SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O BNP Paribas cortou sua estimativa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro neste ano de 2% para 0,8%, prevendo assim que o desempenho de 2019 ficará abaixo do registrado no ano anterior (1,1%).


O banco já havia reduzido há alguns meses sua projeção de 3% para os então 2%, citando incerteza fiscal elevada, desemprego alto e recuperação lenta dos investimentos.


O cenário projetado pelo BNP agora é mais pessimista do que aquele sinalizado pelo mercado —o Boletim Focus, do Banco Central, aponta para 1,45%— e pelo governo, com o ministro Paulo Guedes indicando 1,5%.


Para 2020, a expectativa do BNP foi reduzida de 3% para 2,5%, em linha com o Focus.


José Carlos Faria, economista-chefe do banco, disse que a sequência de indicadores do primeiro trimestre decepcionou e provavelmente levará a um PIB negativo nos três primeiros meses do ano. A projeção é de queda de 0,3% em relação ao último trimestre de 2018.


Em relatório, o economista do BNP Gustavo Arruda cita uma combinação de “vários ventos contrários” no início do ano.


Pelo lado da oferta, a indústria e os serviços se mostraram mais fracos, enquanto pela demanda os investimentos continuam fraquejando. No front externo, cita a queda nos preços e volumes de exportação —diante da desaceleração global causada pela disputa comercial entre China e Estados Unidos—, bem como a profunda recessão na Argentina.


Mas, segundo Faria, o grande peso negativo diz respeito às incertezas em torno da reforma da Previdência. “O país está paralisado. Havia uma expectativa de que poderia ser mais rápida, mas o que vemos é que, na melhor das hipóteses, será aprovada no segundo semestre e não sabemos com qual tamanho final de economia. Isso prolonga a incerteza”, afirma.


O banco trabalha com uma expectativa de aprovação do texto em agosto na Câmara dos Deputados e em outubro no Senado, com uma economia esperada de R$ 500 bilhões a R$ 600 bilhões em dez anos. O governo estimou que sua proposta poderia gerar cerca de R$ 1,2 trilhão de economia em uma década.


“Para o segundo trimestre, indicadores antecedentes até agora sugerem crescimento positivo, mas fraco”, diz Arruda.


O BNP também elevou a inflação projetada para 2019 de 3,5% para 4%, de olho em uma depreciação cambial, alguns preços mais altos para importados e riscos relacionados à peste suína na China.


Faria diz, no entanto, que, com o crescimento econômico muito fraco, a inflação permanece “bem comportada”. E acrescenta que o IPCA (índice oficial do país) acumulado em 12 meses —que está em 4,94% até abril— deve declinar a partir de junho.


“Acho que vai ser muito difícil o Banco Central evitar um novo corte de juros nessa situação de inflação baixa”, diz Faria. O banco projeta a Selic (taxa básica de juros) a uma nova mínima recorde 5,75% ao ano no fim de 2019. Hoje, está em 6,5%.


Cortes, no entanto, só devem ocorrer após a aprovação da reforma da Previdência, conforme sinalizou o BC na ata do último Copom (Comitê de Política Monetária), diz Faria.


“Sem a reforma, pode haver uma reação muito negativa dos ativos, o que acaba impedindo a redução dos juros”, afirma.