SÃO PAULO, SP – Receitas caseiras para espantar o mosquito da dengue, como usar pó de café ou fazer misturas usando cravo ainda não têm grande respaldo científico, mas no armário de temperos pode sim haver um inseticida formidável: o açafrão.
Cientistas da USP de São Carlos e da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos) viram que a curcumina, molécula presente no tempero, prejudica o desenvolvimento das larvas de Aedes aegypti, o vetor da dengue, impedindo que cheguem à fase adulta.
A ideia dos pesquisadores é que em alguns locais onde se acumula água, como poças, pequenos lagos e até a água de beber do cachorro possam ser tratados com o produto. A curcumina também pode funcionar bem para evitar mosquitos em pratinhos de plantas. “Colocar água sanitária no prato as agride. Eu já testei”, afirma o cientista.
A água fica um pouco amarelada, mas a molécula se degrada e ela volta a ficar transparente, conta o professor. Isso é sinal de que a curcumina já perdeu sua eficácia, e que a aplicação tem de ser refeita. “Pode não ser a solução definitiva para todos os focos, mas nossa obrigação é tentar fazer algo”, diz Bagnato.
AÇÃO
A curcumina e algumas moléculas semelhantes a ela -os curcuminoides- fazem com que as larvas dos Aedes se tornem fotossensíveis e morram quando expostas à luz do sol, de lâmpadas fluorescentes ou de LEDs. Uma quantidade baixa (15 mg para cada litro de água) é capaz de praticamente liquidar larvas que estejam expostas ao sol.
“O surpreendente é que as pessoas vêm usando o açafrão [sem processamento químico] contra os mosquitos e o número deles diminui”, conta Bagnato.
A pesquisa está sendo feita no Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica, em São Carlos, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
O uso medicinal do açafrão e da curcumina não é novo. O tempero está inserido na cultura hindu como um remédio há milhares de anos e os cientistas já vêm testando a curcumina contra inflamações, cáries, neovascularização da córnea (aumento indesejado de vasos sanguíneos, que prejudica a visão) e câncer, por exemplo.
O próximo passo é o teste em grande escala em alguma cidade que esteja sofrendo com a dengue, diz o professor. Ele está à procura de parceiros nos setores público ou privado que queiram levar a ideia adiante.