No final de setembro, imigrantes partiram em dois caminhões da cidade de Arlit, no norte do Níger, para atravessar o deserto do Saara direção de Tamanrasset, na Argélia. A aventura acabou em tragédia com a confirmação nesta quinta-feira (31) da morte de 92 pessoas, a maioria mulheres e crianças que morreram de sede depois que um dos caminhões em que estavam quebrou.

O número divulgado na última segunda-feira era de cerca de 35 mortos, segundo denúncia feita pelo prefeito de Arlit, Rhissa Feltou. Acredita-se que o trágico desfecho da travessia tenha ocorrido há duas semanas, mas as autoridades locais só tomaram conhecimento no início desta semana, depois que um grupo com 21 sobreviventes conseguiu sair do deserto. Entre as vítimas, 52 crianças, 33 mulheres e sete homens.

“Encontramos alguns corpos, outros foram comidos pelos chacais e já estavam em decomposição”, disse Almoustapha Alhacen, chefe de uma organização sem fins lucrativos no norte do Níger, que ajudou a enterrar as vítimas. “Nós encontramos os corpos de crianças pequenas amontoados ao lado dos corpos de suas mães”, relatou.

A viagem teve início no final de setembro e seguia uma conhecida rota usada por traficantes para levar pessoas até o norte da África, de onde elas tentariam embarcar em navios clandestinos com destino à Europa. As autoridades ainda tentam entender o grande número de mulheres e crianças nos caminhões.

O episódio vem à tona em meio ao debate sobre o tráfico de seres humanos deflagrado pelo naufrágio, no início do mês, de uma embarcação clandestina na costa da Lampedusa. Mais de 350 imigrantes africanos morreram na tragédia.

Todos os anos, dezenas de milhares de pessoas fogem da miséria na África em busca de melhores condições de vida em outros países, principalmente na Europa, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Muitos, porém, ficam pelo caminho, seja na traiçoeira viagem pelo deserto ou na perigosa travessia do Mar Mediterrâneo.

Um relatório elaborado pela ONU em 2011 afirma que os traficantes cobram o equivalente a até US$ 3 mil por pessoa para transportá-las até o norte da África e para a Europa. A maior parte das viagens ocorre entre novembro e março.

O Níger é um dos países mais pobres do mundo e ocupa o último lugar no Índice de Desenvolvimento Humano deste ano. O país foi devastado pela seca e pela fome e as Nações Unidas estimam que 2,5 milhões dos mais de 16 milhões de habitantes passem fome, mesmo durante os anos de boas safras da agricultura. Estima-se que 42% das crianças do Níger sofram de desnutrição crônica, e uma em cada oito crianças morre antes de completar cinco anos.