Frankin de Freitas – Gustavo (à direita) divide

A vontade de morar em Curitiba, com os amigos, perto da universidade, nos arredores de teatros, cafés, parques, bares e comércios variados, tornou-se realidade para Gustavo Bossone, de 23 anos. Antes morador da Região Metropolitana, ele se mudou há um mês para o Centro da Capital. Junto com dois amigos, alugou um apartamento de onde vai a pé para a faculdade e o trabalho. Como eles, um maior número de jovens busca morar no Centro, que renasce para novos moradores e empreendedores em 2022.

Segundo levantamento da Rede Imóveis, que integra 11 imobiliárias locais, o número de locações na região central de Curitiba cresceu 26% em janeiro deste ano comparado ao mesmo período de 2021. “Em torno de 50% das atuais locações são feitas para estudantes”, afirma Leticia Moritz, coordenadora de locação da Rede Imóvel. “Os apartamentos próximos às universidades têm tido grande procura nos meses de janeiro e fevereiro”, aponta.

A razão está na retomada das aulas presenciais nas universidades e no fim das aulas remotas. “Com isso, percebemos o interesse maior de locação residencial no Centro, onde há várias universidades próximas, fora os cursinhos pré-vestibular”, reforça Weyne Pietniczka, diretor de locação na Imobiliária Razão.

Em janeiro de 2022, o número de locações para jovens na área central da Cidade representou 14% de todas as locações do mês. Em janeiro de 2021, locatários jovens eram apenas 6% dos novos contratos da imobiliária.

O corretor observa que entre as várias vantagens de morar no Centro está a acessibilidade. “Há muitos ônibus, shoppings, praças e espaços para caminhar, clubes, restaurantes, lanchonetes; uma infraestrutura excelente, com um suporte maravilhoso. Sem contar que você pode fazer tudo isso a pé.”

Foi exatamente o que procurou o estudante Gustavo, que morava com os pais em São José dos Pinhais, cidade vizinha a Curitiba, e enfrentava três horas diárias de ônibus para cursar Letras/Inglês na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

“Vim para estudar, para ter mais oportunidades de emprego, escolas maiores, cursos profissionalizantes, para continuar a Educação com mais tranquilidade, sair da casa dos meus pais e conciliar estudos e trabalho”, conta.

O apartamento que ele divide com os amigos tem três quartos e fica em frente à Praça Santos Andrade. “Nós temos acesso a tudo. Fazemos tudo a pé. Cinema, teatro, Passeio Público, universidades, Largo da Ordem, Festival de Teatro. Há muita opção do que fazer”, enfatiza Gustavo.

Ele lembra que gostaria de ter se mudado antes, mas a questão financeira impediu. “Chegou a pandemia e adiei meus planos. Agora deu pra vir, dividindo o apartamento e todos os custos com meus amigos. Vou me formar este ano e pretendo fazer pós-graduação por aqui”, planeja.

Para o estudante, a cidade renasceu. “Vejo as luzes, os carros, as pessoas se movimentando, se divertindo, saindo à noite. Ela voltou a ter vida. E eu tenho acesso a tudo isso da minha janela.”

Aluguel residencial: o mais procurado

Os imóveis mais procurados para locação no Centro são os apartamentos, pois há muita oferta e o preço é mais acessível do que casas – geralmente localizadas nos bairros. A maioria dos apartamentos nesta região são antigos e podem ser bem pequenos, partindo de 30 metros quadrados, como as quitinetes. Elas têm aluguel a partir de R$ 650. Já os apartamentos maiores custam, em média, R$ 1 mil por mês. Com mais quartos ou suíte, o valor sobe cerca de 30%. Vagas de garagem também encarecem o aluguel.

“Os jovens buscam os menores, como as quitinetes, optam sempre pelos mobiliados e, se possível, com eletrodomésticos. Jovens casais também buscam muito esta região”, revela o diretor da Imobiliária Razão, Weyne Pietniczka.

O importante, para todos os clientes, é que o imóvel esteja bem conservado e tenha preço acessível. “Alguns locatários preferem apartamentos mais antigos, que são maiores, e assim podem dividir com algum colega ou morar com familiares. Outros preferem apartamentos mais novos, geralmente menores, para morar sozinhos”, constata a coordenadora da Rede Imóveis.

Comércio renova expectativas

Além de apartamentos e quitinetes, o Centro de Curitiba é repleto de comércios. Eles vão desde grandes lojas na Rua XV, passando pelas ruelas da venda de usados, até o pequeno comércio de uma porta só. Seja qual for o segmento, a área central ainda é a mais procurada para locação de imóveis comerciais, com 25,6% das negociações de janeiro de 2022. Em seguida, vêm o Novo Mundo (6,4%) e o Água Verde (3,8%). Os dados são do Sindicato da Habitação e Condomínios do Paraná (Secovi-PR).

Por um bom tempo fechado por causa da pandemia, o comércio central renovou as expectativas ainda em 2021, com o avanço da vacinação e o fim dos lockdowns. O reaquecimento do setor foi avaliado pelo Instituto Paranaense de Pesquisa e Desenvolvimento do Mercado Imobiliário e Condominial (Inpespar), que integra o Secovi-PR.

De acordo com o levantamento, o índice de Locação Sobre Oferta (LSO) em janeiro de 2022 foi de 4,4%, enquanto em janeiro de 2020 (antes da pandemia) ficou em 3,1%. A média anual do índice de locação também cresceu: 4,8% em 2020 e 5,9% em 2021.

As causas para o bom momento comercial são: a retomada total das atividades, após as restrições impostas pela pandemia, e a baixa inadimplência dos locatários. “O fato de não ter havido, nos últimos meses, bandeiras restritivas quanto ao funcionamento do varejo, indústrias e empresas em geral foi um impulsionador para a locação de imóveis comerciais na cidade. Agora, com o avanço da vacinação e a redução de casos graves de Covid-19, não devemos vivenciar mais medidas de lockdown, um indicativo de que o mercado seguirá aquecido”, diz Jean Michel Galiano, presidente do Inpespar e vice-presidente de Economia e Estatística do Secovi-PR.

Outro fator de otimismo no mercado é a baixa inadimplência nas locações, tanto de propriedades residenciais quanto comerciais. “Em janeiro deste ano, o atraso no pagamento acima de 30 dias foi de 1,1%, 0,3 pontos percentuais abaixo do que se teve em janeiro do ano passado e 0,6 pontos percentuais a menos do registrado no mesmo mês de 2020. Importante ressaltar que em todos os meses de 2021 a inadimplência dos locatários curitibanos ficou abaixo dos 2%”, acrescenta o vice-presidente de locação do Secovi-PR, Leonardo Baggio.