SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Metade dos países que fazem parte da Unasul, bloco sul-americano criado há uma década para conter a influência americana na região, decidiram suspender sua participação.

As chancelarias dos governos de Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Peru e Paraguai assinaram uma carta em que fazem referência a divergências internas e ao papel da presidência temporária do bloco, assumida pela Bolívia em 17 de abril, no lugar da Argentina.

Permanecem no bloco Guiana, Venezuela, Bolívia, Equador, Uruguai e Suriname.

“Dadas as circunstâncias atuais, os países assinantes decidimos não participar nas distintas instâncias da Unasul (União das Nações Sul-Americanas) a partir desta data e até que não contemos, no curso das próximas semanas, com resultados concretos que garantam o funcionamento adequado da organização”, diz o documento, segundo o jornal boliviano La Razon.

O texto acrescenta que os seus países “expressam seu extremo desacordo com a situação pela qual atravessa a união”, quadro “que se prolonga há vários anos e que se agravou a partir de janeiro de 2017 com a acefalia da secretaria-geral”, segundo a agência de notícias argentina Télam.

Em janeiro, terminou o mandato do ex-presidente colombiano Ernesto Samper como secretário-geral. O cargo está vago desde então, segundo a carta, por falta de consenso em torno de um único candidato.

A carta teria sido enviada ao chanceler boliviano, Fernando Huanacuni.

Questionado, Huanacuni disse não ter informação oficial e que estava prevista a convocação de uma reunião de chanceleres da Unasul em maio.

“Os mecanismos e procedimentos internos requerem formalidades”, disse.

Huanacuni acrescentou que os países devem ter capacidade para superar as diferenças ideológicas e políticas com diálogo e que a Unasul está composta de “países geograficamente unidos”.

O bloco esteve paralisado por divisões internas desde que governos de centro-direita assumiram o poder em vários dos países da região nos últimos anos.

Com sede em Quito, no Equador, a Unasul foi criada em 2008, quando o populismo de esquerda representado pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, morto em 2013, estava em seu ápice.

Chávez e demais líderes sul-americanos se opunham à proposta americana de criar uma área de livre comércio nas Américas e estabeleceram uma união econômica e política que fizesse contrapeso aos EUA.

A iniciativa também foi uma tentativa de passar por cima da OEA (Organização dos Estados Americanos), vista pelos líderes esquerdistas como uma ferramenta para a promoção de políticas americanas na América Latina.

“A Unasul funciona por consenso, mas as diferenças entre as visões políticas e econômicas de seus membros são tamanhas que ela não pode mais funcionar”, disse à Reuters um diplomata peruano.