FELIPE PEREIRA SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A queda do avião da Lamia por falta de combustível aconteceu após uma série de negligências no voo que partiu da Bolívia. Apesar das responsabilidades, as autoridades do país não contribuíram com as investigações, informou o relatório do MPF (Ministério Público Federal) de Chapecó.

“Cabe registrar que nada – absolutamente nada – da documentação solicitada pelo MPF foi encaminhada pelas autoridades”, consta um trecho do texto. O MPF sugere falta de vontade de ajudar. “Em que pese toda disposição de colaboração inicialmente externada na reunião realizada em dezembro de 2016, na cidade de Santa Cruz de la Sierra, ocasião em que inclusive foi possível constatar que parte dos documentos e informações solicitadas já estavam em poder da Fiscalía daquele país.”

Fiscalía é o órgão de apuração boliviano correspondente ao Ministério Público. Entre as medidas que as autoridades deste país deixaram de fazer, está ouvir o sócio da Lamia que não estava no avião.

É sabido que o voo saiu com combustível no limite e ainda assim o plano de voo entre Santa Cruz de la Sierra e Medellín foi autorizado. Nenhuma explicação de quem autorizou a decolagem foi enviada ao Brasil. O relatório do MPF não informa sequer se os responsáveis foram ouvidos.

O texto explica que quase a totalidade dos documentos encaminhados pelas autoridades bolivianas referem-se a burocracia envolvida no pedido de cooperação. A única exceção é um e-mail da controladora de voo Célia Monasterio, que fugiu da Bolívia, está refugiada no Brasil e prestou depoimento ao MPF.

AVIÃO NÃO SERIA DA LAMIA

Durante a investigação a Chapecoense entregou o contrato de locação da aeronave e surgiu um fato novo. A Kite Air Corporation Limited apareceu como proprietária da aeronave. A empresa pertence a Loredana Albacete, filha do ex-senador venezuelano Ricardo Albacete.

A situação fica mais obscura porque a Chapecoense havia entregado anteriormente. O primeiro era com a Lamia. Mas o pagamento de US$ 140 mil pelo fretamento do avião ocorreu em uma conta em Hong Kong da Kite Air Corporation Limited. Estas suspeitas haviam sido levantadas pela imprensa.

“O segundo contrato com a Lamia encaminhado pela Associação Chapecoense, a denotar a verossimilhança das suspeitas noticiadas pela imprensa, de que os verdadeiros proprietários dessa companhia aérea possam não ser os bolivianos”, aponta o relatório do MPF.

Por fim, a investigação confirma que o avião caiu por falta de combustível. A afirmação ocorre depois de análise de um especialista do Cenipa, órgão brasileiro que investiga desastres aéreos. O trabalho foi feito pelo Major Aviador Marlon da Fonseca Sampaio e ele diz que a tragédia podia ser evitada.

“Houve uma série de falhas na permissão do voo por parte das agências bolivianas, que, em princípio, poderiam ter evitado o acidente”.