SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na eleição em que a verba pública predominou, candidatos com orçamentos mais elevados não conseguiram se eleger para a Câmara dos Deputados.

Três candidaturas que arrecadaram quase no limite de gastos para deputado federal acabaram derrotadas: as de Ana Paula Junqueira (PP-MG), Maria Helena Rodrigues (MDB-RR) e José Maia Filho (PP-PI), que informaram arrecadação de pouco menos de R$ 2,5 milhões, teto estabelecido pela Justiça Eleitoral. Maria Helena tentava a reeleição.

As informações de receitas e despesas ainda podem ser atualizadas pelos partidos.

Em 2014, as 30 candidaturas que mais arrecadaram conseguiram se eleger para a Câmara.

A onda Jair Bolsonaro, que impulsionou 52 candidatos do PSL à Câmara, deve contribuir para reduzir a média de gastos dos eleitos.

As candidaturas de aliados do presidenciável em geral possuíam orçamento muito mais limitado do que as lançadas por políticos conhecidos dos partidos tradicionais. O PSL tinha, por exemplo, direito a R$ 9,2 milhões do fundo eleitoral, ante R$ 230,9 milhões do MDB.

A maioria dos deputados federais eleitos do partido da família Bolsonaro declarou até agora receitas de menos de R$ 100 mil na eleição. A média parcial de orçamento de campanha é de apenas R$ 151 mil –um dos eleitos pelo partido até agora ainda não informou suas contas.

Já os eleitos do MDB declararam até agora arrecadação média de R$ 1,4 milhão.

Campeão de votos no Rio, com 345 mil sufrágios, Hélio Barbosa Lopes, teve arrecadação de apenas R$ 45 mil.

Em comparação, Cristiane Brasil, que é filha do presidente do PTB nacional, Roberto Jefferson, levantou R$ 2,3 milhões e fez somente 10 mil votos no estado.

A exceção no PSL foi a candidatura do fundador e antigo "dono" do partido, Luciano Bivar, que se elegeu em Pernambuco tendo recebido R$ 1,8 milhão da direção nacional da legenda.

A campanha a presidente de Bolsonaro vem sendo de poucos recursos –obteve R$ 1,93 milhão ante R$ 49,7 milhões da chapa do PT, somando as candidaturas de Lula e de Fernando Haddad.

Em 2014, a média de gastos dos eleitos à Câmara foi de cerca de R$ 1,5 milhão –o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) foi um dos líderes de arrecadação, com R$ 6,8 milhões.

Como os candidatos ainda podem atualizar seus balanços junto à Justiça Eleitoral, o valor médio gasto neste ano ainda não pode ser auferido.

Em 2015, o Supremo Tribunal Federal proibiu a doação eleitorais de empresas e, no ano passado, o Congresso instituiu um fundo público bilionário para bancar os gastos dos partidos.

Entre as 50 candidaturas a deputado federal com orçamento mais elevado neste ano até agora, 20 foram derrotadas, como a da ex-governadora do Rio Grande do Sul Yeda Crusius (PSDB) e de Osmar Serraglio (MDB-PR), ex-ministro do governo Michel Temer.

Na lista de 50 campanhas mais caras, havia 24 candidatas. As direções partidárias adotaram a estratégia de destinar mais dinheiro a mulheres já conhecidas na política para cumprir a norma que obrigava os partidos a repassar 30% dos recursos do fundo eleitoral a candidatas.

A eleição para a Câmara teve a mais alta renovação registrada desde 1998 e contrariou previsões de que o financiamento de campanha por meio da distribuição do fundo eleitoral impediria a vitória de iniciantes.

Apesar de os partidos terem privilegiado no repasse de recursos os políticos com mandato, 47,4% dos deputados que tomarão posse em 2019 nunca haviam ocupado esse cargo.

O barateamento forçado das candidaturas dos eleitos pode ter um vínculo com a forte influência das redes sociais e do WhatsApp sobre essas campanhas.

A professora da UnB (Universidade de Brasília) Débora Messenberg, que pesquisa sociologia política, diz que os resultados indicam que a campanha via televisão, que muitos analistas diziam que ainda era decisiva, "não é mais, para o bem e para o mal".

"A campanha foi muito decidida pelo WhatsApp, e pela falta de controle sobre o WhatsApp. O que seria uma democratização da informação é uma expansão da desinformação política."