Pesquisadores, moradores, voluntários, agentes públicos, uma série de comunidades distintas está envolvida na retirada de óleo das praias do Nordeste brasileiro. Com menor ou maior participação, todas trabalham com certo sentido de urgência e emoções.

O agente de limpeza Isaac, por exemplo, foi mandado às pressas para trabalhar na retirada do óleo. Ele não ficou insatisfeito – pelo contrário, se emocionou com o cotidiano da tragédia. Já o objetivo do pesquisador Paulo era bem diferente. Ele estava ali em busca de amostras para estudar os efeitos do derramamento sobre os peixes, seu objeto de pesquisa.

O pedreiro Alisson, por sua vez, saiu do trabalho para ajudar a comunidade em que vive, exercendo uma atividade arriscada e que deveria ser feita por profissional habilitado.

Em quatro dias de cobertura em praias atingidas pelas manchas em Pernambuco, o Estado falou com dezenas de pessoas que estavam em algum grau envolvidas com a retirada do óleo. Não há grandes protagonistas, mas várias pequenas histórias inspiradoras que ajudamos a contar a seguir.

Emoção faz parte da rotina

A frase foi exatamente a primeira que o agente de limpeza Isaac Felix disse ao Estado após passar mais de cinco horas retirando óleo da Praia do Janga, em Paulista, na Grande Recife: “Nunca vi nada assim em 63 anos de vida. Chorei de emoção.” Issac continua, em tom dramático: “Quando me emociono, choro. Mas não foi de tristeza, foi de alegria, alegria de estar participando disso.”

Ele nasceu em Paulista e gosta de dizer para todo mundo que é “paulistano”. Por lá, a chegada do óleo se sobrepôs a outros problemas sociais que já levaram, por exemplo, a Força Nacional para o município, de mais de 300 mil habitantes e 10º na lista G100 de 2018, das cidades populosas com baixa renda per capital e alta vulnerabilidade social. Isaac é funcionário de uma empresa terceirizada pela Prefeitura. “Trabalho aqui (no Janga) com gosto. Vou contar para os meus netos o que a gente passou. Isso aqui não foi determinado por Deus, mas pela mão do homem”, conclui.

Remoção é muito difícil entre pedras

Em meio às pedras, voluntários e agentes públicos se embrenham para retirar fragmentos do óleo de áreas de difícil acesso. Passam por fendas, viram de cabeça para baixo, esticam os braços e se equilibram sobre as pedras. Eles eram quase “homens-tatus”, como definiu o repórter fotográfico Tiago Queiroz.

O trabalho é arriscado, pois prevê contato muito direto com o óleo em diversas partes do corpo. Por vezes, eles precisam se deitar ou se equilibrar sobre as pedras, que ficam escorregadias. Mesmo assim, essas pessoas careciam de equipamentos de proteção completos. “A gente dava um jeito”, explica o pedreiro Alisson Ribeiro, de 24 anos, que atuou na retirada de uma grande mancha de óleo na Praia do Janga, em Paulista, na Grande Recife. “Puxava o óleo com a mão. No primeiro dia, fiquei até umas 17h30, porque já estava muito escuro. Colocava o braço, o que coubesse para tirar o óleo.”

Cientistas têm sentido de urgência

O sentido de urgência tão presente nos voluntários também é latente em outro grupo: a comunidade científica. De praia em praia, professores universitários, pesquisadores e estudantes de graduação têm saído a campo diariamente atrás de amostras da água, do petróleo e organismos da fauna marinha. A rotina ainda se estende a testes em laboratórios, que já vêm apresentando resultados sobre a contaminação.

O impacto na rotina acadêmica é mais claro em áreas como Biologia, Química, Oceanografia e algumas engenharias. “É um esforço concentrado com os outros alunos para reunir essa informação crucial desse desastre”, explica Paulo Carvalho, de 55 anos, coordenador do Laboratório de Ecotoxicologia Aquática (Labecotox) e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Com o próprio carro, o professor tem visitado praias de Pernambuco e uma de Alagoas para recolher amostras da água e de peixes, chegando até a mergulhar em uma área de coral atingida. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.