ANA LUIZA ALBUQUERQUE
CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – O empresário Marcelo Odebrecht disse, em depoimento ao juiz Sergio Moro, nesta quinta-feira (9), que já havia recebido pedido de propina de Aldemir Bendine no primeiro semestre de 2014. Na época, Bendine ainda era presidente do Banco do Brasil. Em fevereiro de 2015, assumiu a presidência da Petrobras.
Bendine é acusado pelo Ministério Público de solicitar R$ 3 milhões em propina para executivos da Odebrecht, a fim de proteger a empreiteira em contratos da Petrobras. Ele está preso desde o final de julho.
No depoimento, Marcelo Odebrecht afirmou que Bendine nunca o abordou diretamente. Segundo ele, os pedidos eram feitos por meio do publicitário André Vieira da Silva para o diretor da Odebrecht Ambiental, Fernando Reis. De acordo com Marcelo, Bendine pediu, em 2014, por meio de André, 1% sobre a reestruturação de uma dívida da Odebrecht com o Banco do Brasil. “Eu não dei muita ‘bola’ para esse achaque. Achava que ele não teria condições de atrapalhar. Neguei”.
O executivo afirmou que começou a levar Bendine mais a sério em 2015, após uma reunião com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). No encontro, Marcelo disse ter pedido à petista que ela definisse um interlocutor para interagir com as empresas afetadas financeiramente pelo avanço da Lava Jato. Dilma, então, teria nomeado o ex-ministro Aloizio Mercadante, para quem Marcelo, em seguida, teria enviado algumas notas.
No mesmo mês, o empreiteiro afirmou ter tido uma reunião com Bendine. “Quando cheguei lá, as mesmas notas que mandei para o Mercadante estavam em uma pasta”, disse a Moro. “Ele se colocou como indicado pela Presidência para resolver os problemas derivados da Lava Jato.”
Em maio de 2015, houve, segundo o empresário, uma reunião na casa de André Vieira da Silva, com Bendine e Fernando Reis.
“O Fernando chegou antes, eu não conhecia o André até então. (…) Me disseram: ‘Olha, ele [Bendine] vai, em um contexto da reunião, falar isso como se fosse uma senha, dessa forma vai ficar evidenciado o pedido que André está fazendo.”
Durante a conversa, sobre Lava Jato e Petrobras, Marcelo afirmou que Bendine “trouxe claramente aquelas palavras”, como André disse que faria. “A gente fez três pagamentos de um milhão cada”, contou Marcelo a Moro.
Condenado em 2016 a 19 anos, Odebrecht está preso desde junho de 2015. Como parte de acordo de colaboração premiada, o executivo deve cumprir pena em regime fechado até o mês que vem.
Bendine diz nunca ter recebido vantagens ilícitas. A defesa de Vieira da Silva sustenta que seu cliente realizou serviços para a Odebrecht, e que teria recebido o valor de R$ 3 milhões em consultoria.