BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou nesta segunda-feira (24) que há 99% de chance de a F-1 ser transferida de São Paulo para o Rio de Janeiro a partir de 2021.

Após reunião no Palácio do Planalto com o comando da categoria, o presidente disse que a transferência para o Rio é uma forma de o evento esportivo não deixar o país.

O contrato com São Paulo vence em 2020, e o diretor-geral da F-1, Chase Carey, tem negociado com os governadores Wilson Witzel (PSC-RJ) e João Doria (PSDB-SP).

“Nós não perderemos a Fórmula 1. O contrato vence no ano que vem, e eles resolveram realizá-la no Rio de Janeiro. Fora isso, seria a saída do Brasil. É praticamente 99% a chance de termos a Fórmula 1 a partir de 2021 no Rio de Janeiro”, disse Bolsonaro.

No pronunciamento, que teve a presença de Witzel, o presidente fez uma provocação a Doria, que tem insistido para que a F-1 permaneça em São Paulo e é considerado pré-candidato à sucessão presidencial em 2022.

“A imprensa diz que ele [Doria] será candidato a presidente em 2022. Então, tem que pensar no Brasil, e não no seu estado. Então, com toda a certeza, ele não vai se opor. Agora, se ele for candidato à reeleição, daí ele pode querer criar algum óbice ou oferecer algumas vantagens para que permaneça em São Paulo”, disse.

Doria tinha uma reunião agendada em São Paulo com os representantes da F-1 nesta segunda, mas ela acabou adiada por causa do encontro de Carey com Bolsonaro em Brasília. Na última quarta (19), presidente e governador estiveram juntos em evento na capital paulista. Na ocasião, fizeram flexões de braço com policiais.

Presente na entrevista, Carey admitiu a possibilidade de a competição esportiva ser transferida para o Rio, mas reforçou que ainda não foi tomada uma decisão.

“No momento, não temos nada fechado. Estamos ainda em negociações. Não queremos eliminar qualquer possibilidade e estamos negociando com Rio de Janeiro e com São Paulo, onde temos contrato até 2020”, disse.

Segundo ele, uma eventual mudança envolve a busca de um local que não sirva apenas como autódromo, mas também como um espaço para sediar eventos culturais.

“A decisão tem implicações públicas no Brasil, mas não é algo que seja determinante para nós, e pretendemos prosseguir as negociações em privado”, afirmou.

Ele ressaltou que tem a intenção de que o Brasil continue sediando a competição esportiva, uma vez que o país reúne milhares de torcedores e formou pilotos de importância mundial.

“Nós queremos transformar a Fórmula 1 em algo realmente monumental, que atraia uma torcida ainda maior do que já tem.”

O governador do Rio disse que a ideia é terminar a construção do Autódromo de Deodoro no ano que vem. O presidente ressaltou que ela não envolverá recursos federais.

A reportagem procurou as assessorias do governador João Doria e da Interpub, empresa que organiza o GP Brasil, mas não obteve posicionamento até a conclusão desta edição.

A reunião adiada do governador com Carey e Tamas Rohonyi, dono da Interpub e promotor do GP Brasil desde 1980, foi remarcada para esta terça (25), às 13h30, no Palácio dos Bandeirantes.

Em maio, Bolsonaro assinou um termo de cooperação com o objetivo de levar as provas de F-1 para o Rio, em um autódromo que ainda precisa ser construído.

No dia 20 daquele mês, o único grupo a mostrar interesse no negócio, o consórcio Rio Motorsports, foi anunciado pela prefeitura do Rio como vencedor da licitação para construção e operação por 35 anos do circuito.

A construção do autódromo está orçada em R$ 697 milhões e prevê uma pista de 5.835 m projetada pelo alemão Hermann Tilke, autor dos desenhos de circuitos como os de Xangai, na China, e Sepang, na Malásia. A capacidade de público será de 130 mil pessoas.

A concessionária diz que o prazo de construção pode chegar a 17 meses, mas que, “em um cenário otimista”, poderá reduzir para 14 meses.

A construção, porém, é contestada em aspectos ambientais, já que pode resultar na derrubada de 180 mil das 200 mil árvores da floresta do Camboatá. A área total da floresta é de 201 hectares. Destes, 169 comportam vegetação arbórea, segundo relatório realizado pela Diretoria de Pesquisas Científicas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro a pedido do Ministério Público Federal (MPF).

Doria e o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), também têm se articulado para que a cidade não perca um dos seus eventos mais atrativos comercialmente.

O governador disse que, no ano passado, os três dias de GP em Interlagos geraram 10 mil empregos e que cada turista gastou, em média, R$ 3.000 no fim de semana de provas.

“Os hotéis registraram 97% de ocupação, e o público é composto por 77% de turistas dos países vizinhos, da Europa, África do Sul”, afirmou.

Segundo a SPTuris, a última corrida movimentou R$ 334 milhões com o turismo, crescimento de 19,2% frente ao registrado em 2017. O valor é superior ao Carnaval, com R$ 220 milhões, e a Parada do Orgulho LGBT, com R$ 288 milhões.

Levantamento do jornal Folha de S.Paulo, com base em informações de contratos publicados no Diário Oficial e em jornais da época, mostrou que o autódromo de Interlagos recebeu investimento público de ao menos R$ 830 milhões (em valores corrigidos pela inflação) ao longo dos últimos 29 anos em que sediou o GP Brasil.