RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) voltará a investir em participação societária de empresas no Brasil, informou nesta quinta-feira (13) o presidente do banco Dyogo Oliveira. 

O banco voltará a subscrever ações de empresas por meio da BNDESPar, braço de investimento em participações da instituição, depois de ter suspendido operações do tipo em 2015.

A suspensão ocorreu após período de perdas da BNDESPar com investimentos que não deram retorno esperado, como os aportes em empresas do império de Eike Batista.

Também pesaram na decisão as suspeitas de irregularidades em determinadas operações, como a compra de participação do grupo de proteína animal J&F, objeto de inquérito da Polícia Federal por meio da Operação Bullish.

A direção do BNDES aprovou na última terça-feira (13) a retomada do investimento da BNDESPar em fatias de capital de empresas. Houve, contudo, uma mudança no perfil das empresas que poderão receber investimento. 

Se no passado o BNDES priorizava empresas pré-operacionais e as grande competidoras nacionais, como Petrobras e Vale, até hoje importantes na carteira de investimento do setor de participações do banco, a ideia agora é investir em empresas de médio porte, com faturamento anual de R$ 90 milhões a R$ 1 bilhão. Nesses casos, o banco fica limitado a investir até 30% do capital social da companhia. 

Não há uma política de incentivo a setores específicos, como no passado. Cada operação será avaliada caso a caso pelo banco. 

“Os investimentos da BNDESPar não serão mais nem em empresas pré-operacionais nem nas gigantes. Queremos investir em empresas de médio para grande porte e com potencial escalável”, disse Dyogo Oliveira, referindo-se ao jargão do mercado que define empresas que estejam estruturadas para ter crescimento rápido. 

O banco também pretende a atuar como investidor em processos de abertura de capital de companhias na bolsa. A ideia é que a BNDESPar atuae como uma espécie de investidora âncora. 

Nesses casos, o banco sinaliza para o mercado sobre a atratividade de certos investimentos por meio do compromisso de aportar recursos no processo de IPO (Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês) das empresas. Dyogo explicou que o banco estará limitado a adquirir 30% dessas empresas.  

A previsão é que as novidades sejam postas em prática a partir do ano que vem, quando assume para a presidência do BNDES o economista Joaquim Levy, indicado pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). 

A atual diretoria do banco recebeu a imprensa nesta quinta-feira (13) para um café da manhã, onde Dyogo fez um balanço de sua gestão no BNDES. 

Uma das ideias para o próximo ano é reduzir a carteira de participações da BNDESPar em “empresas maduras”. A ideia é vender aos poucos as participações que o banco tem nas gigantes nacionais. Para isso, contudo, o banco terá que contratar instituições financeiras que ofereçam ao mercado fatias pertencentes ao banco em empresas do tipo. 

O BNDES tem, por exemplo, participações na Petrobras, Vale, JBS, Coteminas, Eletropaulo, Gerdau, Klabin entre outras. 

INVESTIGAÇÕES

O banco também anunciou a contratação de uma segunda auditoria externa para investigar suspeitas de irregularidades, desta vez nas operações de exportação de serviços. 

Um exemplo de operação desse tipo foi o empréstimo concedido para a Odebrecht para construção do porto de Mariel em Cuba. Outras obras no exterior tocadas por empresas brasileiras com recursos do BNDES terão seus contratos auditados. 

Segundo o diretor jurídico do BNDES, Marcelo Siqueira, essa será a segunda apuração do banco em relação às suas operações no passado. A primeira, contratada no final de 2017 para apurar empréstimos para a JBS, ainda não foi finalizada. 

“Até o momento, na primeira apuração, não há indício de participação de funcionários do BNDES em irregularidades”, afirmou Siqueira. 

Siqueira, cotado para assumir um cargo na estrutura do Ministério da Fazenda no governo de Jair Bolsonaro, afirmou que a “caixa-preta” do BNDES é atualmente “caixa-transparente”. 

O termo é uma resposta da diretoria do banco às declarações recentes do presidente eleito de que irá “abrir a caixa-preta” do BNDES, referindo-se à supostas irregularidades ocorridas no banco durante os governos petistas e quando imperou a chamada política das campeãs nacionais. 

Há a suspeita, ainda não comprovada, de que empresas eram privilegiadas na hora de tomar empréstimos com o banco em troca de propina a agentes públicos. 

Segundo Siqueira, o banco levantou o sigilo de algumas informações que antes eram vedadas ao público como esforço para dirimir a imagem de instituição com passado irregular. 

O banco divulga em seu portal de transparência, por exemplo, as operações de exportação de serviços por país, com a integra dos contatos em PDF, além de informações por empresas tomadoras, como garantias e taxas de juros dos contratos. 

Continuam sob sigilo o saldo devedor dos clientes e a situação de inadimplência ou não dos financiamentos, além dos modelos de negócios e eventuais sigilos industriais dos clientes do banco. “Todas as demais informações estão disponíveis para o público em geral”.