ITALO NOGUEIRA

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O empresário Fernando Cavendish ofereceu à Justiça Federal créditos da Delta Construções junto a governos estaduais e municipais para reparar os danos apontados pela Operação Saqueador, que trata da geração de caixa dois da empreiteira para pagamento de propina.

Os recebíveis da construtora chegam a R$ 375,5 milhões, embora muitos ainda estejam pendentes de reconhecimento por parte de estados, municípios ou na própria Justiça.

A oferta dos recursos à Justiça, feita em novembro do ano passado, foi um dos argumentos da defesa junto ao juiz Marcelo Bretas para revogar a prisão domiciliar contra o empresário. O magistrado concedeu o benefício em fevereiro, com a concordância do Ministério Público Federal.

Cavendish foi preso em junho de 2016 e, dois meses depois, colocado em prisão domiciliar por determinação do STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Ele confessou os crimes que constam na denúncia da Operação Saqueador, em que é acusado de participar de organização criminosa e lavagem de dinheiro por meio de empresas de Adir Assad e Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Os operadores viabilizaram, segundo o Ministério Público Federal, dinheiro vivo para o caixa dois da empreiteira a fim de viabilizar o pagamento de propina a políticos. O total gerado em espécie foi de R$ 370 milhões, valor próximo ao do oferecido pelo empresário.

Em depoimento no ano passado, Cavendish confessou a geração de caixa dois, mas afirmou que pagou propina apenas ao ex-governador Sérgio Cabral (MDB) –único mencionado na acusação.

Os demais recursos, afirmou o empresário, foram usados para pagamentos corriqueiros “por fora”, tais como “complementação salarial” de funcionários, alimentação, locação de carros e pequenos serviços.

Cavendish ofereceu os benefícios para “reparar os possíveis danos causados”. A defesa do empresário afirma que os recebíveis “decorrem integralmente de atividades lícitas”.

A planilha de recebíveis apresentada pela Delta à Justiça aponta como “incontroverso” um total de R$ 205,1 milhões. Quanto a outros R$ 170 milhões a empreiteira admite haver divergências.

Contudo, ofícios enviados por prefeituras indicam que mesmo aqueles recursos supostamente garantidos são contestados. A Prefeitura de Pelotas (RS), por exemplo, não reconheceu como incontroversa dívida calculada em R$ 4,5 milhões pela Delta por serviços de varrição.

Para o município, trata-se de discussão de débito de R$ 3,2 milhões.

Bretas tem considerado para cálculo de redução de pena a confissão de crimes e, principalmente, a devolução de dinheiro aos cofres públicos. Recursos já entregues à Justiça Federal foram repassados ao governo do estado para quitar salários de servidores fluminenses em atraso.