Valquir Aureliano

A crise provocada pelo novo coronavírus e a decorrente necessidade de isolamento social têm alterado a rotina dos brasileiros e com a Páscoa a situação não será diferente. Geralmente uma época marcada por confraternizações entre familiares e amigos, troca de presentes, refeições fartas e muito chocolate, neste ano a data, que marca a Ressurreição de Jesus Cristo, será mais ‘magra’ e solitária, apresentando uma versão que podemos chamar de “PaD” (Páscoa à Distância).

Aos 77 anos, a benzedeira Diamantina Francisca Mendes Calintro conta que nunca imaginou passar por um momento como esse. A Páscoa costuma ser a segunda maior confraternização familiar, atrás apenas do Natal. Por estar num grupo de risco, porém, está tendo de redobrar os cuidados e ficar mais distante dos familiares, que vê apenas do outro lado do portão de sua casa, a uma distância segura. Cenário que deve se repetir no domingo.

“Eles [os parentes] vêm, mas no portão, dão um oi, conversam de longe e vão embora. Dá saudade, a gente está sempre junto, mas o que vamos fazer… Toda a vida passamos juntos, mas agora vou ficar mais quietinha em casa”, diz Dona Diamantina. “A gente sempre faz uma surpresinha [para os netos e bisnetos], levava uma cestinha, mas agora não podemos nem sair de casa…”, comenta, lamentando que não poderá presentear seus entes queridos.

Ivane dos Santos, que tem 53 anos, também lamenta a distância imposta pela crise do coronavírus. O que mais faz falta, diz ela, é a presença dos netos. “Eles ficavam direto comigo. Minha menina saía e deixava eles comigo. Agora não ficam mais quase, para evitar, não ter contato”.

As festas de Páscoa, relata, reunia todas as gerações das famílias Calintro e dos Santos – ela é filha de Dona Diamantina. Desta vez, porém, será cada um em sua casa mesmo. “Esse ano não vai dar para fazer… Acho que vamos levar eles [netos e bisnetos] para ver a Dona Diamantina no portão, mostrar ela e ela poder ver eles.”

Dona de um comércio, ela também conta que a Páscoa será mais econômica do que em outros anos, já que o estabelecimento do qual é dona sofreu uma queda de 40% no faturamento. “Vai ser bem mais econômica. Nem preparamos nada. Sempre damos chocolate para as crianças, mas desta vez não vimos nada, nem pesquisamos para saber o que fazer.”

Vendas de chocolate e pescados devem ter quedas acentuadas

Com tantas restrições às celebrações familiares, setores da economia que costumavam ter na Páscoa uma das principais datas do ano também estão sofrendo. É o caso, como mostrou na última semana o Bem Paraná, das lojas de chocolate e das peixarias, que chegaram a se preparar esperando uma temporada boa de vendas, mas acabaram surpreendidas negativamente pelo impacto provocado pela chegada do novo coronavírus.

“A expectativa era imensa e agora vamos perder essa data de Páscoa. Além de impactar pela loja estar fechada, ainda tivemos de fechar num período ruim”, conta a empresária Scheila Costa, proprietária da Casa da Bruxa do ParkShopping Barigui.

Além do impacto nas vendas, a situação atual também impôs adaptações nas tradições. Em vez de entregar pessoalmente os presentes, a opção tem sido pelo delivery dos mimos ou mesmo por deixar o presente na caixa do correio para que os filhos busquem e levem aos netos. “Vemos um sentimento de cooperação, de entendimento, de cuidado, mas também de tristeza, porque é um momento que a família participava junto. Estão tendo de se adaptar, manter a tradição, mas cada um na sua casa”, diz Selma Fuhrmann, da Fábrica de Chocolates Dfuhrmann.

Já nas peixarias, o relato é de que o movimento está normal, como se esta fosse uma semana comum, como outra qualquer. A procura por camarões grandes e bacalhau, produtos típicos da Páscoa, está baixa, entretanto. “A expectativa era boa, de uns dois anos para cá vinha aumentando um pouco a cada ano, mas assim que isso aconteceu [crise do coronavírus], já caiu, porque não vai tr reunião familiar, no máximo pai e mãe em casa”, diz Juarez Gerhardt, do Pescados Tatiana.