Franklin de Freitas – “Piva: u201cO propu00f3sito u00e9 fazer uma revoluu00e7u00e3o no Paranu00e1u201d”

Professor de História e Sociologia na rede pública estadual, Luiz Romero Piva, o Professor Piva (PSOL), pai de três filhas e avô de três netos, quer ser governador do Paraná com os votos de pessoas comuns e trabalhadores como ele. Aos 55 anos, o servidor ministra aulas em dois colégios em Almirante Tamandaré (região metropolitana de Curitiba). Piva é filho de agricultores da lavoura de café, em Umuarama (Noroeste), retirante trazido a Curitiba pelo serviço militar, onde ingressou na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Lá, formou-se em Ciências Sociais. Antes disso, na adolescência, militou em movimentos da Igreja Católica, ligados à teologia da libertação.

Foi filiado ao PT e ajudou na fundação local da legenda na década de 1980. Na universidade, participou do movimento estudantil. Quando estudante, trabalhava na Centrais de Abastecimento do Paraná (Ceasa) e engajou-se no movimento sindical em 1988. Quando concluiu o curso de Sociologia, tornou-se professor, trabalhou na rede privada e pública, onde mora, em Almirante Tamandaré. Na cidade, militou em movimentos populares e a liderança lhe rendeu o cargo de vereador pelo PT (2000-2004). “Eu sou dessa gente que ajudou a construir o PT. E quando o PT chegou ao poder, a gente entendeu que começou a ter uma postura que não era aquela havíamos ajudado a construir”, conta.

Antes de chegar à Câmara Municipal, também pelo PT, e depois, já pelo PSOL, partido em que se filiou em 2007, tentou ser prefeito de Tamandaré sem sucesso. O socialista libertário se orgulha de ter sido reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) com uma menção honrosa em referência ao trabalho que fez na mobilização de famílias de mulheres assassinadas em Tamandaré. “Não fui buscar (o prêmio) porque não tinha dinheiro para pagar a passagem para Genebra”, lembra. Piva também se candidatou ao Senado, em 2014, e tem ciência da dificuldade que enfrenta para ter destaque na eleição desta ano. Ele admite que o partido não acredita tanto na vitória quanto ele. Destinou apenas R$ 15 mil para a campanha. “Antes era zero. Aumentou 15.000%”, comemora. O candidato trabalha também para que o partido eleja deputados e vença a cláusula de desempenho para que tenha acesso ao fundo partidário e continue crescendo. Em seu eventual governo, Piva promete poderes a agremiações e conselhos hoje consultivas para que passem a ser deliberativos.

Bem Paraná – Quando foi candidato ao Senado, o senhor se destacou por defender o fim do Congresso Nacional. Como governador, como o senhor veria o parlamento?

Professor Piva – O governador que diz que precisa de apoio da Assembleia Legislativa é porque vai roubar. Governador que não é ladrão, que não é corrupto, não precisa de apoio da Assembleia Legislativa. Se você é honesto e apenas defende apresentar na Assembleia o que é de interesse do povo não precisa comprar deputado. Alias, a população viu no episódio da Lava Jato a dinheirama que é para comprar o parlamento. O pessoal viu aí a história da Quadro Negro, da Publicano, é dinheiro pra lá, é dinheiro pra cá, dinheiro para deputado. É dinheiro para comprar apoio. Pega dinheiro para comprar apoio porque é ladrão. Se não for ladrão não precisa deputado nenhum te apoiando.

BP – Mas acredita no fechamento da Assembleia?

Piva – Nunca defendi isso. Nós da esquerda somos os maiores defensores da abertura completa. Alias, nós defendemos mais do que isso do que aí está. Nós queremos um parlamento verdadeiro, representativo e não um parlamento baseado na compra de voto, como é a realidade hoje no Brasil. Somos os maiores defensores da representação popular em todos os sentidos. Queremos ir além. Por exemplo, quando eu for o governador do Paraná, vamos transformar os conselhos que existem em conselhos deliberativos. Hoje são apenas consultivos. Quem tem maior interesse em ter uma democracia verdadeira é a classe de baixo, somos nós, de baixo. Só aos ricos e poderosos interessa pouca democracia, a eles interessa este estado que estamos vivendo no Brasil.

FINANCIAMENTO

‘Nas outras campanhas tinha zero’

Bem Paraná – Além de trazer esses projetos para o debate, qual o propósito da sua candidatura. O senhor a considera viável?

Piva – Absolutamente viável. O propósito da minha candidatura é fazer uma revolução no Paraná. Eu e Fernanda Camargo, a co-governadora da chapa PSOL/PCB. Pela primeira vez na história do Paraná, o Palácio Iguaçu será ocupado por pessoas que vivem do próprio trabalho. Desde que o Paraná separou-se da quinta comarca de São Paulo o poder só foi ocupado por profissionais. A candidatura Fernanda Camargo/Professor Piva é ambição grande, de colocar no poder aquele segmento que nunca esteve lá. O segmento que apenas trabalha e sustenta todo tipo de organização e estrutura no País e neste Estado.

BP – A Executiva Nacional do PSOL acredita na sua candidatura? Quanto de fundo partidário destinaram à sua campanha?

Piva – A gente fez campanha a vida inteira sem nenhum centavo. Agora tem uns trocadinhos. O fundo de campanha Professor Piva / Fernanda Camargo é de R$ 15 mil.

BP – É desproporcional, se comparado a campanhas do PSOL em outros estados. O PSOL (como os outros partidos) distribuiu o fundo de maneira desigual?

Piva – Eu nem me preocupei com isso. Nas outras campanhas tinha zero. Agora já tem R$ 15 mil, um crescimento de 15000% está ótimo.

BP – Mas como o senhor vê a forma de distribuição?

Piva – Se eu tivesse o poder de comando na organização partidária você pode ter certeza que eu repartiria de forma igual. Sou do tipo que acredita que todo homem, mulher, ser humano merece o mesmo respeito. Agora, como não estou no poder vou fazendo a minha parte por aqui.

BP – Cabo Dalciolo se elegeu pelo PSOL. Como o senhor vê o fato de o PSOL ter promovido um político como ele?

Piva – Tem que ser dito que o PSOL expulsou esse caboclo e nem pediu a vaga dele de volta, que tinha direito. Para se livrar dele a gente chegou e falou 'vá embora'. Como foi que ele chegou no PSOL? Ele é cabo, liderou um movimento de trabalhadores no Rio de Janeiro, um movimento justo, dada a situação em que são tratados os servidores no Rio de Janeiro. Qualquer movimento de servidores civis ou militares no Rio de Janeiro é justo. A causa que ele defendeu era justa e ele foi acolhido no partido. Nem todo mundo que é da classe trabalhadora tem a consciência política e ideológica da classe trabalhadora. Ele entrou e acabou assumindo posições completamente opostas ao PSOL. O que tem que ser elogiado é que o PSOL chegou nele no comecinho do mandato e falou 'dá licença, pode sair do partido para não ter confusão nem vamos pedir sua cadeira', que nós tinhamos direito. Agora, eu não sei nem se ele não é meio maluco.

BP – Durante seu único mandato como vereador qual o projeto considerado pelo senhor como o mais relevante?

Piva – Quando fui vereador o mandato foi coletivo. Modéstia a parte, há poucos vereadores na história do Brasil que receberam da ONU uma menção honrosa como amigo dos direitos humanos e eu recebi. Não fui buscar porque eles não deram o dinheiro e eu não tinha como comprar a passagem para ir à Genebra (Suíça). À época havia um número excessivo de mulheres mortas em Almirante Tamandaré e o nosso mandato organizou o movimento de mães e pais de mulheres mortas. E esses casos foram solucionados. Por isso sofri vários atentados, tiro, ameaça e minhas filhas sofreram muito com isso. Devo lembrar que muita gente apoiou. Imprensa e sindicato, principalmente a imprensa que na época me dava destaque. Por isso não me mataram na época. Tentaram mais de uma vez. Agradeço à ONU que esteve ali, mandou um emissário que ficou comigo, como uma assessoria. A maior contribuição que ofereci como vereador de Tamandaré foi servir exclusivamente aos movimentos sociais e, em particular, ao movimento em defesa de familiares de mulheres. Isso quase me custou a vida, mas não tinha como fugir a isso. Eu era vereador para fazer isso e representar, não para fazer negociata.

CORRUPÇÃO

‘Se o Gaeco trabalhar vai ter até juiz da Lava Jato na cadeia’

Bem Paraná – Como o senhor fará para resolver o problema da superlotação em delegacias do Paraná?

Professor Piva – Essa vai ser a maior dificuldade que vou ter a partir do dia 1º de janeiro como governador. Vou ter que arrumar vaga para acomodar Beto Richa, a família dele, o povo da Cida Borghetti, porque se a Justiça funcionar para eles igual funciona para a turma do Lula, já imaginou quantas vagas novas vou ter que criar? Como governador vou botar o Gaeco para trabalhar. O Gaeco é uma instituição muito mais séria. Se o Gaeco trabalhar vai ter até juiz da Lava Jato na cadeia. Vou pedir para investigar gente que tem apartamento e recebe auxílio moradia. Vai faltar espaço para botar toda essa gente. Por outro lado, se eu for governador vou abrir concurso para Defensoria Pública, disponibilizar recurso e funcionário, garantir que a Defensoria consiga chegar às delegacias e pegar toda essa gente pobre, miserável, que está lá trancada sem julgamento, às vezes porque roubou uma galinha ou porque estava com alguma droga no bolso, mas vamos fazer uma limpeza dessas cadeias, fortalecendo o trabalho da Defensoria Pública e botando dinheiro para que nossos policiais civis voltem a ser investigadores e deixem de ser carcereiros como têm sido ao longo do governo Richa e dos governos anteriores.

BP – O governo nunca contribuiu com a parte dele nos fundos previdenciários e o recurso da previdência tem um prazo de validade agora. O senhor tem uma proposta para esta questão?

Piva – É acabar com essa prática criminosa de os governos não recolherem a parte deles. Eu como professor todos os meses recolho quase mil reais do meu bolso e o governo não recolhe sua parte. Se eu for o governador o governo vai recolher. Os que não recolheram, que cometeram esse crime, nós vamos meter na cadeia. Vamos também cobrar dos ricos aqui do Paraná que sempre sonegaram impostos. Tanto que teve a Operação Publicano. Que eram que devia recolher os impostos dos ricos que estavam pegando propina para financiar campanha de deputado, de gente do Tribunal de Contas, esse tipo de sujeira. Então, se a gente mexer nesse tipo de coisa vai começar a ter dinheiro. No atual estágio, com Beto Richa, Cida, esse povo que está aí, não tem jeito. As coisas não funcionam. Por exemplo, é possível que um governador gaste os milhões que foram gastos nos últimos oito anos, com avião, com helicóptero. Para quê? Olha o tamanho do Paraná. Pega um ônibus de noite, de manhã está na cidade, de tarde volta. Outra coisa, precisa o Paraná ter cinco mil cargos comissionados de livre provimento? Significa acomodar cabo eleitoral, amigo, correligionário, esse tipo de coisa.

BP – Qual sua visão sobre a prisão do ex-presidente Lula?

Piva – Eu não sou advogado e não sei direito. Não sou do PT. Tenho uma discordância política e ideológica em relação a Lula. O pessoal que ele abraçou não tem divergência (como eu), tem ódio. Os que odeiam o presidente Lula são os mesmos que estavam no governo dele, que odeiam o povo. Tanto odeiam que fizeram a reforma trabalhista, tentaram fazer a reforma da previdência. Não é o meu caso. Tive divergência, não li o processo (que condenou Lula). Pelo que comentam por aí, foram mais duros com ele. Pela mesma lógica, Beto Richa tinha que estar preso, Aécio tinha que estar preso e não estão. Mas a divergência política que tenho com Lula é a mesma que tenho com Richa, com Aécio. Acho que temos que construir um mundo que não tenha o ódio ao adversário. Parece que Lula está sendo vítima desse ódio.

CHANCE             

‘Sou o único que representa o povo’

Bem Paraná – O contrato de pedágio do Anel da Integração está para acabar durante o próximo mandato no governo. Qual será sua política?

Professor Piva – A primeira coisa é botar na cadeia todas as concessionárias. O Ministério Público levantou que roubaram e desviaram dinheiro. Se isso for verdade, vamos ter que tomar uma providência diferente. Pode ter certeza que eu e Fernanda no governo não vamos permitir esse pedágio aviltante aí.

BP – Mas o modelo, sim? O senhor é a favor da cobrança de pedágio?

Piva – De minha parte não. Quando você vai no posto de gasolina e abastece, eles cobram um valor alto para manutenção de estrada. Quando paga o IPVA, que Beto Richa ajustou em 40%, não sei quanto é para estada. O dia que for possível eu chegar no posto e dizer 'hoje eu não vou pagar imposto da manutenção de estrada' e o dia quem que chegar no Detran e falar 'eu vim aqui pagar o IPVA, mas eu quero em dinheiro a parte das estradas', aí nós cobramos o pedágio.

BP – Em um eventual segundo turno, caso o PSOL não seja um dos dois primeiros colocados, o senhor faria coligação com um dos seus adversários?

Piva – Sou o único candidato representativo do povo que vive do próprio trabalho e do próprio esforço. Se 20% dessa gente votar em mim eu vou ganhar a eleição no primeiro turno.

BP – Como o PSOL lidaria com a necessidade de trazer investimentos e manter grandes empresas atuando para gerar empregos? O senhor daria subsídios para instalação de montadoras, por exemplo?

Piva – A Renault que se prepare. A partir de 1º de janeiro vai ter que enfiar a mão no bolso. Porque quem mais gera emprego são os pequenos. Quando você dá dinheiro para os grandes está dando para os capitalistas internacionais. E quando pega o jornal de economia você vê que o maior número de empregadores no país são os pequenos. Quem bota comida na mesa é a agricultura familiar. O 'fazendeirão' produz para vender para a China e não sei onde.