Há exatos 20 anos, Caetano Veloso escreveu ‘Estrangeiro’. Desde então escuto essa entre outras tantas músicas do cantor mais tocado no meu spotify. Embora sempre tenha gostado da composição, não a acrescentei em nenhuma de minhas playlists, nunca a posicionei ao lado das favoritas.
Sobre a letra de ‘Estrangeiro’, penso não ser a melhor fonte para escrever uma crítica competente ou completa – como se qualquer coisa nesse mundo pudesse se dizer completa. Mas a quem se interessar há (ao alcance de uma busca no google) artigos acadêmicos, teses, seminários e colóquios que se aproximam de dar conta do que foi escrito por Caetano.
Sobre a minha relação com ‘Estrangeiro’, digo que nos conhecemos de fato na última semana. Ouvi minha própria voz cantar o trecho que encerra esse texto no banho – um trecho que já cantei tantas vezes – e fui tomada por um espanto. Um espanto da descoberta do que já estava aqui.
Talvez a sensação mais potente que se pode experimentar. Como em um susto, enxergar, perceber, despertar. Sempre que sou tocada por este sobressalto, fico dividida entre o maravilhamento e o desencanto. Não o desencanto do “como demorei tanto para ouvir?” porque, de verdade, penso que nem sempre estamos prontos para dar conta de todos os nossos conteúdos, mas pelo medo do que nunca vai ser visto.
Para que paisagens seguimos cegos? Estamos prontos para os desmascaros? O que faremos com eles? Que sejamos cada vez mais cego às avessas. Cada um a seu tempo, sempre.
“É um desmascaro
Singelo grito
O rei está nu
Mas eu desperto porque tudo cala frente ao fato de que o rei é mais bonito nu.”

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