NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – Uma tela do americano Jackson Pollock comprada por US$ 306 pelo ex-vice-presidente americano e empresário Nelson Rockefeller pode ser arrematada por mais de US$ 18 milhões na noite desta quinta-feira (15), espera a casa de leilões Phillips.

O quadro, “Number 16” (1950), é a grande estrela do leilão que a Phillips realiza em Nova York e com o qual espera arrecadar US$ 100 milhões nos 41 itens colocados à venda na noite principal -o leilão em si começa nesta quarta e reúne mais de 300 lotes.

O vendedor do Pollock em questão não é menos ilustre: o MAM, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que, em 1952, recebeu o quadro como uma doação de Rockefeller. Sem dinheiro, a instituição decidiu vender a pintura para levantar recursos.

A decisão gerou controvérsia no circuito da arte no Brasil e encontrou resistência do Instituto Brasileiro de Museus. Mas, diante da situação financeira preocupante do MAM, o Ministério da Cultura deu aval para a venda do único Pollock acessível a visitação pública no Brasil.

Robert Manley, um dos responsáveis pelo evento 20th Century & Contemporary Art, diz que a tela faz parte de uma série de 16 do artista americano e que representa o auge de um processo produtivo do pintor iniciado três anos antes, no pós-guerra. 

Pintura “Número 16”, de Jackson Pollock Divulgação Obra ‘No. 16’ (1950) de Jackson Pollock    Pollock desenvolveu uma técnica na qual controlava a aplicação das linhas sobre o plano. No caso do “Number 16”, usou, entre outros materiais, tinta prata aplicada no revestimento de radiadores, conta. 

“Tem toda a vibração e vida que Pollock tinha. Estamos muito animados de ter a tela no nosso leilão”, afirma Manley.

O recorde batido por uma tela de Pollock foi batido pelo quadro “Number 17A”, que, em 2015, foi arrematado por US$ 200 milhões, em valores da época, em uma venda privada.

A noite de gala da Phillips ainda terá lotes com quadros de Joan Miró, Jean-Michel Basquiat e Andy Warhol, entre outros.

Andy Warhol, cujo trabalho é alvo de uma retrospectiva no museu nova-iorquino Whitney, tem um quadro à venda, “Gun” (1981-1982). “Estamos animados de ter esse quadro de arma, é o Warhol mais caro que tem no mercado”, explica Manley. A faixa de preço está entre US$ 7 milhões e US$ 10 milhões.

A tela é a maior de uma série de pinturas com revólver, de diferentes tamanhos, feitas pelo americano. Na avaliação de Manley, a pintura, de um lado, remete a Hollywood e às muitas armas que aparecem em filmes.

Mas também alude a um episódio da vida do pintor, que, em 1968, foi baleado por uma mulher, Valerie Solanas. “Então o quadro acaba tendo uma conexão pessoal para Warhol”, afirma Manley.

Jean-Michel Basquiat tem dois desenhos à venda. Um deles, sem nomes, foi produzido pelo artista americano em 1981 e tem preço estimado entre US$ 4 milhões e US$ 6 milhões. 

É uma espécie de autorretrato, em que ele se apresenta como um mártir cristão, com um halo na cabeça que pode ser tomado por uma coroa de cravos. Os braços estão levantados, como alguém que tem uma arma apontada contra si. Na disposição montada pela Phillips, a tela conversa com o revólver de Warhol.

O outro trabalho do americano, também sem nome, foi feito em 1982 em óleo sobre acrílico e spray e pode alcançar US$ 12 milhões. “Temos sorte de ter ambos, em tela. Os desenhos são tão bons e até melhores que suas pinturas”, diz.

De Miró, o destaque é o quadro “Femme dans la nuit” (1945), com estimativa de preço entre US$ 12 milhões e US$ 18 milhões. 

Artista popular, KAWS tem duas obras no leilão da Phillips. Um deles, “Clean Slate” (2014), é uma escultura de quase 8 metros de altura que pode ser arrematada por até US$ 1,2 milhão. O outro trabalho do artista, de 2005, não tem nome e se propõe a desconstruir a divisão entre cultura popular e arte refinada. Esse pode alcançar US$ 900 mil, nas estimativas da casa.