SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Brasil desperdiça a oportunidade de reduzir as emissões de gases do efeito estufa ao não aderir à fase voluntária do acordo global que visa regular e neutralizar as emissões globais da aviação internacional nas próximas décadas.

A conclusão é de um levantamento elaborado por diversas organizações da sociedade civil, lideradas pelo Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia).

O estudo, divulgado na última terça-feira (14), avalia o impacto da entrada do Brasil no Corsia (Esquema de Redução e Compensação de Emissões da Aviação Internacional).

Esse acordo é o primeiro mecanismo global voltado à compensação das emissões da aviação internacional —setor que, se fosse um país, estaria entre os dez que mais poluem no mundo— e foi idealizado pela Icao (Organização da Aviação Civil Internacional), braço da ONU.

O Corsia começa a valer em 2021, com o objetivo de limitar as emissões da aviação aos níveis de 2020. Entre 2021 e 2026, os países aderem de maneira voluntária. A partir de 2027 até 2035, de forma mandatória. O Brasil anunciou que entrará apenas nessa fase.

Para o coordenador do programa de mudanças climáticas do Idesam, Pedro Soares, “quanto mais países aderirem, mais redução de emissões vai gerar”.

Até o momento, 72 países já se comprometeram a aderir na fase voluntária, entre eles Estados Unidos e Reino Unido. Grandes mercados da aviação como Brasil, Argentina, Chile, Rússia e Índia ainda não aderiram.

O acordo se insere no âmbito de diversas medidas de mitigação das emissões, como melhorias tecnológicas nas aeronaves e uso de biocombustíveis. “A projeção, porém, é que mesmo adotando essas medidas, haveria um gap para se atingir o carbono neutro nos níveis de 2020”, afirma Soares.

Caso o Brasil participe da fase voluntária do acordo, o país iria gerar uma redução de mais de 18 milhões de toneladas de dióxido de carbono. Isso ocorre devido a uma das regras do Corsia, que estabelece que a redução e compensação de emissões de voos entre dois países se aplica apenas nos casos em que o país de origem e o de destino estejam no Corsia.

“Se o Brasil ficar de fora, qualquer voo aqui está isento da responsabilidade”, diz Soares.

O estudo estima em R$ 15 milhões por ano o custo para adesão das quatro companhias brasileiras no acordo —Latam, Gol, Azul e Avianca. Segundo o pesquisador do Idesam, “a disposição [por parte das empresas aéreas] existe, mas o ambiente econômico não está favorável, isso influencia”.

Ele lembra, porém, que o cenário para 2020-2021, quando o acordo começará a valer caso o Brasil faça parte, é mais favorável. Se necessária, uma transferência de custo para a tarifa seria de apenas US$ 2 —valor simbólico em bilhetes internacionais—, e há a possibilidade de ganhos de imagem com a preocupação socioambiental.

De acordo com o levantamento, a redução ou compensação de emissões representa 0,04% do custo operacional atual das empresas.