está hoje mais interessado em como as empresas se posicionam e o que elas estão fazendo. E isso direciona a compra”, avalia Denise Rosário, gerente executiva da Abrinq.

“Em condições iguais de produto e preço, as pessoas dão preferência aos produtos de empresas com compromisso social e ético”, diz. “O consumidor cada vez mais entende que as empresas têm de ajudar a diminuir as distâncias entre pobres e ricos”.

Outra conclusão do levantamento, segundo ela, é de que o selo se tornou um meio de comunicação eficaz. 

“No passado, não havia compreensão sobre o significado do selo e nem sobre que tipo de investimento ele representava, o investimento social”, afirma. 

Em 2017, foram investidos R$  400 milhões em ações sociais para crianças e adolescentes pelas participantes do programa, em 2.584 ações, com destaque para Assistência Social (349 ações, que correspondem a 24%) e Educação (304 ações, equivalentes a 21%). Como resultado, foram atingidas 17 milhões de crianças e adolescentes.

ECA FAZ 28 ANOS E CERCA DE 2 MILHÕES TRABALHAM 

O Estatuto da Criança e do Adolescente comemorou 28 anos na última sexta-feira (13 de julho). Apesar de ser considerado um marco importante para a defesa dos direitos desses grupos vulneráveis, de acordo com dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), de 2016, o Brasil tinha 1,8 milhão de crianças e adolescentes em situação de trabalho. 

Segundo a Abrinq, há um outro dado importante que deve ser levado em conta: há 716 mil crianças trabalhando para consumo próprio, segundo o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI).

Ainda de acordo com a Abrinq, há 93 atividades categorizadas na lista das piores formas de trabalho infantil no país,  entre elas exploração sexual, tráfico de drogas, trabalho informal urbano, agrícola, doméstico e na construção civil, além de aliciamento para atividades ilícitas e formas análogas à escravidão, como sujeição por dívida, servidão e trabalho compulsório. 

Uma das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU é a erradicação do trabalho infantil em todas as suas formas até 2025.

RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA

Um dos tópicos da pesquisa realizada pela Abrinq mostra a que agentes os consumidores atribuem responsabilidade sobre questões sociais e ambientais. 

Na maioria dos casos, os entrevistados apontam para uma responsabilidade compartilhada entre governo e empresas.

Segundo a pesquisa, 69% dos consumidores entendem que empresas e as instâncias de governo são corresponsáveis pela não utilização de mão de obra infantil, e 64% acham que o cumprimento das cotas de aprendizagem também é responsabilidade de ambos.

Para 57%, também empresas e governo devem ajudar a reduzir a distância entre ricos e pobres e, para 56%, os dois têm responsabilidade de reduzir violações de direitos humanos.