As instituições financeiras estão entre as mais lucrativas do país, mesmo depois do golpe de 2016 e da conjuntura de  grave crise política, econômica, estrutural e social. Em 2017, o lucro líquido dos cinco maiores bancos que atuam no país (BB, Caixa, Itaú, Bradesco e Santander) totalizou R$ 77,4 bilhões, valor 33,5% maior que em 2016. Nos primeiros três meses de 2018, essas mesmas instituições já lucraram R$ 20,6 bilhões, representando alta de 20,4% em doze meses.

Já a contrapartida para a sociedade não existe. Começa pelo descaso com os trabalhadores da categoria, que agora lutam pela manutenção de direitos historicamente conquistados e incorporados ao longo dos últimos 25 anos na Convenção Coletiva de Trabalho, que é nacional, e garante os mesmos benefícios para os bancários de todas as regiões do país. A média dos últimos seis anos e meio é de mais de 700 trabalhadores bancários desempregados todos os meses no Brasil, com o fechamento de 57 mil postos de trabalho no período de janeiro de 2012 a junho de 2018. Somente em 2017, mesmo com o lucro de R$ 77 bi, os bancos fecharam 20 mil vagas. Demitem sem contratar.

“Amanhã teremos reunião com os representantes dos bancos para discutir o tema Emprego. Não tem como tratar deste assunto sem fazer uma analogia com a lucratividade dos bancos. Os resultados do primeiro trimestre deste ano mostram que independente da situação econômica que o país atravessa, a lucratividade dos bancos é sempre maior que do ano anterior. Não há porque ter redução no número de vagas. Gerar emprego é contribuir social e econômicamente, é o mínimo que a sociedade brasileira espera dos banqueiros nesse momento”, explica Junior Cesar Dias, presidente da Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Paraná (FETEC-CUT-PR) e um dos dois representantes dos trabalhadores bancários do Paraná nas negociações com a Fenaban.

Relatório mais recente da Pesquisa do Emprego Bancário, divulgada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), revela que os bancos fecharam 2.846 postos de trabalho no Brasil no primeiro semestre de 2018, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Desde janeiro de 2016, em apenas 4 meses os saldos foram positivos (janeiro de 2016, julho e novembro de 2017 e janeiro de 2018). Nesse período, foram 16.794 desligamentos no país no setor bancário. As demissões sem justa causa representaram 55,1% do total de desligamentos no setor bancário entre janeiro e junho de 2018. O Paraná é um dos três estados com maiores saldos negativos, atrás somente de São Paulo e Rio de Janeiro. Foram fechados 366 postos de trabalho no Paraná, na contabilização de demissões em que as vagas não foram substituídas pelos bancos empregadores.

As saídas a pedido do trabalhador representaram 37,1% dos tipos de desligamento. Nesse período foram registrados, ainda, 35 casos de demissão por acordo entre empregado e empregador, um dos reflexos da Reforma Trabalhista na categoria. Essa modalidade de demissão foi criada com a aprovação da Lei 13.467/2017, em vigência desde novembro de 2017. Os empregados que saíram do emprego nessa modalidade apresentaram remuneração média de R$ 8.827,74.

Emprego é prioridade na minuta de reivindicações

A Campanha Nacional dos Bancários 2018 tem como uma das prioridades a defesa do emprego. Os reflexos da aplicação da Reforma Trabalhista na categoria bancária já são mensurados com dados e refletem na minuta de reivindicações dos trabalhadores, que pautam propostas das negociações com os banqueiros, como alterações na jornada, extinção da terceirização e dos correspondentes bancários no setor. Em pesquisa realizada pelos dez sindicatos filiados à FETEC-PR com 4.782 bancários do Paraná, 34,51% assinalaram a opção “emprego” como uma das prioridades que o sindicato deve atuar e esse índice segue alto na pesquisa por bancos: 35,39% no BB; 30,88% na Caixa; 37,56% no Bradesco; 31,09% no Itaú; 32,68% no Santander; e 40,34% nos demais bancos. Esse índice estadual é maior que o registrado no país. Em consulta nacional feita pela Contraf-CUT, 15% dos bancários priorizaram garantia do emprego e 14% impedir a terceirização.

Os bancários entregaram proposta aos bancos com 27 artigos que contemplam as diversas formas de abrangência da temática emprego, desde a proteção ao emprego, com garantias contra dispensa imotivada, passando por formação profissional, estabelecimento de jornada, proteção aos trabalhadores diante do cenário de inovações tecnológicas e ampliação das formas de bancarização, se estendendo para artigos que beneficiem também os clientes bancários, para que as condições adequadas de trabalho reflitam na diminuição das filas nas agências, por exemplo. O movimento sindical bancário defende o fim dos correspondentes bancários e que os serviços prestados por agências digitais sejam feitos exclusivamente por trabalhadores enquadrados na categoria bancária e protegidos pela convenção coletiva. Essa garantia preserva a qualidade no atendimento e o sigilo bancário.

O artigo 43 da minuta estabelece, a pedido dos bancários, a suspensão imediata da implantação de qualquer processo de terceirização, com reversão das áreas terceirizadas. O artigo 39 também garante que não sejam realizadas demissões em massa e a chamada rotatividade, prática naturalizada pelas instituições financeiras, que demitem bancários com maiores salários para contratar outras pessoas com menor remuneração.

Medidas cruciais para que a população não seja obrigada a esperar atendimento em filas além do que estabelece a legislação são o aumento das contratações, a ampliação do número de bancários nos caixas de atendimento presencial, de modo a evitar a sobrecarga de trabalho. Esses itens estão previstos nos artigos 59 e 60 da minuta. Os bancários também reivindicam a redução da jornada de trabalho diária para cinco horas, totalizando 25 horas semanais, sem redução salarial. A extensão do horário de funcionamento das agências para das 9h às 17h também deve estar condicionada ao estabelecimento de turnos de trabalho. Essas reivindicações estão previstas nos artigos 54 e 58 da minuta. Atualmente a jornada legal da categoria é de 6 horas diárias.