SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma cervejaria artesanal de Piracicaba, no interior de São Paulo, chegou a marca de 300 sócios e R$ 4,5 milhões de investimentos captados pela internet.

A empresa, chamada Leuven, fez três rodadas de financiamento coletivo a partir do site Kria, que vende participação em pequenas empresas que querem recursos para investir.

Com isso, se tornou a companhia com maior volume levantado a partir desse tipo de serviço no Brasil.

O recorde de maiores valores arrecadados em uma única captação ficam com as empresas Horus, de drones para aumentar a produtividade do agronegócio, e a Cervejaria 3 Cariocas. As duas empresas usaram o serviço da EqSeed para suas captações, de R$ 2 milhões cada.

No caso da Leuven, o dinheiro obtido vem sendo usado para a construção de uma nova fábrica para a empresa, a atualização de equipamentos e a criação de um bar.

Gustavo Barreira, 40, um dos sócios da cervejaria, diz que o financiamento coletivo permitiu à companhia criar um grupo de pessoas que defendem e ajudam a empresa.

Esses muitos investidores são chamados de “Knigts” (cavaleiros). A opção é explicada pela identidade visual da marca, que traz figuras medievais, como magos, dragões e reis em seus rótulos.

“A maior beleza da história do financiamento coletivo é que, em vez de trazer um único investidor, trazemos uma legião de embaixadores da marca. São pessoas que, onde quer que estejam, levam uma garrafinha nossa para mostrar”, diz.

A cervejaria foi fundada em 2010 e Gustavo se associou a ela com seu pai e sua esposa em 2014.

A primeira captação da empresa a partir da internet, feita no ano passado, levantou R$ 1,7 milhão de 109 investidores em oito dias.

Neste ano, foram mais duas chamadas, uma fechada para quem já era sócio e queria colocar mais recursos e outra para todos os interessados. Dali, a companhia obteve mais R$ 2,8 milhões e, na última delas, em setembro, cerca de 200 novos sócios em três dias.

Gustavo diz acreditar que o alto interesse vem, de um lado, do potencial do mercado cervejeiro e, de outro, do gosto dos investidores pelo produto.

“Cerveja é um mercado de paixão. Você está no almoço de domingo, tem uma garrafa em cima da mesa. É sinônimo de celebração, descontração, divertimento.”

Ele conta que os investidores da empresa podem participar de reuniões trimestrais onde são discutidos os rumos da companhia. Também têm desconto de 20% na compra de cervejas.

O retorno financeiro deles vem de duas formas. Eles têm direito a participação no lucro da companhia após quatro anos e podem ganhar conforme a empresa cresça e suas ações se valorizem.

Gustavo diz que, de um ano para cá, a empresa cresceu 50% e dobrou seu valor de mercado, se aproximando de R$ 15 milhões.

Os motivos que levaram investidores a apostar na empresa são variados.

Ingo Schmidt, 60, executivo do mercado de alimentação, diz acreditar que há potencial de crescimento no setor de cervejaria e que possui afinidade com ele: “Meu pai era mestre cervejeiro e meu filho trabalha com isso. Uni o útil ao agradável”.

Ele conta que não acompanha de perto os investimentos que faz em novas empresas, por falta de tempo. “Adoto política de seguir o líder. Quando vejo alguém conhecido que confio investindo, vou atrás. Mas, nesse caso, não tinha ninguém. Foi mais vontade minha mesmo.”

Perguntado pela reportagem se já tomou a cerveja deles, ou seja, da Leuven, ele faz questão de corrigir. “Tomo sempre a cerveja, que é nossa”.

No caso do consultor Thiago Salgado, 44, a afinidade com o produto foi menos importante do que a oportunidade de participar de um novo tipo de investimento, entender como ele funciona e fazer contatos.

“As reuniões e a comunidade que a gente faz parte garantem uma troca boa, temos grupo de WhatsApp que fala sobre o mercado. Se a empresa precisa de um distribuidor em uma nova região, em dois minutos alguém fornece um bom contato. É um exército de cavaleiros que participam como sócios, colocando energia e paixão”, diz.

Apesar do investimento de pessoas físicas em novas companhias estar muitas vezes associado ao mercado de startups, na prática, companhias de outros segmentos também têm se destacado nas captações via financiamento coletivo, diz Camila Nasser, cofundadora do Kria.

Segundo ela, além de olhar para potencial de retorno financeiro, investidores do site também estão interessados em causas nas quais acreditam e em produtos dos quais são fãs.

No Kria, entre as maiores captações estão as feitas pelo aplicativo para compra em praças de alimentação Onyo (R$ 1,45 milhão), a rede de clínicas especializada em idosos Mais 60 Saúde (R$ 1,2 milhão) e a marca de itens para gatos CatMyPet (R$ 784 mil, com captação ainda aberta).

Mesmo sem ser uma empresa de tecnologia, a Leuven experimenta algumas novidades. Possui aplicativo com recursos de realidade aumentada que permite ao consumidor interagir com o rótulo das cervejas. Ao focá-lo com a câmera do celular usando o aplicativo da empresa, as figuras medievais deles se movimentam na tela do aparelho.