PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Favorito a suceder Theresa May como líder do Partido Conservador e primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson começa a sentir os primeiros sinais de turbulência em uma campanha que até aqui parecia mera formalidade.


O ex-prefeito de Londres se viu nas páginas policiais da imprensa britânica depois que uma ligação telefônica levou agentes à porta do apartamento de sua namorada, na madrugada de sexta (21), no sul da capital inglesa.


Um vizinho disse ter ficado preocupado depois de ouvir uma discussão do casal, com direito a batidas de porta e murros em móveis. Ele afirma ter escutado a mulher, Carrie Symonds, gritar frases como “saia de cima de mim” e “saia do meu apartamento”.


Segundo o relato do homem, um dramaturgo chamado Tom Penn, a decisão de chamar a polícia veio depois de ele bater na porta de Symonds três vezes para saber o que estava acontecendo.


O vizinho também gravou parte da discussão. Na sexta, deu sua versão dos fatos ao jornal The Guardian.


Aos agentes que compareceram ao endereço da suposta briga, Johnson e Symonds disseram que não havia com o que se preocupar.


Desde então, o deputado, líder isolado nas primeiras cinco rodadas de votação para definir o substituto de May, tem evitado comentar publicamente o episódio.


Mas a pressão para que o faça aumentou ao longo dos últimos dias e começou a vir de fontes inesperadas.


Nesta segunda (24), um dos maiores doadores de fundos para o Partido Conservador, John Griffin, instou Johnson a esclarecer as circunstâncias do suposto bate-boca.


“Ele não pode esperar que o apoiemos quando até agora não explicou cada detalhe [do ocorrido]”, disse o empresário, que repassou 4 milhões de libras (R$ 19,5 milhões) à legenda nos últimos seis anos.


“É possível que ele se torne primeiro-ministro, e a maioria dos membros [do partido] quer apoiá-lo. Mas, se eu tivesse feito algo errado, precisaria explicar. É preocupante que ele não tenha feito isso.”


Um outro doador proeminente, mas que preferiu não se identificar, afirmou ao Guardian que a opacidade em torno do fato torna o partido um alvo de chacotas.


Pesquisa realizada pelo instituto Survation para o jornal Mail on Sunday mostrou que o incidente pode azedar os planos de Johnson.


Segundo o levantamento, feito durante o fim de semana, a intenção de voto no defensor de um brexit seco, sem negociação com a União Europeia (UE) sofreu queda brusca.


A liderança de oito pontos sobre o correligionário Jeremy Hunt, adversário na etapa final, evaporou. Agora, o ex-prefeito londrino está três pontos percentuais atrás do atual secretário de Relações Exteriores, partidário do “soft brexit”, acordado com a UE.


Depois de os deputados da bancada conservadora reduzirem de dez para dois os candidatos no duelo para o comando da agremiação governista, agora é a vez dos membros do partido indicarem sua preferência.


A votação final deve acontecer na semana de 22 de julho. A legenda tem cerca de 160 mil filiados.


Além dos doadores e de Hunt (para quem o oponente precisa se mostrar capaz de responder a “perguntas difíceis”), outros ministros e um integrante do comitê executivo dos conservadores disseram que Johnson precisa quebrar o silêncio.


Por outro lado, vários deputados conservadores criticaram a decisão do vizinho de acionar a polícia e viram motivação política no gesto. Isso porque a mulher do dramaturgo teria expressado em redes sociais sua contrariedade em relação ao candidato.