PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – Organizador do principal evento liberal do país, o Fórum da Liberdade, o Instituto de Estudos Empresariais (IEE), fundado em 1984 em Porto Alegre (RS), passou décadas remando contra a maré.


Os defensores do Estado mínimo abrigados na entidade só se viram recompensados com a chegada ao poder de Jair Bolsonaro. Não por alguma predileção especial pelo capitão que hoje ocupa a Presidência, mas por serem adeptos do que eu chamaria de Igreja Pauloguediana.


Paulo Guedes, atual ministro da Economia venerado por liberais de Norte a Sul, é figura frequente nas edições anuais do Fórum da Liberdade, que se realiza desde 1986 e reúne autoridades, professores e convidados internacionais. “Veio já umas seis ou sete vezes”, calcula o novo presidente do IEE, Pedro de Cesaro, 32, que toma posse na próxima terça (2) para um mandato de um ano.


Duas figuras de proa egressas do IEE estão em postos importantes na equipe de Guedes: Paulo Uebel, atual secretário de Desburocratização, é ex-presidente do instituto; Wagner Lenhart, secretário de Gestão de Pessoal, foi diretor.


Nem por isso a pauta do instituto é restrita. No ano passado, a entidade promoveu debate com diversos candidatos a presidente, alguns de ideologia oposta à do liberalismo puro, como Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) –definido por Cesaro como “um cara engraçado e carismático”.


Também fizeram uma videoconferência com Olavo de Carvalho, cujo conservadorismo exacerbado não agrada a maioria dos associados do IEE. A ideia é privilegiar o debate.


Em geral, liberais não se sentem confortáveis sendo classificados como parte da família da direita, como muitos costumam fazer. “Esse rótulo de direita e esquerda é algo que a gente não gosta e não usa. Pode olhar nosso material, você nunca vai ver nada falando de direita”, diz Cesaro. “Quando alguém pergunta: tu é de direita ou esquerda? A gente diz: não, a gente é liberal.”


Talvez a associação se dê mais pela questão econômica, da defesa do livre mercado, embora, conforme lembra Cesaro, a direita já tenha sido bastante estatista no passado, como no regime militar.


O IEE, diz seu presidente, abriga vários matizes de liberalismo entre seus cerca de 250 associados. Há desde os mais moderados, que defendem algum papel do Estado na atividade econômica, até uma minoria de anarco-capitalistas, que são contra a existência do próprio Estado e defendem que as relações humanas sejam 100% estabelecidas pelas trocas comerciais.


Cesaro, que trabalha no mercado financeiro, diz que não chega a esse extremo, mas é um radical defensor das privatizações. “O Estado não tem que ter empresas. Nenhuma, zero. Não existe setor estratégico. Existe setor estratégico para as forças políticas que um dia vão querer colocar a mão nele”, afirma.


As regras de entrada no IEE fariam inveja aos mais exclusivos clubes da elite paulistana. Primeiro, é preciso ser um empreendedor, ou seja, ter uma empresa. Advogado não pode ser membro, a menos que seja sócio do escritório. Jornalista, só se for dono de jornal. E por aí vai.


Além disso, é preciso ser indicado por um membro para ser aceito. A faixa etária dos associados é restrita, de 20 a 35 anos, dentro do espírito de ser uma entidade formadora de novos quadros liberais. Por fim, a mensalidade é salgada: de R$ 700 a R$ 800.


Para o IEE, o ambiente agora está mais favorável à defesa de suas ideias, mas o Brasil, afirma Cesaro, ainda está longe de ser um país liberal. Convencer a sociedade dos benefícios do livre mercado, acredita, é um processo que leva tempo.


“Quando um país, uma sociedade, descobre que é liberal? Quando fica rico”. Ou seja, diz ele, quando os brasileiros virem o resultado de uma economia de mercado ao comprar um produto mais barato, darão valor ao liberalismo.


Para o presidente do IEE, o liberalismo triunfará se Bolsonaro der condições para Guedes implementá-lo. “O Brasil já teve governo autoritário, já teve governo social-democrata, já teve governo de esquerda. Acho que está na hora de ter governo liberal, né?”.